Depois de um avanço bem forte pela manhã, sob impacto da piora das expectativas de inflação reveladas pelo Boletim Focus e da valorização mais aguda do dólar, que chegou trabalhar na casa de R$ 5,68, as taxas dos principais contratos de juros futuros passaram por uma acomodação ao longo da tarde. Ainda assim, encerraram a sessão desta segunda-feira, véspera do feriado do Dia de Finados, em alta firme. Além do dólar e dos yields dos Treasuries para cima, o aumento dos prêmios de risco, já esticados, reflete a cautela com a questão fiscal, diante da expectativa pela votação da PEC dos Precatórios na quarta-feira – dia mercado também pela divulgação da ata do Copom e pela reunião do Federal Reserve, que deve anunciar o início da retirada de estímulos monetários (tapering).
Analistas ressaltam que a perspectiva de que o Banco Central jogue a Selic para dois dígitos no atual ciclo de aperto monetário mantém as taxas intermediárias na casa de 12%. As taxas longas, contudo, não cedem e também rodam no patamar de 12%, o que reflete uma percepção de risco ainda muito elevada por parte dos agentes, dada desancoragem das expectativas de inflação em meio à mudança do regime fiscal.
O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano, observa que houve uma deterioração contínua das projeções de inflação e crescimento após o anúncio da intenção de mudança na regra do teto dos gastos, o que mantém o mercado de juros futuros muito pressionado. “Estamos vendo o estrago do abandono do teto dos gastos nas projeções, com nova revisão altista para a inflação e a expectativa de crescimento caindo na pesquisa Focus. Com a perda da âncora fiscal, o mercado perde o direcionamento”, afirma Serrano, que espera PIB ligeiramente negativo no ano que vem.
Para Serrano, a descompressão ao longo da tarde, em dia de liquidez reduzida, pode ter sido provocada por ajustes técnicos de posições e também por certo alívio com a baixa adesão à greve dos caminhoneiros, que protestam contra o aumento dos combustíveis.
No Focus de hoje, subiram as expectativa para o IPCA neste ano (de 8,96% para 9,17%) e para 2022 (de 4,40% para 4,55%). A estimativa para a taxa Selic no fim deste ano saltou de 8,75% para 9,25%. E a expectativa para taxa básica no fim de 2022 atingiu os dois dígitos, ao passar de 9,50% para 10,25% (ante 8,50% um mês antes). A mediana para PIB de 2021 passou de 4,97% para 4,94%. Para 2022, a projeção de expansão do PIB passou de 1,40% para 1,20%.
Para Serrano, da Greenbay, a eventual aprovação da PEC dos Precatórios na quarta-feira na Câmara dos Deputados poderia até “melhorar um pouco” o humor do mercado, ao reduzir o nível de incerteza sobre o tamanho do impacto nas contas públicas. “O problema é que podem tentar aumentar ainda mais as despesas mais à frente. Se você muda o teto toda vez que os gastos são maiores, na verdade você não tem um teto”.
No fim de semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que o governo trabalha com o Plano A, que é aprovação da PEC dos Precatórios. Guedes também disse, ao falar do teto dos gastos, que há uma preocupação exatamente com essa capacidade de organização política para aprovar a PEC dos Precatórios. Ela é que dá espaço (orçamentário)”.
Além da votação da PEC dos Precatórios, o mercado aguarda a ata do Copom, que será divulgada também na quarta-feira, dado que o comunicado da decisão do comitê na semana passada – quando elevou a Selic em 1,50%, para 7,75% ao ano – foi considerado lacônico e trouxe apenas uma referência indireta à proposta de mudança do cálculo do teto de gastos.
“Vamos ver o quanto o BC está realmente empenhado em levar a Selic para um patamar bastante contracionista. Tomara que a ata traga uma luz, um direcionamento para o mercado, porque o nível de incerteza é muito grande”, afirma o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, acrescentando que, nos níveis atuais, o mercado projeta um “choque” na política monetária.
Rosa ressalta que a deterioração fiscal é o principal direcionador do mercado de juros, por provocar um ciclo vicioso – que se inicia com a alta do dólar e deságua na piora contínua das expectativas de inflação. “Muita coisa está na mesa com a PEC dos Precatórios, mas não tem nada definido. Isso cria um ambiente de risco muito grande. A curva está praticamente ‘flattening’, o que é muito preocupante”, diz o economista-chefe da SulAmerica.
Entre os principais contratos, DI para janeiro de 2023 fechou a 12,28%, de 12,146%. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,206% para 12,49%. Já o DI para janeiro de 2027 fechou a 12,53%, ante 12,264% no ajuste anterior.
Por Antonio Perez
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