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Entrevista: Netflix de games mobile, Bemobi se reinventa com microfinanças

Conhecida como a Netflix dos apps e games mobile, a Bemobi (BMOB3) já realizou neste ano 2 aquisições relativas ao segmento de microfinanças, segmento “enorme, em expansão, bastante fragmentado e com muitas opcionalidades interessantes” que tem potencial para se tornar o carro-chefe da empresa, disse Pedro Alvarenga, diretor de Relações com Investidores da Bemobi, em entrevista ao Mercado News.

“Nestes muitos anos, reinventamos o nosso negócio algumas vezes, erramos, aprendemos, acertamos e crescemos. Cultivamos uma cultura onde pessoas e seus talentos estão no centro de tudo e criamos um ambiente onde gostamos de trabalhar juntos e do que fazemos”, afirmou o executivo, enfatizando o crescimento que a companhia vem atravessando em 2021.

Com mais de 60 milhões de clientes ao redor do mundo, e em parceria com mais de 80 operadoras de telefonia móvel as quais oferece seus produtos e serviços, a Bemobi realizou seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) no começo deste ano, e já adquiriu a Tiaxa e a M4U, ambas de microfinanças, que, de acordo com o executivo, estão “praticamente dobrando” todos os seus indicadores financeiros.

Além disso, a tech de B2B2C telefonia já está olhando para parcerias “além do telecom”, com conversas ativas com outras indústrias, o que poderia elevar mais seu mercado endereçável, afirmou o diretor.

A seguir, leia a entrevista completa:

Mercado News – Poderia apresentar a empresa aos nossos leitores?

Pedro Alvarenga – Somos uma empresa de tecnologia especializada na distribuição e monetização de apps, games e serviços digitais móveis. Operamos em um modelo B2B2C (Business – to – Business – to – Consumer), ou seja, oferecemos nossos serviços a uma companhia que, por sua vez, os oferece aos clientes finais. Atuamos, hoje, em parceria com mais de 80 operadoras de telefonia móvel ao redor do mundo, o que viabiliza a oferta de meios alternativos de cobrança de nossos serviços, como, por exemplo, via crédito pré-pago e/ou contas pós-pagas de telefone.

Nosso negócio é baseado em um modelo inovador de assinaturas de custo reduzido que possui aderência à realidade da maior parte da população brasileira e de outros países emergentes de perfil semelhante. Oferecemos também diversas modalidades de serviços de microfinanças como uma forma de viabilizar a popularização do consumo de serviços digitais a partir da cobrança de uma taxa de conveniência.

Com objetivo de acelerar ainda mais o crescimento de nosso negócio, concluímos esse ano nossa bem sucedida abertura de capital na bolsa de valores brasileira, a B3, em que levantamos recursos líquidos superiores a R$ 1,09 bilhão, de forma a viabilizar a maximização de nossa estratégia de crescimento inorgânico, por meio de aquisições, sempre mirando alvos que possuam sinergia com nosso modelo já estabelecido de distribuição e cobrança.

Em agosto, realizamos nossas 2 primeiras aquisições de empresas relevantes no Brasil e no exterior nos segmentos de microfinanças e de plataforma como serviço (PaaS) que praticamente dobram o tamanho da companhia do ponto de vista de receita e de rentabilidade.

Mercado News – Qual o futuro do mercado gamer mobile, e como isso vem a impactar a Bemobi?

Pedro Alvarenga – Nunca houve tanta atenção voltada para os jogos eletrônicos como nesses últimos anos. Os valores dessa indústria são muito relevantes quando falamos de faturamento, audiência e pessoas jogando.

Somos pioneiros na distribuição e monetização de apps, jogos e serviços digitais móveis no Brasil e países emergentes ao redor do mundo.

Nascemos no Brasil, em 2009, mas foi a partir de 2013 que iniciamos justamente o modelo pelo qual nos tornamos conhecidos que é a oferta de aplicativos e jogos sem anúncios e com todas as funcionalidades liberadas, em troca de uma assinatura acessível e com meios de pagamento alternativos. Com mais de 60 milhões de clientes ao redor do mundo, a Bemobi é hoje reconhecida como a Netflix dos apps e games mobile.

