Mercados

Dólar sobe 1,21% com cena externa, questão fiscal e piora das expectativas

O dólar iniciou a semana em alta e voltou a ser negociado acima do nível de R$ 5,50, a despeito de nova rodada de injeção de recursos do Banco Central no mercado via operações de swaps cambiais. Em dia de apetite reduzido ao risco, o real liderou as perdas entre as divisas emergentes, castigadas em meio à escalada da inflação global resultante da crise energética e à decepção com dados fracos das economias da China e dos Estados Unidos.

Pesam contra a moeda brasileira a deterioração contínua das projeções econômicas (de inflação e crescimento), ratificadas pelo Boletim Focus desta segunda-feira, e as indefinições na área fiscal, dadas as negociações para a extensão do auxílio emergencial e a expectativa para votação da PEC dos Precatórios esta semana na Câmara. Além disso, há um clima da cautela diante da espera pelo relatório final da CPI da Covid e da ameaça de greve dos caminheiros a partir de 1º de novembro, embora a maior parte do mercado não acredite em um movimento amplo de paralisação por parte da categoria.

O Banco Central realizou nesta segunda pela manhã três leilões de swaps cambiais, no valor total de US$ 1,950 bilhão, mas na operação que representa injeção nova de liquidez, realizada às 9h30, reduziu a oferta à metade, para US$ 500 milhões. Nos três pregões anteriores, havia ofertado US 1 bilhão por dia.

Apesar da atuação do BC, o dólar à vista não apenas rompeu novamente o patamar de R$ 5,50 como chegou a flertar com o nível de R$ 5,55, ao correr até a máxima de R$ 5,5425 (1,61%). A escalada a moeda norte-americana chegou a levar parte dos agentes a cogitar uma nova intervenção do BC, hipótese que não se concretizou.

Ao longo da tarde, com a melhora das Bolsas americanas, acompanhada pelo Ibovespa, e diminuição das perdas demais divisas emergentes, a moeda norte-americana desacelerou o ritmo de alta por aqui. No fim da sessão, o dólar à vista subia 1,21%, a R$ 5,5205. Com os ganhos desta segunda, a moeda acumula alta de 1,36% em outubro e avança 6,39% no ano.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, observa que o dia foi marcado por cautela externa, com perdas das divisas emergentes, em meio a dados mais fracos na China. “O real está se desvalorizando mais que pares pela percepção de piora local com contínua revisão de crescimento para baixo e a expectativa pela votação dos Precatórios, e consequentemente, do novo Bolsa Família. E com isso a gente tem um cenário de aversão ao risco”, afirma Consorte.

O Boletim Focus trouxe nesta segunda queda na expectativa para o crescimento do PIB neste ano (de 5,04% para 5,01%) e para 2022 (de 1,54% para 1,50%). As projeções de inflação se deterioraram tanto para este ano (de 8,59% para 8,69%) quanto para o ano que vem (de 4,17% para 4,18%). Foram mantidas as estimativas para a taxa Selic no fim de 2021 (8,25%) e de 2022 (8,75%).

A conjunção de inflação em alta e crescimento baixo faz crescer os temores de medidas populistas por parte do presidente Jair Bolsonaro, que já acenou com a mudança na bandeira tarifária de energia (contrariando recomendação técnica) e enfrenta nova ameaça dos caminhoneiros. Tudo isso se dá em meio ao impasse do Orçamento de 2022, dada à indefinição das fontes de financiamento do Auxílio Brasil, o programa de que vai substituir o Bolsa Família.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), demonstra otimismo com a aprovação da PEC dos Precatórios – que vai liberar espaço no orçamento para o novo programa social – na Câmara nesta semana. Já a reforma do Imposto de Renda, outra fonte para o Auxílio Brasil, segue empacada no Senado.

É nesse cenário que se cogita a expansão do auxílio emergencial, via crédito suplementar. Em evento em Minas Gerais, Bolsonaro afirmou que a questão do auxílio emergencial será resolvida esta semana. Segundo o presidente, o novo valor do benefício (hoje de R$ 150 a 375 mensais) já teria até sido decidido no fim de semana em reunião com os ministros Paulo Guedes (Economia) e João Roma (Cidadania).

“O dólar não vai ter uma tendência de queda internamente enquanto não resolverem a questão fiscal, ainda mais com essa piora das expectativas de crescimento”, afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, ressaltando que a instabilidade política provoca volatilidade da taxa de câmbio, o que inibe os investidores e faz com que os exportadores esperem para internalizar recursos.

Para Iha, BC errou ao diminuir ao reduzir o valor da oferta de swap extra, de US$ 1 bilhão para US$ 500 milhões, já que é grande a demanda por proteção diante do ambiente interno conturbado e das preocupações com a saúde da economia mundial, em meio à inflação alta e temores de desaceleração da atividade na China. “Se o BC não entrar mais forte no mercado, não vejo como o dólar possa recuar. A tendência é continuar bastante pressionado”, afirma.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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