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Caso Stone abre dúvida sobre crédito em fintechs

A quebra da fintech inglesa de crédito Greensill, no começo do ano, ligou o primeiro alerta sobre os modelos de concessão de empréstimos de empresas financeiras não ligadas a bancos. Nas últimas semanas, esse temor voltou a rondar investidores após a brasileira Stone, que interrompeu as concessões após um salto na inadimplência, não conseguir transmitir com clareza quando vai voltar a emprestar dinheiro.

Mas isso pode representar um risco sistêmico? Para os analistas, não. No entanto, a Stone, que viu suas ações caírem 80% este ano, está concentrada justamente no segmento considerado mais delicado: as linhas de empréstimos garantidas por previsões de vendas futuras pelos lojistas, que possuem chance importante de não se confirmarem – ainda mais em um cenário de economia fraca no Brasil (leia mais abaixo).

Para analistas, uma questão que alivia a tensão no mercado é que, apesar do crescimento recente, a fatia do crédito concentrada nas mãos das fintechs ainda é pequena. Só o Bradesco liberou R$ 30 bilhões por canais digitais até setembro – mais do que todas as fintechs juntas. Não há estatística oficial, mas as estimativas do setor são de que as fintechs de crédito vão liberar de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em 2021.

Entidades que representam fintechs afirmam que o segmento têm modelos sólidos para evitar inadimplência. “As fintechs atuam em nichos mal servidos pelos bancos”, explica o presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), Sandro Reiss, frisando que os índices de calotes são muito parecidos ou iguais aos dos grandes bancos.

O Nubank, que atraiu milhões de clientes antes “sem banco”, fechou setembro com taxa de inadimplência de 3,3%, considerando atrasos acima de 90 dias no cartão de crédito, abaixo da média nacional para a modalidade, de 4,8%.

E as mudanças regulatórias, como o open banking e o cadastro positivo, podem reduzir a desvantagem de informação dos novos players ante os bancos, avalia Carlos Macedo, analista associado à Ohmresearch. “Quanto mais informação, melhor. Assim tanto o banco quanto a fintech vão poder diferenciar bons e maus pagadores.”

Para Silvio Marote, sócio da Bain & Company, a diferença do acesso a dados vai ficar menor. “Você está dando informações a mais participantes do mercado”, ressalta. E, no caso do crédito, quanto mais dados, menor o risco.

QUANTIDADE. A proliferação de fintechs de crédito é uma realidade no Brasil, mas vem acontecendo em ritmo mais acelerado em outros países, como a China. O diretor executivo de serviços financeiros da Accenture, Maurício Barbosa, observa que a oferta de crédito na Ásia atraiu até gigantes do varejo, como o Alibaba. “Vamos ver cada vez mais outros segmentos colocando as ofertas de empréstimo”, ressalta. Para ele, o aumento de instituições não necessariamente causaria um efeito de aumento de inadimplência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior

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Estadão Conteúdo

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