É um modelo de negócio extremamente bem sucedido nos mercados em que atuamos e com bom potencial de crescimento, considerando o enorme mercado endereçável de 2,4 bilhões de usuários que temos acesso em parceria com as mais de 80 operadoras com quem atuamos.

Temos hoje mais de 200 parceiros em todo o mundo, incluindo distribuidores e desenvolvedores de apps e jogos incluindo Disney, Viacom, Rovio e Ubisoft que capturam valor através de uma fonte nova e incremental de receita, complementar ao tradicional modelo de compra avulsa nas lojas de aplicativos de celulares.

Estamos constantemente atualizando o portfólio de jogos oferecidos aos nossos clientes com foco nos títulos mais procurados pelos usuários nas principais stores.

Mercado News – A empresa anunciou aquisições desde seu IPO. A Bemobi tem uma agenda de M&A como foco para a perspectiva de crescimento?

Pedro Alvarenga – Como você comentou, em agosto último, anunciamos nossas 2 primeiras aquisições após o IPO, com a compra da Tiaxa e da M4U. Com essas aquisições estamos praticamente dobrando todos os nossos indicadores financeiros, mesmo antes de capturar as muitas sinergias operacionais.

Além disso, continuamos capitalizados com os recursos obtidos no IPO e seguimos com o mesmo ritmo de busca por novas empresas, com os mesmos princípios que nortearam as aquisições que já realizamos.

Mercado News – Ainda a respeito das aquisições, a empresa quer ampliar mais seus meios de serviços de pagamentos?

Pedro Alvarenga – A aquisição da M4U fortalece nossas soluções em microfinanças, ao se integrar à nossa plataforma Loop trazendo competências importantes em pagamento digital e antifraude, além de abrir oportunidades de ampliar nossa penetração no Brasil e, principalmente, escalar os serviços internacionalmente.

Já a aquisição da Tiaxa fortalece nossas soluções de microfinanças no tema de microcrédito ao trazer competências importantes em behavior score, ampliar nossa presença internacionalmente, ter parcerias já iniciadas com bancos digitais e fintechs (além de Telecom), além de criar novas linhas de receitas como PaaS e data monetization com grande potencial de crescimento.

Ambas as operações trazem grande complementaridade, ajudando a criar uma plataforma digital mais completa, end to end [ponta a ponta] que deve acelerar nosso crescimento através de múltiplas oportunidades de cross-sell (escalar serviços já em operação) e up-sell (lançar serviços dentro da nossa base atual de parceiros), além de abrir novos mercados endereçáveis.

Mercado News – Esses segmentos podem um dia virar carro-chefe na Bemobi? Quais outros projetos estão no radar da empresa?

Pedro Alvarenga – Sem dúvida há potencial para que isto aconteça. É um segmento enorme, em expansão, bastante fragmentado e com muitas opcionalidades interessantes.

Com relação a outros projetos, vamos seguir executando e entregando uma consistente diversificação de receita, com o fortalecimento da nossa vertical de microfinanças, bem como explorando o potencial de cross-sell, up-sell e ainda a abertura de novos mercados endereçáveis trazidos pelas nossas 2 recentes aquisições, assim como pelo estabelecimento de novas parcerias com segmentos além de telecom.

Mercado News – Como estão as operações internacionais da empresa e quais as perspectivas?

Pedro Alvarenga – Temos, hoje, nossos serviços integrados com mais de 80 operadoras de telefonia móvel ao redor do mundo, o que nos dá acesso a um mercado endereçável de mais de 2,4 bilhões de usuários móveis. Dentro deste vasto e crescente mercado endereçável, no segundo trimestre de 2021, mantivemos uma média de 32,5 milhões de assinaturas contratadas e pagas pelos usuários, 29,6 milhões de pacotes de aplicativos e/ou de serviços de mensageria ativos na modalidade de bundle e 43,1 milhões de micro transações comercializadas e distribuídas em 41 países.

Mercado News – Como tem sido a expansão da base de clientes da Bemobi no âmbito mundial?

Pedro Alvarenga – Vemos com bons olhos a expansão para novos países através do fortalecimento ou estabelecimento de novas parcerias com operadoras de telefonia celular, em especial.

Acreditamos que tal estratégia de crescimento possui um grande potencial de captura de valor, haja visto a comparação entre a penetração que possuímos no Brasil e em nossas operações internacionais vis-à-vis o nosso mercado endereçável (2,4 bilhões de usuários).

