Mercados

Com exterior negativo e remessas, dólar sobe 1,07% mesmo com atuação do BC

O dólar inicia a semana em alta firme, acima do patamar de R$ 5,65, insuflado pelo fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio à expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve, na quarta-feira (15), e à pressão de remessas sazonais de recursos e busca por proteção (hedge) no mercado futuro.

Após vender US$ 687 milhões à vista na sexta-feira, o Banco Central interveio novamente no mercado hoje. Em leilão no início da tarde, quando o dólar renovava máximas, o BC aceitou cinco propostas e vendeu US$ 905 milhões, com taxa de corte de R$ 5,6415.

A atuação da autoridade monetária provocou um alívio temporário da pressão altista e levou o dólar a ser negociado momentaneamente abaixo da linha de R$ 5,65. Ao longo da tarde, contudo, a moeda americana voltou a acelerar, marcando alta superior a 1%. Na

Com mínima a R$ 5,6015 e máxima a R$ 5,6787, o dólar à vista encerrou a sessão a R$ 5,6741, avanço de 1,07%. Na B3, o dólar futuro para janeiro subiu 1,05%, a R$ 5,7005, com giro de US$ 12,4 bilhões.

No exterior, a moeda americana ganhou força em relação às principais divisas emergentes e de exportadores de commodities, embora o real tenha apanhado mais. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em alta durante todo o pregão, tendo tocado na casa de 96,400 pontos na máxima do dia. A moeda americana sobe em relação ao euro e a libra, diante da expectativa de que o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, que também se reúnem esta semana, adotem um tom mais ameno que o BC americano, em razão das incertezas sobre o impacto da variante ômicron do coronavírus na região.

Já está na conta que o Fed vai acelerar o ritmo de redução das compras mensais de bônus (tapering), dados os sinais recentes do presidente do BC americano, Jerome Powell. É grande a expectativa pelas projeções dos integrantes do Fed para indicadores econômicos e, em especial, para a trajetória da taxa de juros entre 2022 e 2024. Pode se consolidar a aposta em alta dos juros nos EUA já no primeiro semestre de 2022 – o que tende a tirar atratividade de ativos emergentes, como real.

Operadores observam que, além do fortalecimento global do dólar, a moeda brasileira sofre com o fluxo de saída típica de fim de ano, dada a remessa de lucros e dividendos. Estaria previsto para esta semana pagamento de dividendos a detentores de ADRs da Petrobras e de juros de bônus perpétuos do Banco do Brasil.

“Mais do que saídas identificamos compras no futuro para hedge de passivos e compromissos futuros. Está tudo associado à perspectiva de que o Fed possa anunciar, na quarta-feira, a aceleração nas reduções das compras de ativos”, afirma Ricardo Gomes Silva, diretor da corretora Correparti, que vê a possibilidade de o dólar voltar ao patamar de R$ 5,70 ao longo da semana. “O BC já mostrou desconforto e certamente vai continuar injetando liquidez via leilões para evitar o descontrole.”

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressalta, em relatório, que um “desfecho mais precoce do tapering permitirá uma antecipação do início da alta de juros nos Estados Unidos”, que deve ocorrer em maio de 2022. Damico observa que o desempenho pior do real em relação a seus pares está possivelmente atrelado a “alguma concentração de saída de fluxo no spot”, dado que o BC tem atuado para prover liquidez. Além da pressão sazonal típica de remessas em dezembro, a economista ressalta que o real sofre com a postura dos exportadores, que continuam a deixar recursos no exterior. “É totalmente dentro da lei, porém acaba gerando menor entrada de divisas no curto prazo”, afirma.

Por aqui, a expectativa é em torno da divulgação, amanhã, ata da reunião da semana passada do Copom, em que a taxa Selic foi elevada em 1,50 ponto porcentual, para 9,25% ao ano. Embora o comunicado do comitê tenha sinalizado com manutenção do ritmo de aperto, uma ala do mercado pondera que a ata pode trazer um tom menos duro que o comunicado, abrindo espaço para uma alta menor da Selic em fevereiro, diante da desaceleração da atividade. Essa aposta pode ser reforçada em caso de decepção de dados do setor de serviços amanhã e do IBC-Br, na quarta-feira.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o contágio do dólar forte no exterior, os fluxos de recursos e a perspectiva de taxa Selic menor no fim do ciclo devem “sancionar” uma taxa de câmbio acima de R$ 5,61 e podem levar o dólar até a retomar um canal de alta na direção de R$ 5,70.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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