Em 2021, o mercado de crédito privado brasileiro foi marcado por um volume recorde de emissões domésticas de debêntures, bem como por uma forte captação nos fundos de crédito privado. Segundo dados disponibilizados pela Anbima até novembro deste ano, foram emitidos R$ 219,3 bilhões de debêntures em 2021, volume muito superior aos R$ 93,5 bilhões de 2020. A dinâmica positiva no número de emissões encontrou também uma forte demanda por parte dos investidores para essa classe de ativos. Reflexo dessa maior demanda foi o volume captado por fundos de Renda Fixa (ex-Soberano), de R$ 166,6 bilhões até novembro.
O ano de 2020 foi difícil para esse mercado com a pandemia gerando dúvidas sobre a capacidade de pagamento das empresas e os saques de fundos de investimento que pressionaram o preço das debêntures além do “racional”. Não havia liquidez para absorver toda a pressão de venda, mas os títulos de empresas de maior qualidade, chamados de high grade, tinham mais demanda e acabaram sofrendo quedas maiores de preços.
Já este ano, houve uma evolução no mercado secundário de crédito privado, com aumento tanto no número de negócios e no volume financeiro negociado, quanto de participantes, criando um mercado de renda fixa mais líquido. Assim os gestores puderam atuar mais ativamente na gestão dos seus fundos.
Ainda sobre o mercado secundário, vale destacar também o fechamento dos spreads dos ativos ao longo do ano, saindo de um patamar de aproximadamente 2,5% para 1,8% ao ano sobre o CDI, o que contribuiu fortemente para a rentabilidade dos fundos que investem em debêntures. Por mais que ainda existam oportunidades pontuais em determinados emissores e setores, os spreads no secundário como um todo parecem ter atingido uma certa estabilidade nos últimos meses.
A queda nos spreads nos títulos privados ocorreu ao mesmo tempo que um movimento importante na curva de juros soberano. A queda da taxa de juros de curto prazo, a Selic para 2% ao ano nunca foi concebida para prevalecer por muito tempo. Os juros futuros de maior prazo, que sempre tem prêmios de risco atrelados, consideravam no longo prazo a taxa de juros em 6% ao ano. Principalmente a partir da metade do ano, a escalada mais forte do que o esperado da inflação, que deve atingir 10% este ano e a sucessão de notícias ruins na esfera fiscal (mesmo considerando os bons resultados de curto prazo das contas públicas) levaram a um aumento brutal das expectativas de juros. Para 3 anos, a taxa passou de próxima a 4% para quase 12% no pior momento e hoje quase toda a curva precifica juros acima de 10% no futuro.
As empresas saíram da crise econômica gerada pelo Covid em uma situação financeira melhor do que o esperado, com redução de alavancagem, melhora da liquidez e alongamento do perfil da dívida. Estes fatores contribuíram para 72 upgrades de nota de rating das principais agências de classificação de risco. Essa recuperação foi reflexo do volume de recursos públicos injetados na economia, principalmente, via auxílio direto às famílias e programas creditícios.
Diferentemente das emissões realizadas em 2020, cuja destinação de recursos era sobretudo para reforço de caixa e capital de giro, este ano, com a redução de incertezas, as companhias começaram a captar para realizar os planos de expansão e investimentos para médio e longo prazo. Com isso, as novas emissões de debêntures apresentaram um perfil de vencimento mais alongado, chegando a uma média de 5,5 anos versus 4,0 anos em 2020.
Em resumo, 2021 foi um ano de recuperação para o mercado de crédito privado em todos os aspectos. Com número e volume recordes de emissões realizadas, forte captação nos fundos deste tipo, recuperação dos spreads dos ativos, novos emissores, e uma maior liquidez no mercado secundário, essa classe de ativo se posiciona como uma ótima opção para o atual momento de elevação dos juros e incertezas fiscais.
Evandro Buccini
Sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos
Alex Hirai
Gestor de fundos de Crédito da Rio Bravo Investimentos
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