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Dólar cai 1,49% no dia com apetite externo ao risco e perde 2,19% na semana

No acumulado do ano, o dólar registra avanço de 6,44% (Foto: Shutterstock)

O ambiente externo de apetite ao risco, na esteira de dados fortes do emprego nos Estados Unidos e do anúncio de testes positivos de novo medicamento contra a covid-19, abriram espaço para uma rodada de fortalecimento do real na sessão desta sexta-feira, 5.

Afora uma ligeira alta na abertura dos negócios, a moeda americana trabalhou em baixa durante todo o pregão. Ao longo da tarde, como relatos de entrada de fluxos e ajustes de posições de grandes tesourarias, o dólar à vista até flertou romper o piso de R$ 5,50, ao descer até a mínima a R$ 5,5035 – dez centavos a menos que a máxima da sessão (R$ 5,6076).

Com uma desaceleração do ritmo de perdas, a moeda americana encerrou o dia em queda de 1,49%, a R$ 5,5227. Vale ressaltar que a liquidez foi reduzida, com o volume negociado no contrato futuro para dezembro na casa de US$ 12 bilhões, o que, segundo operadores, deixa a formação da taxa de câmbio bastante suscetível a operações pontuais.

Seja como for, o tombo desta sexta levou o dólar a encerrar a primeira semana de novembro em queda 2,19%, após encerrar outubro em alta 3,67%. Em setembro, a moeda já havia se valorizado 5,30%. No acumulado do ano, o dólar registra avanço de 6,44%.

No exterior, o dia foi de perdas generalizadas do dólar frente a divisas emergentes, com o real liderando o bloco, seguindo rand sul-africano (-1,24%) e o peso mexicano (1,05%). O índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a seis divisas fortes – operou em leve queda, na casa dos 94,200 pontos.

Dados do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos em outubro mostraram geração líquida de 531 mil vagas, bem acima da expectativa de Projeções Broadcast (400 mil). A taxa de desemprego recuou de 4,8% em setembro para 4,6%, abaixo do consenso do mercado. O resultado animou os investidores, que saíram as compras de ativos de risco, fiando-se também na postura dovish do Federal Reserve, que não deve subir os juros antes de que o mercado de trabalho complete sua recuperação.

Segundo Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, o enfraquecimento adicional do dólar ao longo da tarde foi provavelmente fruto da entrada de recursos e de ajustes técnicos de posições, com realização de lucros. “Ouvi relatos de que existe uma tesouraria grande com uma atuação forte hoje no mercado, aproveitando o ambiente externo positivo”, afirma Iha, destacando a queda expressiva também do peso mexicano, moeda gêmea do real.

O operador da Fair ressalta, contudo, que ainda persistem preocupações com a tramitação da PEC dos Precatórios, o que torna muito pouco provável um movimento maior de apreciação do real. Isso mesmo com a perspectiva de alta mais pronunciada da taxa Selic e de liquidez externa farta, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizar nesta semana que o BC americano pode ser “paciente” em relação à taxa de juros.

“Não existe nada definido do ponto de vista fiscal. A PEC foi aprovada com margem muito pequena e já tem partidos que se posicionaram contra”, diz Iha, ressaltando haverá fortes resistências ao texto no Senado, liderado por Rodrigo Pacheco, pré-candidato à presidência. “A incerteza ainda é grande. Não dá para pensar em ficar vendido (apostar na queda do dólar) nesse nível de R$ 5,50, R4 5,52. Isso é um bom preço para compra”, afirma.

Pela manhã, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reiterou sua confiança na votação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados na terça-feira, 9, sem “mudanças radicais”. A PEC foi aprovada em primeiro turno com apenas quatro votos a mais do que o necessário e já enfrenta uma avalanche de críticas e questionamentos.

Assim como fez o PDT na quinta, deputados Alessandro Molon (PSB-RJ), Joyce Hasselman (PSL-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcelo Freixo (PSB-RJ) apresentaram nesta sexta um mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o pedido de liminar para barrar a tramitação da PEC. A ação suprapartidária alega “irregularidades formais dos atos, seus patentes desvios de finalidade e o atropelo do devido processo legislativo” no modo como Lira conduziu os trabalhos.

Segundo Zeller Bernardino, especialista em câmbio da Valor Investimentos, houve um certo alívio no mercado com as declarações de Lira de que há condições para aprovação da PEC, o que contribui para a queda mais acentuada do dólar. “Hoje o clima foi positivo lá fora e tivemos essa questão da PEC, que ajudou também. Porém isso não é suficiente para ter um dólar mais baixo no longo prazo. A questão fiscal brasileira ainda é a maior preocupação”, afirma.

Por Antonio Perez

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