Do ponto vista de expansão geográfica, intensificamos ainda mais essa agenda a partir do fim de 2019 ampliando significativamente nossa presença em novos países à medida que estabelecemos novas parcerias com operadoras de telefonia. Nesse curto período, elevamos nossa presença para 41 países, alcançando 76 contratos de parceria com diferentes operadoras, sendo 10 no Sul Asiático, 18 no Sudeste Asiático, 14 na Comunidade dos Estados Independentes, 11 na África e 23 na América Latina.

Atualmente, as operações internacionais já representam, aproximadamente, 40% de nossa receita total.

E estamos com conversas ativas para parceria com outras indústrias, além de telecom, o que poderia elevar ainda mais nosso mercado endereçável.

Mercado News – Como a empresa tem desenvolvido seu marketing digital?

Pedro Alvarenga – Utilizando inteligência artificial e machine learning, por meio da nossa plataforma proprietária de distribuição digital (Loop), a Bemobi acompanha a rotina de consumo de milhões de usuários de telefonia móvel, em parceria com algumas das maiores operadoras do mundo, como Claro, Vodafone, Vivo, Tim, Movistar e Oi, para compreender sua jornada e transformar pontos de fricção em canais digitais para levar cada uma de nossas ofertas relevantes ao contexto de cada usuário de celular no momento certo, no canal mais adequado e a um preço acessível.

O Loop viabiliza a distribuição escalável de nossos serviços ao reduzir materialmente nosso custo de aquisição de clientes e elevar materialmente a conversão de vendas.

Mercado News – O leilão do 5G pode afetar a operação da empresa a partir das operadoras?

Pedro Alvarenga – Nestes muitos anos, reinventamos o nosso negócio algumas vezes, erramos, aprendemos, acertamos e crescemos. Cultivamos uma cultura onde pessoas e seus talentos estão no centro de tudo e criamos um ambiente onde gostamos de trabalhar juntos e do que fazemos.

Mesmo em um ano desafiador como 2021, estamos conseguindo crescer em todos os indicadores operacionais e financeiros até aqui, inclusive antes das aquisições que irão acelerar de forma significativa o crescimento da companhia.

Nosso inovador modelo de negócios, com distribuição B2B2C, possui sólida aderência à realidade de grande parte da população brasileira e de outros países emergentes de perfil semelhante ao que atuamos, o que sem dúvida tem contribuído com nossos bons resultados. O 5G vem somar com tudo isso para acelerar a digitalização dos brasileiros.

Mercado News – O que diferencia a Bemobi de outras techs na B3? Qual é o ponto forte?

Pedro Alvarenga – Sem falar de outras techs na B3, prefiro continuar falando da Bemobi e do que estamos fazendo e entregando de forma consistente. Temos muito orgulho de tudo que construímos juntos até o momento, a partir de um posicionamento único e inovador de assinaturas de custo reduzido que possui aderência à realidade da maior parte da população de países emergentes. Oferecemos também diversas modalidades de serviços de microfinanças como uma forma de viabilizar e acelerar, ainda mais, a popularização do consumo de serviços digitais e ampliando as oportunidades de cross-sell e up-sell na enorme base endereçável que atendemos.

Como falei, estamos só começando a arranhar a superfície de um mercado potencial de mais de 2,4 bilhões de pessoas, que é justamente o número de clientes das mais de 80 operadoras com que mantemos parceria atualmente.

A Bemobi se destaca por ser um player que possui uma entrega consistente de crescimento e rentabilidade, com forte geração de caixa, o que nos habilita a capturar oportunidades de mercado do ponto de vista de expansão orgânica e inorgânica.

Mercado News – Qual o principal objetivo da empresa para 2022?

Pedro Alvarenga – De maneira geral podemos dizer que os objetivos da empresa para 2022 seriam continuar nossa expansão em Apps, em especial fora do Brasil, usando cada vez mais a força do Loop para alavancar as vendas, acelerar nossa expansão em microfinanças ao integrar as empresas adquiridas à nossa plataforma, elevar as oportunidades de cross-sell e up-sell na base de usuários que atendemos, aproveitar as novas competências e tecnologias absorvidas com as novas aquisições e dar sequência ao nosso plano de aquisições de negócios.

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Ana Macedo

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