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Retração de ações de bancos antecipa PIB fraco em 2022, dizem analistas

Os lucros dos grandes bancos brasileiros devem superar ou chegar próximo, em 2021, dos patamares de 2019, ano anterior à pandemia. As cotações de seus papéis na B3, entretanto, não refletem essa expectativa. O Índice Financeiro da Bolsa, que compila esses e outros ativos do setor, tinha queda próxima a 22% no ano até a última sexta-feira, 24. Segundo analistas, o mercado projeta no setor as expectativas pouco animadoras para a economia brasileira no ano que vem.

A base de comparação é alta. No final de 2019, o Índice Bovespa renovava sucessivas máximas históricas e os bancos, de forte peso no índice, também estavam próximos de suas maiores avaliações de mercado. Veio a pandemia e tudo caiu. Depois do baque, o índice chegou a tocar novas máximas entre o final de 2020 e o começo deste ano. Nas ações de bancos, isso não ocorreu.

O lucro de um grande banco é a soma de muitos produtos – como ressaltou, na divulgação de resultados do terceiro trimestre, o presidente do Itaú, Milton Maluhy. Sua maior alavanca, porém, é a concessão de crédito, cujo ritmo está intrinsecamente relacionado à demanda da economia do País. Neste ano, essa lógica se traduziu em forte expansão das carteiras de crédito. No próximo, há dúvidas sobre a repetição do movimento.

“De certa forma, o desempenho das ações reflete isso. A parte da demanda (na economia) é muito dependente de crédito”, afirma Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos. Ele diz que a alta da taxa Selic é o principal freio: como torna o dinheiro mais caro, inibe o apetite por crédito.

Os bancos já trabalham com essa expectativa. Sérgio Rial, presidente do Santander, e que deixa o cargo na virada do ano, disse em outubro que é natural que as concessões de crédito para pessoas físicas tenham menor ímpeto em 2022. “Vamos fechar o terceiro trimestre muito acima de 20% de crescimento na pessoa física, e esse crescimento deve desacelerar em 2022, é natural.”

Carlos Macedo, analista associado à Ohmresearch, afirma que a alta dos juros tradicionalmente eleva os spreads (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados no crédito) dos bancos. Ele ressalva que, em cenários como o atual, essa elevação não compensaria o efeito de uma Selic mais alta para a Bolsa e para o PIB. “Embora os bancos geralmente lucrem com juros mais altos, isso desestimula os investidores a colocarem dinheiro em Bolsa, e reflete uma expectativa pior para a economia. E o risco-país também subiu.”

Além disso, o cenário concorrencial deve continuar mais acirrado, mesmo com a economia mais fraca. Simbolizado pela oferta de ações do Nubank, que captou o equivalente a R$ 14,4 bilhões, o crescimento das fintechs, aliado ao choque de alta da Selic neste ano, fez com que a rentabilidade do setor ainda continuasse abaixo da observada em 2019 em três dos cinco grandes bancos brasileiros.

Calote

A inadimplência é um temor renovado há alguns trimestres. No ano passado, os bancos se prepararam para uma onda de calotes que não veio, graças aos programas de auxílio do governo e à reprogramação dos empréstimos pelas instituições. Segundo a Febraban, o saldo devedor renegociado chegou a R$ 1 trilhão de março a dezembro do ano passado.

Neste ano, os bancos mantiveram as provisões, com variados graus de conservadorismo: a Caixa manteve R$ 2 separados para cada R$ 1 em atraso, enquanto Bradesco e Banco do Brasil, por exemplo, ficaram próximos ou acima dos R$ 3 para cada R$ 1 vencidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Matheus Piovesana

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Estadão Conteúdo

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