O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, considerou nesta quarta-feira que o Brasil vem avançando no controle da pandemia, mas manifestou preocupação com o crescimento estrutural do País nos próximos anos. Durante participação em evento do Bank of America, ele julgou que, na média, o crescimento da economia está melhor, porém o crescimento estrutural, trazendo um debate sobre como ampliá-lo, é um ponto de preocupação.
Apesar de as economias estarem, em geral, acima ou perto dos níveis pré-pandemia, ainda que com baixa dinâmica do setor industrial, Campos Neto disse que a desaceleração chinesa, em função das crises energética e imobiliária, também preocupa pelo vinculo da economia brasileira com o gigante asiático.
Ao falar sobre a pandemia, o presidente do BC avaliou que as estatísticas melhoraram, destacando o avanço “muito rápido” da vacinação, inclusive já com dose de reforço, e a baixa rejeição aos imunizantes. “Na margem, há alguma alta de casos de covid, mas números em geral são bons”, assinalou.
Impacto da política monetária dos EUA
Campos Neto comentou que a retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos não deve provocar impacto relevante nas decisões sobre juros no Brasil, onde o avanço da inflação tem motivos particulares. Ele disse ver pressão para dois ou três movimentos de alta dos juros nos Estados Unidos.
Se as decisões do Federal Reserve estiverem em linha com esse padrão, projetou, o impacto no Brasil será limitado. Da mesma forma, minimizou potenciais impactos adicionais em economias emergentes vindos do enxugamento da liquidez internacional e da normalização de taxas de juros no mundo, um processo que, em sua visão, será mais persistente.
Campos Neto citou o ceticismo do mercado em relação à capacidade de o Brasil crescer mais de 2% ao ano de forma sustentável como um dos motivos por trás do prêmio de risco cobrado pelos agentes no financiamento da dívida pública. Ele reiterou, assim, que o País ainda tem muitas reformas a serem realizadas.
Outra pressão sobre os prêmios de risco, acrescentou, vem da percepção de risco na gestão das contas públicas, dada a flexibilização no arcabouço fiscal. De acordo com o presidente do BC, o conceito da regra do teto mudou pela necessidade de o governo ampliar gastos diante de um momento extraordinário como a pandemia.
Inovação no câmbio
O presidente do Banco Central destacou que o projeto de lei de modernização do câmbio deve ser votado no Senado na semana que vem. “Era para ter sido votada ontem”, disse.
Na terça, no plenário do Senado, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu adiar a votação para uma data a ser definida. Considerando o cronograma de trabalhos do Senado, Pacheco disse que o projeto deve ser apreciado no Senado na próxima quinta-feira, 2, ou no dia 7 de dezembro.
O adiamento ocorreu após o senador Paulo Rocha (PT-PA) ter solicitado que o projeto passasse pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa. Já o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) argumentou que talvez não fosse necessário que o PL passasse por uma das comissões, mas pediu mais tempo para analisar o texto, ponto que recebeu o endosso do líder do governo Fernando Bezerra (MDB-PE).
Campos Neto passou pelo assunto do PL cambial de maneira breve, em meio à agenda de inovações do BC, com o Pix, o Open Finance e o real digital, ainda em estudo pela autarquia.
Em relação ao último ponto, Campos Neto disse que o BC tem considerado a saúde do sistema bancário nesse processo. A perspectiva é de um piloto até o fim de 2022.
Por Eduardo Laguna e Thaís Barcellos
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