A aversão a risco nos mercados mundiais pesa na tentativa do Ibovespa de fechar a semana com valorização. Após acumular alta até ontem de 2,69%, o índice tem forte queda, cedendo para o nível dos 102 mil pontos.
A descoberta de uma nova variante da covid-19, localizada na África do Sul, mais perigosa e de rápida propagação, gera movimento defensivo generalizado, diante do temor de que as vacinas sejam insuficientes para conter a doença, levando a novas restrições globais e atrapalhando a retomada econômica. Este cenário contamina a Bolsa brasileira de forma quase generalizada, e apenas duas ações subiam perto de 10h40 (Suzano, com 1,08%, e Locaweb, com 0,49%).
“Vemos um movimento dominó ligado ao alerta de aversão a risco, e as bolsas no mundo inteiro podem terminar no negativo”, avalia Vitor Miziara, da Criteria Investimentos, em nota. Ele lembra ainda que apesar de reabrirem hoje após feriado ontem, os mercados nos Estados Unidos fecham mais cedo, o que pode gerar receio de reversão de um possível quadro negativo nas bolsas de Nova York. O funcionamento mais curto hoje nos EUA deve limitar a liquidez no Ibovespa, em meio a uma agenda de indicadores esvaziada.
Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, ainda acrescenta o temor do mercado já com relação à quarta onda de covid-19 na Europa. Neste sentido, diz, a descoberta da variante na África do Sul acaba elevando a preocupação, a cautela. “O risco de se repetir pandemia de coronavírus que começou no início de 2020 é muito grande e a reação do mercado é intensa. Não quero dizer que a reação é exagerada, mas com certeza pe mais intensa do que as informações que temos até agora”, avalia.
“Tudo indicando para um dia ruim, em meio ao debate em cima da nova variante coronavírus descoberta na África do Sul. O mercado está tentando antecipar ao que pode vir após essa informação. O mundo entrou basicamente em estado de alerta”, avalia Naio Ino, responsável pela mesa de trading equities da Western Asset.
O recuo do Ibovespa é mais intenso do que o visto no pré-mercado de ações de Nova York, onde o declínio máximo é de cerca de 2%, enquanto aqui cede mais de 3%. “Aqui já está sofrendo mais há um tempo por conta dos problemas internos, enquanto as principais bolsas mundiais tiveram máximas históricas”, completa Ino.
Já as bolsas europeias cedem mais de 3% e as commodities têm quedas expressivas, assim como os juros dos títulos americanos caem. A Ásia também não escapou de cair, com o minério de ferro cedendo 5,55%, no porto chinês de Qingdao, a US$ 96,67 a tonelada, enquanto o petróleo tipo Brent cede na faixa de 5%. Já o dólar abriu em fora ala em relação ao real, na faixa de R$ 5,66, mas desacelerava a alta a R$ 5,6021.
Enquanto a OMS não divulgar um comunicado sobre a gravidade dos efeitos da variante descoberta na África do Sul, adiciona-se risco aos mercados. “É um risco que vai precificar”, diz Miziara.
Neste ambiente, ações de peso na composição do principal índice da B3 sofrem de forma considerável, caso de Vale, Petrobras e bancos, que ontem ajudaram na alta, bem como papéis de empresas ligados a viagens, como as aéreas, além dos voltados ao consumo. Isso porque, por causa da nova variante, países já estão adotando medidas de restrição social, o que impacta a recuperação econômica.
O economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, alerta em nota que o Ibovespa não deveria perder a marca dos 102 mil pontos, sob pena de “precipitar e acelerar vendas.” Ontem, o índice fechou com alta de 1,24%, aos 105.811,25 pontos, a terceira seguida.
Para completar, no Brasil, investidores continuam atentos ao desenrolar dos debates sobre a PEC dos Precatórios, cuja votação está prevista para terça-feira (30), e à espera de definição sobre o Auxílio Brasil. Contudo, ainda há impasses, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco(PSD-MG), não garantiu que a medida será votada na próxima semana.
Miziara alerta que se a preocupação com o avanço da pandemia de covid-19 no mundo ganhar força, podem crescer os riscos de aprovação da PEC dos Precatórios, com o governo eventualmente dando prioridades a outros assuntos como o Auxílio Brasil e deixando a questão fiscal um pouco de lado.
Na seara corporativa, destaque para a notícia de que a Eletrobras aprovou o Plano de Alienação de participações societárias minoritárias e concluiu a transferência das ações da TSLE pertencentes à CEEE-T. Já o Banco do Brasil aprovou o pagamento juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 499,320 milhões relativos ao quarto trimestre, sendo R$ 0,1749 por ação ordinária.
Às 11h04, o Ibovespa cedia 2,62%, aos 103.035,40 pontos, ante mínima diária aos 102.435,23, quando caiu 3,19%.
Por Maria Regina Silva
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