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Nubank reduz preço de ação para viabilizar abertura de capital em NY

Nem o celebrado Nubank conseguiu sobreviver à desconfiança do mercado financeiro em relação ao Brasil e às fintechs. O banco digital brasileiro teve de reduzir o preço-alvo de suas ações de um intervalo entre US$ 10 e US$ 11 para algo entre US$ 8 e US$ 9, na tentativa de viabilizar sua abertura de capital na semana que vem, na Bolsa de Nova York (Nyse).

A fintech, fundada em 2013 pelo colombiano David Vélez, a brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible, agora prevê arrecadar US$ 2,8 bilhões com sua estreia na Nyse (haverá, simultaneamente, papéis negociados também na B3, a Bolsa paulista, direcionada especialmente a clientes pessoa física do banco). Anteriormente, a ideia do Nubank era arrecadar até US$ 4 bilhões.

O banco também anunciou, ontem, que fundos de investimento já concordaram em ancorar a operação, com uma demanda de US$ 1,3 bilhão. Essa busca por investidores “âncora” para garantir a viabilidade do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) já vinha sendo ventilada ao mercado financeiro desde a semana passada, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

A avaliação do Nubank já vinha sendo questionada por analistas de mercado. Os executivos ambicionavam que o banco digital fosse avaliado em US$ 70 bilhões, mais que Bradesco e Itaú Unibanco somados. O valor depois foi reduzido a cerca de US$ 50 bilhões. Agora, segundo informações de mercado, o valor total da instituição deve ficar em cerca de US$ 41,7 bilhões.

CONTEXTO RUIM

Desde que a oferta foi oficialmente lançada, as condições de mercado ficaram consideravelmente menos favoráveis para fintechs e empresas de tecnologia. No período, a indiana Paytm captou US$ 2,5 bilhões, em uma abertura de capital na Bolsa da Índia, e viu seus papéis derreterem nos dias seguintes. A brasileira Stone, listada na Nasdaq e que vem de dois resultados que decepcionaram analistas, cai 80% no ano, e 52% apenas em novembro.

Há algumas explicações para o ambiente menos favorável. A primeira, macroeconômica, é a perspectiva de alta dos juros nos principais mercados globais, inclusive nos Estados Unidos.

Com o dinheiro mais caro, empresas que precisam buscar recursos com frequência para manter seu crescimento tendem a ter os modelos de negócio colocados em xeque, em movimento já visto no começo do século, no estouro da bolha das pontocom.

Também existem dúvidas sobre os modelos de concessão de crédito de bancos digitais e fintechs. No caso do Nubank, a inadimplência de seu principal produto, o cartão de crédito, é de 3,3%, abaixo da média nacional (4,8%).

Mas problemas como os da concorrente Stone com financiamentos acenderam um alerta entre investidores, analistas e gestores. Tudo isso em um momento de temores com os estragos que a variante Ômicron do coronavírus pode causar na economia global.

SUPERVALORIZADO

Nas últimas semanas, muitas casas de análise se debruçaram sobre os dados do Nubank e chegaram à conclusão de que o preço pedido pela fintech por suas ações estava alto demais. Mesmo com o alto crescimento das receitas e da base de clientes, a percepção foi de que por ainda dar prejuízo (de US$ 99 milhões de janeiro a setembro), o Nubank tende a sofrer mais em um ambiente de alta de juros.

A Suno Research, por exemplo, considerou que, mesmo com preços menores, em termos relativos, do que os de outras fintechs internacionais, o Nubank estava caro. “O Nubank apresenta uma precificação em linha com o que o mercado internacional está pagando aos maiores bancos digitais, mas não é porque o mercado está pagando que nós iremos pagar”, afirmou a Suno.

A Nord chegou a uma conclusão parecida e afirmou que investir na XP ou no BTG Pactual, que já são listados e têm lucros altos, é mais negócio para quem quer se beneficiar da maior competição no setor financeiro do País. Para justificar o antigo valor, a casa calculou que a fintech teria de lucrar US$ 3,3 bilhões, número alto até mesmo para grandes bancos locais e muito longe da realidade dos competidores do mundo digital.

Outros gestores consultados pelo Estadão/Broadcast nos últimos dias fizeram afirmações semelhantes: para uma empresa que ainda não dá lucro, os valores estabelecidos inicialmente eram altos demais. “Pelas métricas tradicionais, está muito caro. Mesmo comparando com o Mercado Livre (referência em Nova York para empresas de tecnologia da América Latina), o preço está alto”, disse um deles.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Altamiro Silva Júnior, Fernanda Guimarães e Matheus Piovesana

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Estadão Conteúdo

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