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Na última hora, juros viram e fecham em baixa com melhora na perspectiva sobre a PEC

A terça-feira reuniu uma série de fatores negativos para embalar a alta dos juros futuros, mas no fim da tarde o noticiário extraoficial sobre o relatório da PEC dos Precatórios trouxe volatilidade para a curva. Na última hora da sessão regular as taxas tiveram uma guinada e viraram para baixo, terminando nas mínimas nos principais contratos, com melhora atribuída a uma perspectiva mais positiva sobre o texto, mas na etapa estendida já devolviam o movimento. A expectativa é a de que o parecer do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) seja apresentado amanhã.

Já a alta que conduziu as taxas durante todo o dia decorreu da aversão ao risco trazida pela crise cambial na Turquia que penalizou ativos emergentes de forma generalizada. A retomada da expansão da Covid-19 na Europa e a perspectiva de antecipação do aperto monetário pelo Federal Reserve foram outras variáveis que ajudaram a elevar prêmios. Por aqui, o comportamento das medianas de IPCA ontem na Focus ainda reverbera, às vésperas da divulgação do IPCA-15 na quinta-feira.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a 12,25% (regular), de 12,347% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,176% para 11,93% (regular). O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,76%, de 12,013%. Na estendida, estes vencimentos fecharam em 12,26%, 11,95% e 11,78%.

A alta das taxas estava relativamente controlada pela manhã, mas começou a ganhar fôlego com a escalada do dólar, que se firmou acima de R$ 5,60, com máxima na casa de R$ 5,66 à tarde, contaminado pela crise na Turquia. A lira intensificou as perdas nesta terça-feira depois que o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, reafirmou sua política econômica intervencionista. Por mais que a realidade brasileira seja diferente, o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepoumuceno afirma que “há contágio”.

Até porque o mercado também vê risco de que o processo do tapering nos Estados Unidos seja acelerado e, com isso, haja antecipação da alta de juros pelo Fed, o que explica o forte avanço da taxa da T-Note de dez anos para 1,65%. “A perspectiva sob o comando de Brainard seria de uma postura mais dovish, isto é, ao menos manter o ritmo do tapering e alongar o prazo de manutenção da taxa básica de juros perto de zero”, afirma, em relatório, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em referência a Lael Brainard, concorrente de Powell para comandar o Fed, mas que acabou sendo indicada à vice-presidência.

Já na última hora da sessão regular, a direção das taxas mudou repentinamente, para baixo, com notícias sobre o conteúdo do relatório da PEC. Segundo apurou o Broadcast Político, o governo garantiu aos senadores que o pagamento das dívidas judiciais do antigo Fundef, devido a Estados, estará assegurado na proposta, o que pode facilitar um acordo para votação. No entanto, no fim da tarde, já na sessão estendida, as taxas retomaram um viés de alta, em meio a especulações de que o texto também trará a confirmação do auxílio permanente e não fixará valor para o benefício. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) convocou uma reunião para amanhã, às 9h30, com a PEC na pauta.

Na quinta também sai o IPCA-15 de novembro, para o qual a mediana das estimativas é de 1,14%, que seria a maior taxa para o mês desde 2002. A expectativa com relação ao índice ajudou a manter apostas agressivas para a alta da Selic na curva, diante da avaliação de que uma eventual surpresa com o dado vai continuar batendo nas medianas da Focus já desancoradas. “No próximo Boletim, a tendência é a mediana para 2022 já romper 5% e estourar o teto”, diz Nepomuceno. Na pesquisa desta semana, a projeção subiu a 4,96%. Ele destaca que todas as premissas para a inflação “câmbio, commodities, reabertura da economia” estão ruins. “A caixa de maldade vai ser aberta via juros”, comenta.

Esse cenário da inflação sustenta a inflação implícitas das NTN-B bem elevada, mas ainda assim não afeta o apetite dos investidores, uma vez que é visto como um papel defensivo. Hoje o Tesouro vendeu integralmente a oferta de 1,450 milhão de NTN-B, com taxas dentro do consenso, no caso do vencimento curto (2024); abaixo do consenso para a NTN-B 2028; e superior na NTN-B 2040.

Por Denise Abarca

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Estadão Conteúdo

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