Mercados

Dólar sobe 0,72% mesmo com intervenção do BC, mas recua 1,16% na semana

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 10, em alta firme e acima da linha de R$ 5,60, em meio à pressão de saída de recursos – que motivaram intervenção do Banco Central com leilão de venda à vista – e a ajustes de expectativas em torno da trajetória das políticas monetária aqui e lá fora, na esteira de divulgação do IPCA e do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos.

Por aqui, o IPCA trouxe uma surpresa positiva, ao marcar alta de 0,95% em novembro, abaixo das expectativas (1,10% pela mediana de Projeções Broadcast). O arrefecimento da inflação fez balançar as apostas de que o Banco Central mantenha o ritmo de aperto monetário, com nova alta da taxa Selic em 1,5 ponto porcentual em fevereiro, reforçadas após o comunicado duro do Comitê de Política Monetária nesta semana.

Nos Estados Unidos, o CPI de novembro subiu 0,8% em outubro, ligeiramente acima do esperado (0,7%). O núcleo do indicador, que expurga itens mais voláteis (como energia e alimentos), avançou 0,5%, conforme previsto. Embora em linha com as expectativas, o CPI apresenta o maior nível em 40 anos – o que alimenta as expectativas de que o Federal Reserve anuncie na semana que vem uma aceleração do ritmo de redução de estímulos (tapering) e acene com alta de juros já no primeiro semestre de 2022.

A possibilidade de enxugamento da liquidez e de juros maiores nos EUA provoca uma mudança de relação entre risco e retorno que é desfavorável a divisas emergentes. Nessa conjuntura, mesmo com as altas recentes da taxa Selic – e as que podem estar por vir -, o real perde um pouco do seu apelo.

“O mercado já se prepara para os comunicados dos bancos centrais dos países desenvolvidos na próxima semana. Não tenho dúvida de que sinalizarão um aperto monetário”, afirma Ricardo Gomes da Silva, diretor da corretora Correparti, ressaltando que, além do Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra vão anunciar duas decisões de política monetária na próxima semana.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisa fortes – acabou exibindo leve queda, embora ainda acima dos 96,000 pontos. Em relação a moedas emergentes de exportadores de commodities, o comportamento foi misto.

Além da perspectiva de redução da liquidez global, pesa também contra a moeda brasileira neste fim de ano a pressão por remessas de divisas e resquício da demanda ligada ao overhedge dos bancos, apesar das atuações do Banco Central. Hoje, como programado, o BC vendeu US$ 750 milhões em contratos de swap cambial tradicional para rolagem dos vencimentos programados para fevereiro.

A surpresa veio com a realização, no fim da manhã, de um leilão de oferta de dólares à vista, que resultou em venda de US$ 687 milhões, com taxa de corte de R$ 5,880. A última vez que o BC havia vendido dólar spot havia sido em 19 de outubro.

Nas mesas de operação, comenta-se que houve demanda forte por players específicos e que o BC, seguindo sua cartilha, proveu liquidez para evitar a disfuncionalidade no mercado cambial. O fato é que a ação do BC ajudou a arrefecer a alta da moeda americana, que pouco antes havia corrido até a casa de R$ 5,63, ao registrar máxima a R$ 5,6355 (+1,11).

Ao longo da tarde, o dólar até chegou a furar novamente o piso de R$ 5,60, mas recuperou fôlego e no fim do dia era cotado a R$ 5,6140, em alta de 0,72%. Apesar de ter avançado ontem e hoje, a moeda encerra esta semana com desvalorização de 1,16%, atribuída em parte à diminuição do risco fiscal, após a aprovação parcial da PEC dos Precatórios. No acumulado do mês, o dólar também cede, mas em menor magnitude (0,38%).

“Houve um fluxo de saída forte no mercado local que acabou pesando na moeda em um dia de liquidez relativamente comprometida”, afirma o líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice, André Rolha, ressaltando que a pressão de alta foi “relativamente controlada” pela intervenção do Banco Central com venda de dólares à vista. “O real teve a pior performance entre os emergentes em função não só do cenário externo, mas muito em razão de fluxo de saída. E sexta-feira é um dia típico de busca de proteção, com compra de mais dólares”.

Em relatório divulgado hoje, o Bradesco vê o real pressionado ao longo do próximo ano, por conta das eleições presidenciais e do provável aperto monetário nos Estados Unidos. “A alta de juros do Fed deve manter a moeda pressionada, mesmo em um ambiente de maior diferencial de juros a favor do Brasil”, afirma o Bradesco, que prevê dólar a R$ 5,70 no fim de 2022.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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