por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com – O anúncio da aprovação do aumento de capital da BRF (SA:BRFS3) pelo Conselho da empresa, na noite de quinta-feira (17), é uma surpresa, segundo o BTG Pactual (SA:BPAC11). Na visão do banco, as ações da BRF são negociadas em um nível historicamente deprimido, o que poderia significar que há um plano maior do que o divulgado até então.
O banco de investimentos acredita que essa estratégia é uma forma de atender à necessidade da BRF de se desalavancar e, ao mesmo tempo, permitir que a Marfrig (SA:MRFG3) exerça maior controle sobre a BRF, ainda mais no caso de uma futura fusão.
O plano da BRF é emitir 325 milhões de novas ações ordinárias, o que pode levantar até R$ 6,63 bilhões. O objetivo é reforçar a sua estrutura de capital para expandir suas atividades e realizar investimentos estratégicos.
O BTG enxerga nessa atitude uma possibilidade para que a Marfrig compre mais ações da empresa. Atualmente a Marfrig detém uma participação de 33,2% da BRF.
De acordo com o estatuto social da BRF, qualquer acionista que ultrapassar uma participação de 33,33% na empresa deve lançar uma oferta pública para a compra de todas as ações restantes com um prêmio de 40% sobre o preço médio das ações dos 30 ou 120 dias anteriores, o que for mais alto. O BTG estima que isso significaria um preço de R$ 33,60 por ação, quase 65% acima do preço de mercado.
A Marfrig tem um histórico agressivo de aquisições, mas o BTG não acredita que a empresa pagaria R$ 18 bilhões aos minoritários para conseguir o controle da BRF por meio da oferta pública.
Mas, se a Marfrig adquirir as ações que serão disponibilizadas no aumento de capital, ela teria 52% da BRF e pagaria algo em torno dos R$ 2,2 bilhões por isso, segundo o Bank of America (BofA), um valor bem abaixo do que seria necessário para fazer a compra dos minoritários com o prêmio de 40%, pois o estatuto social permite um acionista minoritário a assumir mais de 33,33% de participação da acionária da empresa caso a posição seja atingida por um processo de aumento de capital.
O BTG defende que a BRF adote uma postura mais agressiva para lidar com o seu endividamento, que passou de R$ 5 bilhões em 2014 para R$ 16,7 bilhões no 3T21, enquanto o Ebitda passou de R$ 4,7 bilhões para R4 5,25 bilhões. O índice de alavancagem subiu de 1,1x para 3,8x entre 2014 e 3T21.
O Goldman Sachs (NYSE:GS) estima que, com uma conclusão bem-sucedida da oferta potencial, a alavancagem poderia passar para uma posição de dívida líquida de 1,81x o Ebitda.
Se o valor levantado no aumento de capital for utilizado para reduzir a dívida líquida, isso significaria que o lucro por ação da BRF em 2022 subiria de R$ 0,76 para R$ 0,98, segundo a análise do BTG, e o P/2022E cairia de 27x para 21x.
Isso é interessante para um negócio cíclico, mas muito mais palatável para uma empresa ávida por expandir o negócio. O BTG também não descarta que o aumento de capital aconteça por um preço mais alto, o que melhoraria ainda mais o cenário.
O Goldman Sachs tem uma leitura neutra sobre as ações da BRF e recomenda um preço-alvo de R$ 24,70 nos próximos 12 meses. O BofA também tem uma indicação neutra sobre a BRF, com preço-alvo em R$ 27, enquanto para a Marfrig, a recomendação é de compra, com preço-alvo a R$ 34.
Às 14h27, as ações da BRF disparavam 5,78%, a R$ 21,58, enquanto os da Marfrig subiam 4,49%, a R$ 23,96, em uma sessão marcada por aversão a risco nos mercados globais (Ibovespa em queda de 0,88%).
Matéria originalmente publicada em Investing.com
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