Jessica Bahia Melo
Investing.com – Apesar das preocupações a respeito da economia brasileira, com previsão de PIB mais baixo, inflação e juros mais altos para 2022, a visão de Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (SA:BPAC11), e de Caio Megale, economista-chefe da XP (NASDAQ:XP), é de otimismo. Segundo os especialistas, o avanço do mercado de capitais nos últimos anos, a desalavancagem dos bancos públicos, os investimentos em tecnologia e a agenda de reformas são fatores que trazem condições para uma retomada mais expressiva da economia nos anos seguintes. Os economistas participaram nesta quarta-feira do painel “Perspectivas Econômicas”, durante o Fórum Radar Reinvenção, evento realizado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) em Florianópolis.
Almeida, que foi secretário do Tesouro Nacional em 2018, acredita que, com as concessões, os investimentos devem aumentar em rodovias, ferrovias, portos e telecomunicações. Ainda, as perspectivas são favoráveis para setor agrícola, petróleo e gás. “O que vai acontecer com serviços e indústria depende de como vamos tocar a agenda de reformas”, pondera.
O economista-chefe do BTG, que vê em um crescimento do PIB entre 0,5% e 1% no ano que vem, afirma que o país necessita ter um mínimo de consciência para agenda de reformas. O Brasil precisaria ainda fazer um ajuste fiscal para retomar em algum momento a trajetória de queda da dívida pública bruta e líquida.
De acordo com Almeida, o aumento do gasto público no ano passado foi o equivalente ao crescimento nos 25 anos anteriores. O receio dos investidores neste momento é se o Brasil vai voltar ou não à trajetória anterior, o que fez com que o real esteja entre as moedas mais prejudicadas no mundo. A disputa política em Brasília passou para o mercado a impressão de que o aumento de gastos pode ser não temporário, mas permanente. “O mercado está colocando nos preços dos ativos como se o Brasil fosse dar uma guinada populista, como se este o governo e o próximo não fossem mais se preocupar com o equilíbrio fiscal. E eu acho que isso não vai acontecer. Acho que quem quer que seja o presidente eleito do Brasil, vai continuar os ajustes”, analisa.
No entanto, o cenário esperado há cerca de nove meses era de um buraco fiscal de 300 bilhões e dívida acima de 91% do PIB, o que não aconteceu. A expectativa de Almeida é de que o Brasil termine o ano com déficit primário em torno de 80 bilhões e dívida pública de 81% do PIB, com crescimento de 5% da economia.
Durante a palestra, Mansueto Almeida disse que a redução de investimentos em bancos públicos não causou transtornos nos financiamentos no país, pois muitas empresas migraram para captação de recursos no mercado de capitais, por meio de abertura de capital, lançamento de novas ações, debêntures e fundos imobiliários.
Almeida destacou também que as empresas de capital aberto apresentaram resultados muito superiores ao previsto pelo mercado. Mesmo que segunda onda da covid tenha sido ainda pior do que a primeira, as empresas aprenderam a trabalhar de forma remota e desenvolveram protocolos para continuar a operação e vender com distanciamento social, gerando um impacto na economia menor. “No ano passado, o PIB caiu 4%, mas o investimento quase não caiu. A queda no investimento foi de 0,8%. A queda no PIB no ano passado foi uma queda de consumo, que está aos poucos se recuperando. É muito diferente do cenário de 2015/2016, que a gente passou quatro anos seguidos com queda na taxa de investimento no Brasil. Em 2015, a queda foi de 13,5%. Em 2016, foi de 12,5%. Agora não. Neste ano, taxa de investimento no Brasil vai crescer entre 12% e 14%”, detalha Almeida.
Na visão dos dois economistas, a incerteza a respeito da agenda de reformas e do equilíbrio fiscal é a causa da queda nos ativos. O receio é de que não haverá respeito às regras fiscais e de que o aumento dos gastos seja permanente. “O debate político ocorrendo em Brasília está sinalizando incerteza se o país continuará ou não cumprindo com as obrigações fiscais e se vai aprovar agenda de reformas, entre as quais a reforma fiscal e a administrativa. O preço dos ativos e o juro para 2025 e 2027 está sinalizando hoje não o que aconteceu, mas o que pode vir a acontecer”, completa o economista-chefe do BTG.
Para Caio Megale, economista-chefe da XP, que também participou do evento da FIESC, os países deixaram a demanda aumentar de forma elevada, pressionando a inflação. No cenário doméstico, o Banco Central vai ter que puxar o freio para colocar o trem de volta aos trilhos, segundo ele.
“Acho que o mundo não está com estagflação, mas com inflação mesmo. Tem um choque de custos que acaba intensificando a inflação, mas a verdade é que o mundo deixou correr solta a demanda. Nos Estados Unidos, o nível é super alto e o FED já sacou que vai ter que pisar no freio. O nosso aqui já iniciou antes”, destaca. Segundo Megale, a inflação brasileira foi turbinada pelo câmbio depreciado e pelos programas de estímulo à demanda na reabertura da economia. “Com a melhora do mundo, era para o dólar ter voltado a R$4,5 a R$4,70”, acredita.
O economista-chefe da XP explicou que normalmente, quando a autoridade monetária sobe os juros, a taxa de câmbio se valoriza, o que não aconteceu. “Nesse mesmo momento, começamos a fazer discussão fiscal mais complicada. O primeiro gasto da pandemia foi entendido como temporário, mas quando mais despesas começaram a ser discutidas fora do regime fiscal, o problema foi mais intensificado”. Para ele, o câmbio deixou de ser ditado pelo balanço da conta corrente e passou a ser ditado pelo risco. Assim, o Brasil precisaria sinalizar disciplina fiscal para próximos anos.
Matéria originalmente publicada em Investing.com
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