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Dólar inicia semana em alta de olho em próximos passos do Fed

Em um pregão de liquidez reduzida e certa instabilidade, sobretudo pela manhã, o dólar subiu mais um degrau, flertando novamente com o nível de R$ 5,70. Segundo operadores, o fortalecimento da moeda americana frente seus pares – ainda na esteira da expectativa de que o Federal Reserve acelere a retirada de estímulos monetários – e a pressão de remessas de fim de ano impedem uma apreciação do real, a despeito da perspectiva de que o Banco Central aumente a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 9,25%, nesta semana.

Também contribui para a postura defensiva dos agentes a contínua deterioração das expectativas para a economia brasileira e certa cautela em torno da questão fiscal, à espera da promulgação da PEC dos Precatórios. Enquanto o Ibovespa se beneficia do apetite por risco no exterior com a diminuição das preocupações com a variante Ômicron e recupera terreno por oferecer preços convidativos, o real não parece oferecer uma relação entre risco e retorno atraente no curto prazo.

Com mínima a R$ 5,6380 e máxima R$ 5,7020, o dólar à vista fechou em leve alta de 0,18%, a R$ 5,6903, depois de ter encerrado a semana passada com valorização de 1,50%. Na B3, o dólar futuro para janeiro subiu 0,68%, a R$ 5,7250, com giro bem reduzido, na casa de US$ 8,8 bilhões.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou em alta durante todo o pregão, acima dos 96,300 pontos, com a moeda americana ganhando mais espaço em relação ao euro e ao iene. Em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, o comportamento foi misto, com alta frente ao real e ao rublo e queda na comparação com o peso mexicano e o rand sul-africano.

Operadores afirmam que ainda ecoam no mercado as declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, dando conta de que o BC americano vai discutir em sua próxima reunião a possibilidade de acelerar a redução dos estímulos (tapering) – o que abre a porta para uma alta dos juros no EUA ainda no primeiro semestre de 2022. O comitê de política monetária do Fed anuncia sua decisão na quarta-feira da semana que vem, dia 15. Nesta sexta-feira (10), sai o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de novembro, que deve esquentar ainda mais a temperatura.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que os dados fracos do relatório de emprego (payroll) de novembro revelados na sexta-feira, com geração líquida de 210 mil vagas (ante previsão de 573 mil), não abalou a expectativa de aceleração do tapering e antecipação da alta de juros nos EUA. “É mais relevante para o Fed o aumento de 4,8% no rendimento/hora dos últimos doze meses e o recuo do desemprego para 4,2%, inclusive inferior à taxa neutra”, afirma Velho, que estima no mínimo duas altas na taxa de juros dos EUA em 2022, para a faixa entre 0,50% e 0,75%.

Por aqui, Velho nota que, apesar do fluxo pontual de investidores estrangeiros para a Bolsa beneficiar pontualmente o real, há sinais de deterioração, embora moderada, das expectativas para a taxa de câmbio, como revela o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira.

A mediana das projeções do Focus para a taxa de câmbio no fim deste ano subiu de R$ 5,50 para R$ 5,56. A pesquisa revelou que continua em curso a piora das expectativas de inflação para este ano (de 10,15% para 10,18%) e para 2022 (de 5,00% para 5,02%). Já a expectativa de crescimento do PIB em 2022 caiu de 0,58% para 0,51%, segundo a mediana.

O head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti, não vê espaço para uma rodada de apreciação do real mesmo com o Banco Central dando prosseguimento ao aperto monetário. Fatores técnicos locais, como remessas típicas de fim de ano e a compra de dólares dos bancos por causa do overhedge, mantêm o real vulnerável. Hoje pela manhã, o BC vendeu 14 mil contratos de swap cambial (US$ 700 milhões) para suprir a demanda provocada pelo overhedge.

“A taxa de juros poderia ajudar mais, atraindo investidores. Mas o risco Brasil ainda é muito elevado e não acredito em uma entrada mais forte de recursos”, diz Moretti, acrescentando que, com a inflação nos Estados Unidos nos maiores níveis em 40 anos, o Fed terá de retirar mais rápido os estímulos e antecipar a alta de juros. “Eu vejo uma séria tendência de alta para o dólar, embora não acredite que a taxa vá ultrapassar a resistência de R$ 5,75 ainda neste ano”, afirma.

No front doméstico, o mercado ainda monitora as negociações em torno da promulgação da PEC dos Precatórios, aprovada na semana passada no Senado, mas com alterações em relação ao texto que saiu da Câmara.

Segundo apuração do Broadcast, senadores estariam pressionando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a não aceitar a aprovação fatiada da proposta e a forçar uma votação rápida na Câmara vinculando o espaço fiscal aberto pela medida em 2022. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por outro lado, quer adotar uma manobra para fatiar a promulgação garantindo a folga R$ 106,1 bilhões em 2022 sem a vinculação.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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