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Na briga com fintechs, bancos apostam em ‘filhotes’ digitais

Com a proximidade da abertura de capital do Nubank, que deve chegar à Bolsa valendo mais do que Itaú, Bradesco e Santander, os maiores bancos privados brasileiros, aceleraram sua transformação digital. As instituições correm contra o tempo para atrair jovens clientes em suas plataformas digitais. O Next, do Bradesco, quer fechar o ano com 10 milhões de correntistas, enquanto o iti, do Itaú, pretende chegar a 15 milhões.

O caminho dos “filhotes” dos bancos tradicionais, no entanto, é ladeira acima. Somados, iti, Next e Superdigital (fintech do Santander) tinham 19,6 milhões de clientes no terceiro trimestre deste ano. O Nubank, conforme documento de sua oferta de ações, somava 48,1 milhões, sendo 47 milhões no Brasil.

A disputa não é só por quantidade. O Nubank afirma que a maior parte de seus clientes é jovem e tem menor renda, público que torce o nariz para bancos tradicionais. O papel das marcas digitais nos conglomerados é conquistar essa parcela do público sem cobrar tarifas. Itaú e Bradesco destacaram que a maior parte dos correntistas de seus projetos não tem conta nas marcas principais.

“É um desafio. É um público jovem, de renda inferior”, afirmou o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, na teleconferência de resultados da instituição. O Itaú pretende gerar 50% das receitas do banco de varejo pelos canais digitais até 2025. O papel do iti é engajar aos produtos do banco um público que ainda não está lá.

Crédito

Em teleconferência com analistas e investidores estrangeiros na última sexta-feira, o diretor executivo e de relações com investidores do Bradesco, Leandro Miranda, afirmou que a experiência na concessão de crédito é uma carta na manga. “Temos concedido mais crédito através de nossos canais digitais do que todo o universo das fintechs”, disse.

Para analistas, os números que os grandes bancos exibem no mundo digital são reflexo de seu protagonismo no sistema financeiro. “A participação analógica garante a eles um lugar na mesa. O que mudou com a digitalização é que a vantagem que os bancos grandes tinham na distribuição, com as agências, tornou-se uma desvantagem”, diz Carlos Macedo, analista associado à Ohmresearch.

Para ele, o desafio das fintechs é ganhar experiência na concessão de crédito, o que inclui o cálculo dos riscos e assertividade das ofertas, fazendo com que o cliente use uma quantidade maior de produtos. “Monetizar o cliente é algo que fintechs ainda têm de fazer. O Nubank e o Inter têm 3, 4 produtos por cliente; o Bradesco e o Itaú, 6 ou 7.”

O Nubank escolheu a Bolsa de Valores de Nova York para fazer sua oferta inicial de ações, operação que pode movimentar R$ 22 bilhões (US$ 4 bilhões), segundo fontes.

Segundo cálculos atualmente na mesa, a fintech brasileira poderá chegar valendo quase R$ 400 bilhões (ou US$ 70 bilhões). Se isso ocorrer, o Nubank será mais valioso do que o maior banco da América Latina, o Itaú Unibanco, hoje avaliado em R$ 221 bilhões na B3, e o Bradesco (R$ 182 bilhões) combinados. A previsão é de que a oferta na Bolsa de Nova York ocorra em dezembro.

Esses dados fizeram com que os executivos dos grandes bancos privados fossem questionados sobre a avaliação do mercado. De janeiro a setembro, a fintech teve prejuízo de US$ 99,1 milhões (R$ 547,3 milhões). No mesmo período, o Itaú teve lucro de R$ 19,7 bilhões; o Bradesco, de R$ 19,6 bilhões; e o Santander, de R$ 12,5 bilhões.

Maluhy, do Itaú, não citou o Nubank, mas considerou que nos bancos de grande porte o lucro é resultado de múltiplas atividades, enquanto nas fintechs a carteira de produtos e serviços é menor.

Miranda, do Bradesco, diz acreditar que essa diferença de avaliação irá diminuir. “O mercado sempre tem a resposta, mas, à medida que ficamos mais e mais digitais e emprestamos mais do que toda a indústria, incluindo o Nubank, deveremos ter múltiplos muito mais altos”, disse. Uma das evidências desse avanço digital é que, no Bradesco, enquanto as transações por celular saltaram 92% este ano, as realizadas em agências caíram 70%.

Avaliação do mercado

Neste ano, o Índice Financeiro da B3 caiu 18%, mais do que o Ibovespa, que perdeu cerca de 12%, em uma mistura de temores com as contas públicas nacionais e a concorrência que os grandes bancos devem enfrentar. Analistas, porém, acreditam que essa queda seja exagerada. “Vemos uma desconexão entre lucratividade e avaliação de mercado, mesmo com o recente desempenho da ação”, disseram Marcelo Telles, Daniel Vaz e Bruna Amorim, do Credit Suisse, a respeito do Itaú.

Eles consideraram que o mercado precisa dar mais atenção ao progresso do iti, ao compará-lo ao Nubank. “Com os depósitos pagando 100% do CDI e ofertas gratuitas de cartão de crédito aos usuários, muito similares às ofertas do Nubank, o iti está expandindo sua base rapidamente.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior

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Estadão Conteúdo

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