Os juros futuros fecharam com queda nas taxas intermediárias e longas e estabilidade na ponta curta, resultando em perda de inclinação para a curva. Apesar da agenda promissora de indicadores e eventos nos Estados Unidos nesta quarta-feira, com a inflação ao consumidor pela manhã e a ata do Federal Reserve à tarde, foram as declarações do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kancuzk, lidas como “hawk”, que definiram o desenho, ainda na primeira etapa. Ele reforçou que o Copom tem um plano de voo para inflação convergir à meta ainda em 2022, mesmo diante do risco de que o ciclo de aperto monetário possa abalar a economia. O recuo da ponta longa teve ainda ajuda da baixa do rendimento dos Treasuries e dos preços do petróleo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 9,05%, de 9,065% no ajuste de segunda-feira e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,075% para 10,01%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,43%, de 10,513%. O diferencial entre as taxas de janeiro de 2023 e janeiro de 2027 ficou em 138 pontos, ante 145,5 pontos na segunda-feira.
A trajetória descendente prevaleceu durante boa parte do dia, com exceção de alguma volatilidade vista após a divulgação do índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês), que ficou levemente acima das expectativas, mas com núcleos em linha com o esperado. Depois, o dado foi absorvido, mas ainda restava a espera pela ata do Fed, à tarde. O impacto do texto, no entanto, foi bastante comedido, sem alterações nas estimativas do mercado para o início do tapering em novembro e aumento de juros em 2022.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, destaca o movimento de “flattening” da curva após a fala de Kanczuk, em evento do HSBC, reforçando o compromisso com a inflação na meta em 2022. “O mercado vinha numa percepção de que o BC poderia ampliar o horizonte de convergência, pois trazer a inflação para a meta no ano que vem seria bastante custoso para a atividade. Mas ele não foi nesta direção”, disse.
“Queremos fazer 2022 como foco, se não tenho 2022 certo, não tenho 2023 certo. Estamos mais preocupados com 2022. É 2022 que estamos olhando. No balanço entre suavizar e olhar para 2022 e convergência, estamos olhando mais para 2022 do que usual suavização do ciclo”, afirmou o diretor do BC, citando as frequentes surpresas de alta do IPCA.
Kanczuk disse também que o BC não pode considerar a discussão sobre dominância fiscal como impedimento para elevar juros, alegando que esta é uma questão para o Ministério da Economia.
Justamente em função da expectativa de inflação de 2022 (3,7%) estar desenquadrada da meta de 3,5%, e diante dos riscos fiscais, será necessário levar a Selic para terreno contracionista. O diretor reafirmou o a ideia de aplicar o aperto no ritmo de 1 ponto porcentual, mas disse que “não é um compromisso e que o BC pode alterá-lo se for necessário”. A aposta de nova elevação de 1 ponto na atual Selic de 6,25% nas próximas reuniões do Copom segue amplamente majoritária na curva de juros.
Por Denise Abarca
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