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Educação financeira ainda é incipiente no Brasil, diz autor de Finanças do Lar

O autor destaca a importância de adaptar seu estilo de vida ao seu orçamento familiar (Foto: Marcelo Guterman)

Muitas pessoas ainda confundem educação financeira com conhecimento sobre investimentos, e saem equivocadamente em busca de ativos financeiros que funcionem como um “bilhete de loteria”, ou seja, um caminho rápido para a riqueza, avalia o professor e mestre em economia Marcelo Guterman, que além de ser pai de 7 filhos, possui vasta experiência no mercado financeiro.

Para Guterman, o interesse pela educação financeira vem crescendo no Brasil, mas ainda é pequeno em comparação com o apetite pelo mercado de investimentos,

“O que eu chamo de educação financeira é a primeira parte, a parte da organização do orçamento, de viver dentro das suas possibilidades, de saber poupar”, diz o professor, que reúne conceitos, técnicas e dicas para ajudar as famílias no processo de organização financeira em seu novo livro “Finanças do Lar” (editora: Labrador).

“[O livro] junta a minha experiência profissional com a minha experiência pessoal, porque manter uma casa com 7 filhos não é fácil”, conta ele em conversa exclusiva com o Mercado News.

Diferentemente de outros produtos disponíveis nas livrarias, que prometem atalhos para a riqueza ou soluções milagrosas para seus problemas financeiros, o livro de Guterman se ampara em conceitos e fundamentos econômicos sólidos, sem vender ilusões. “[O livro tem como base] aquilo que funcionou para mim, e que eu acho que funciona para todas as pessoas normais, como eu e você.”

Dominando seus desejos

Guterman observa que a falta de controle sobre os próprios desejos leva muitas famílias ao endividamento, e chama a atenção para a necessidade de controlar as demandas reprimidas dos membros da família, sempre reforçando a importância de viver dentro das limitações do seu orçamento. 

“A questão não é ser rico ou ser pobre, a questão é você viver bem dentro das suas possibilidades, porque as pessoas […] se sentem mais satisfeitas quando têm liquidez do que quando elas têm patrimônio. Se sentem mais seguras.”

Evidentemente, o autor reconhece a existência de acidentes de percurso, como a perda de um emprego ou o surgimento de algum gasto emergencial, que podem resultar em um endividamento inevitável, mas enfatiza que a maioria das famílias contrai dívidas pela falta de organização financeira e por não respeitar os limites impostos pelo orçamento familiar.

Portanto, o primeiro passo na organização das finanças do lar é a adaptação a uma vida financeira mais regrada, evitando gastos excessivos e adaptando seu estilo de vida ao seu orçamento. Feito isso, é hora de pensar na próxima etapa.

A importância de poupar

Uma vez que você tenha organizado seu orçamento, é chegada a hora de poupar. Guterman entende que a decisão de poupar deve vir antes do consumo, o que significa dizer que é preciso separar a parcela dos seus rendimentos que deverá ser poupada antes de começar a gastar. “Se a pessoa esperar poupar aquilo que sobrar no final do mês, nunca vai sobrar nada.”

Investindo em família

Conseguindo poupar uma parcela dos seus rendimentos mensalmente, chega o momento de investir. Ao contrário do que diz o senso comum, o professor ressalta que o ato de poupar é o que pode tornar as pessoas ricas, enquanto os investimentos servem para conservar ou aumentar a riqueza poupada. “Os juros compostos só trabalham em cima de uma quantia inicialmente poupada”, complementa.

Se tratando de uma família, é importante pensar nos investimentos de acordo com os objetivos que interessam a todos: a compra da casa própria, os estudos dos filhos, a aposentadoria dos pais, e assim em diante. Esses objetivos demandam das famílias uma visão de médio e longo prazo para seus investimentos, além da busca por ativos seguros e pouco voláteis.

“Você começa mantendo uma vida financeira regrada para depois investir. E o investimento serve para que você consiga manter essa vida financeira ao longo dos anos.”

Finanças e filhos

Na visão de Marcelo Guterman, uma ferramenta útil para ensinar aos filhos sobre educação financeira é a mesada, que traz para as crianças a noção de que os recursos são limitados e que é preciso adaptar seus desejos aos limites impostos pelo orçamento. “Isso vale para toda a vida, e tem gente que nunca aprende”, complementa.

O professor menciona que alguns educadores financeiros defendem a participação dos filhos na formulação do orçamento familiar, mas diz não compactuar com esse método. “As crianças, e mesmo os adolescentes, não têm noção daquilo que se gasta, […] e não têm condições de avaliar o salário do pai ou da mãe, que têm 20, 30 anos de experiência, e que é um salário muito maior do que eles mesmos irão receber no início de suas carreiras.”

Outro ponto que exige bastante esforço é o ajuste das expectativas que os pais têm para estilo de vida que desejam oferecer para seus filhos à realidade orçamentária da família.

Quanto “custa” um filho?

Esse esforço nos leva ao complicado questionamento sobre quanto os pais devem gastar com seus filhos. Guterman, que viveu a experiência da paternidade 7 vezes, sintetiza a resposta para essa pergunta na frase final de seu livro: “o filho custa tudo o que você tem, mas não mais do que você tem.”

O autor diz ainda que cada pessoa tende a oferecer um padrão de vida diferente aos seus filhos, de acordo com aquilo que ela julga ser o essencial dentro da sua realidade. 

“Eu me lembro uma vez, quando eu ainda tinha 4 filhos, em que eu estava conversando com uma pessoa e contei que tinha 4 filhos. A pessoa arregalou os olhos e disse: ‘nossa, como que você vai conseguir dar um carro para cada um deles?’”

Seguindo essa lógica, Guterman mostra que, por mais que os pais busquem oferecer o melhor padrão de vida possível para seus filhos, sempre haverá um patamar superior, mais caro, e que, em tese, é melhor. 

“E isso é uma coisa importante, às vezes a gente pensa ‘ah, eu não dei a melhor escola para o meu filho, a melhor educação formal’, e esse é o meu caso. Se eu tivesse menos filhos, eu conseguiria pagar uma escola melhor. Mas isso não significa que eles não tenham tido uma boa educação, até porque eles conseguiram aprender outras coisas que lhes serão úteis ao longo da vida, e que não necessariamente são aprendidas em uma escola de primeira linha.” 

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