Mercados

Risco fiscal limita recuperação do Ibovespa em dia de forte alta em NY

Após a queda de 2,03% na segunda-feira, 20, auge da aversão ao risco provocada pelo avanço da variante ômicron do coronavírus, o Ibovespa ensaiou uma recuperação na sessão desta terça-feira, 21, chegando a flertar com a linha dos 106 mil pontos pela manhã. Embora alinhado ao movimento externo positivo, o principal índice da B3 não conseguiu acompanhar o ritmo das bolsas em Nova York, que registraram alta superior a 1,5%, sendo que Nasdaq subiu mais de 2%.

Por aqui, o Ibovespa fechou aos 105.499,88 pontos, valorização de 0,46%, após correr entre mínima aos 105.019,78 pontos e máxima aos 105.905,69 pontos, com giro reduzido, na casa de R$ 22 bilhões. A despeito da reação nesta terça, o índice ainda amarga perda de 1,59% na semana. Em dezembro, mês sempre marcado pela esperança de valorização expressiva com o típico rali de fim de ano, a alta é de apenas 3,52%.

Profissionais ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) atribuem o fôlego reduzido do mercado local a preocupações com os rumos fiscais do País na véspera de ano eleitoral, que se materializam nas disputas em torno do Orçamento de 2022, cujo texto-base foi aprovado no fim da tarde desta terça pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso.

“O mercado aqui está anêmico, com pouca liquidez, e sem conseguir surfar a onda positiva lá fora, em que vemos uma reversão das perdas de ontem”, afirma Thomas Giubert, sócio da Golden Investimentos, destacando o impacto positivo da notícia de eficácia de vacina da Moderna, em terceira dose, contra a Ômicron. “Ontem, com muitos países da Europa elevando restrições, tivemos aquela narrativa de receio com as cadeias de produção, o que poderia levar a mais inflação e a juros maiores em 2022”.

“O mercado passou o dia esperando a votação do Orçamento no Congresso, com volume fraco de fim de ano”, afirma Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa de institucional da Renascença, para quem o Ibovespa deve fechar o ano ao redor dos 105 mil pontos. “Não devemos ter muita novidade daqui para a frente. Mas vai ter uma volatilidade no ano que vem em função das pesquisa eleitorais.”

A CMO aprovou o relatório do Orçamento de 2022 graças a um acordo costurado com o Centrão para preservar o máximo possível a verba para o fundo eleitoral, que foi reduzida timidamente, passando dos R$ 5,1 bilhões previstos para R$ 4,9 bilhões – 144% maior do que o valor destinado em 2020. Foi incluída na proposta a previsão de R$ 2 bilhões para reajuste salarial a policiais federais, uma demanda do presidente Jair Bolsonaro.

O relator-geral da proposta, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), destacou que a peça reserva R$ 130 bilhões para programas sociais entre Auxílio Brasil e outros benefícios. Em relação ao chamado orçamento secreto, a CMO carimbou um total de R$ 16,5 bilhões em emendas para 2022. Esse tipo de recurso poderá ser distribuído sem critérios claros de destinação ou transparência sobre os parlamentares beneficiados.

Além das incertezas fiscais avalia-se que a fraqueza da economia brasileira, que pode enfrentar uma recessão em 2022, a inflação ainda elevada e o aperto monetário em curso impedem que o Ibovespa ganhe mais impulso em momentos de alívio no exterior. Não por acaso, as ações de varejistas e incorporadoras figuraram em diversos momentos do dia entre as maiores quedas da carteira teórica.

O sinal positivo do índice nesta terça foi garantido basicamente pelo setor de commodities, com alta das ações de siderúrgicas e da Vale (refletindo a valorização de 2,59% do minério de ferro no porto chinês de Qingdao). A mineradora vendeu uma mina de carvão de Moatize por US$ 270 milhões para a Vulcan, o que foi bem recebido pelo mercado. As ações da Petrobras desaceleraram a alta ao longo do pregão, a despeito de as cotações do petróleo terem subido mais de 3% no mercado internacional.

As empresas do setor aéreo se recuperaram nesta terça-feira, após o tombo de segunda, em sintonia com o movimento de seus pares no exterior. Azul PN fechou em alta de 7,87% – a segunda maior valorização do dia – e GOL PN subiu 5,11%. Já a operadora de turismo CVC, que apresentou na segunda a maior queda do índice (-8,76%), avançou de 2,16%. Entre as blue chips, os bancos tiveram desempenho misto. Bradesco ON caiu 0,47%, enquanto Itaú PN exibiu alta modesta (+0,14%).

A ação que mais subiu no dia foi a ON da Embraer, que fechou com alta de 16,02%, após a companhia anunciar que suas subsidiárias Eve e Embraer Aircraft Holding (EAH) celebraram acordo de combinação de negócios com a Zanite Acquisition. Após a conclusão da transação, a Zanite mudará seu nome para Eve Holding, Inc. e será listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

“O dia foi de ganhos moderados do Ibovespa apesar de notícias positivas no âmbito corporativo. A incerteza fiscal trazida pela votação do orçamento acabou penalizando um pouco a bolsa”, afirma Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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