Os juros futuros começaram a semana em alta firme, refletindo as expectativas de que, diante dos recentes acontecimentos no cenário para as contas públicas, o Comitê de Política Monetária (Copom) prepara um choque de juros para tentar garantir inflação nas metas nos próximos anos. A curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) precifica apostas diversificadas de alta da Selic, de até 2 pontos porcentuais, no encontro da próxima quarta-feira, o que também se vê nas opções digitais da B3.
A perda da âncora fiscal com a “licença para gastar” com o Auxílio Brasil é o que ainda está por trás destes movimentos, com o mercado antecipando a possibilidade de o valor do benefício superar os R$ 400 – e o gasto total romper os R$ 30 bilhões – durante a tramitação da PEC dos Precatórios no Congresso, além de benesses fiscais extras, como a ajuda a caminhoneiros. A segunda-feira trouxe ainda ajustes pesados nas medianas da pesquisa Focus, uma saraivada de revisões de inflação e Selic e novo reajuste nos preços de combustíveis. E na terça-feira ainda tem IPCA-15.
A taxa do DI para janeiro de 2022 fechou em 8,308%, de 8,190% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2023 superou 11%, ao terminar em 11,13%, de 10,866%. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,507% para 11,64%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou praticamente estável, saindo de 11,814% para 11,80%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, informou que, no meio da tarde, a curva do DI embutia 176 pontos-base de alta para a Selic no Copom deste semana. “O que já mostra o mercado trabalhando com apostas de aperto de até 2 pontos”, afirmou.
Segundo ele, enquanto a possibilidade de aumento de 1 ponto está totalmente apagada, a curva aponta um cenário variado de apostas acima disso, de 1,25, 1,5, 1,75 e 2 pontos. Para o fechamento de 2021, aponta Selic em 9,59%; e 12,63% no fim de 2022. A Selic hoje está em 6,25%.
Na sexta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu carta branca para que o BC acelere o ritmo de aperto ao afirmar que a autoridade monetária tem de ficar à frente da curva, diante da piora do cenário fiscal.
No Boletim Focus, houve avanço da mediana para a Selic nos próximos anos, de 8,25% para 8,75%, 8,75% para 9,50% e 6,50% para 7,00%, no fim de 2021, 2022 e 2023. Curiosamente, ao mesmo tempo as medianas de IPCA 2021 e 2022 avançaram, a 8,96% e 4,40% e, vale destacar, as até então estáticas expectativas para 2023 e 2024 também se mexeram, ainda que pouco, para cima. A mediana para 2023 passou de 3,25% para 3,27% e a de 2024, de 3,00% para 3,02%. “Comparado ao que temos na curva, a Focus parece atrasada”, afirmou Rostagno.
Nesta segunda-feira, várias instituições atualizaram seus cenários macroeconômicos, prevendo mais inflação, mais Selic e menos PIB, e uma taxa básica de dois dígitos ao fim do ciclo de contração monetária é dada como cada vez mais certa. Itaú Unibanco, JPMorgan, BofA e MB Associados estão entre as casas que agora esperam aperto de 1,5 ponto na Selic na quarta-feira.
As apostas mais agressivas para a Selic não têm sido suficientes para estancar a deterioração das estimativas de inflação, diante da reiteradas pioras na percepção de risco fiscal e novos reajustes de preços. Nesta segunda, a Petrobras informou aumento no preço da gasolina e diesel para distribuidoras a partir de terça, dentro da política de alinhamento às cotações no cenário internacional.
Por Denise Abarca
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