Mercados

Mau humor externo se junta a varejo fraco no Brasil e empurra Ibovespa para baixo

Aversão a risco internacional contamina o Ibovespa, que iniciou o pregão já com os dados fracos do varejo brasileiro relativos a agosto. Nos Estados Unidos, os títulos do Tesouro sobem pelo terceiro dia seguido, pressionando os mercados de ações para forte queda. No foco dos investidores está a expectativa de retomada dos estímulos monetários logo nos EUA, ao mesmo tempo em que há sinais de pressão inflacionária.

A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) comece a apertar sua política monetária antes do fim do ano e preocupações com a tendência de alta da inflação têm ajudado a impulsionar os juros dos Treasuries nas últimas semanas.

Essa ideia foi reforçada pelos dados da ADP. O setor privado dos Estados Unidos criou 568 mil empregos em setembro, ficando acima da expectativa de analistas, de criação de 425 mil postos.

“ADP eleva a expectativa de um payroll também forte”, diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ao referir-se ao relatório oficial de emprego americano, que será divulgado na sexta-feira.

“Acelera ou chancela de vez a expectativa do mercado com tapering já em novembro, assim como também aumenta estimativa com pressão inflacionária, além de antecipação de alta de juros para 2022 e não 2023″, explica Laatus.

O estrategista ainda acrescenta a preocupação de investidores em relação ao pacote de infraestrutura, que está com dificuldades para ser aprovado. Isso, diz Laatus, eleva o risco de calote e de os EUA perderem a nota de crédito, o triplo A.

Para completar a gama de fatores que podem influenciar o Ibovespa negativamente, há tentativas do governo brasileiro de avançar em pautas que tendem a comprometer o ajuste fiscal, como a de que estuda incorporar o pagamento de um ‘vale-gás’ à concessão de um auxílio temporário emergencial. Pelo plano, o benefício conjunto seria separado do Auxílio Brasil.

Só que a ideia esbarra na forma de financiamento. A equipe econômica quer todo o arranjo submetido ao teto de gastos, enquanto a ala política do governo e parlamentares pressionam para que despesas provisórias fiquem de fora do teto.

Ainda fica no radar a reforma do Imposto de Renda. Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e senadores governistas buscaram apoio da bancada do MDB no Senado para a reforma.

Além do declínio das bolsas de Nova York e das europeias, também refletindo dados fracos de atividade da zona do euro, o petróleo cede, jogando as ações da Petrobras para o negativo (recuo de quase 2% perto de 10h30), piorando a queda do Ibovespa.

Ontem, o índice brasileiro fechou em leve alta de 0,06%, a 110.457,64 pontos. Às 10h32, cedia 1,04%, aos 109.312,83 pontos, ante mínima diária a 108.887,50 pontos.

Conforme Samuel Cunha, economista da assessoria de investimentos H3 Invest, alta mensal de 0,3% nas vendas do varejo da zona do euro em agosto, menor do que o avanço de 0,8% previsto por analistas, se junta a um quadro de preocupação com a inflação na região. “Isso atrelado a uma inflação pujante, sendo ainda mais estimulada pela crise energética na Europa, faz com que paute um cenário de estagflação. Preocupa, até considerando a questão de possibilidade de redução de estímulos. Se traduz em incerteza do que deve ser daqui para a frente, o que explica a correção significativa das bolsas europeias”, afirma Cunha.

Enquanto a China segue em feriado, os papéis da Vale tendem a refletir o noticiário envolvendo a companhia. A empresa suspendeu a produção de cobre na mina do Salobo, em Marabá (PA), em virtude de um incêndio, cujas causas estão sendo apuradas. A produção deve ser retomada até o final de outubro. As ações da mineradora caíam 0,21%. Em meio ao feriado da Semana Dourada na China, o minério de ferro negociado em Qingdao fechou estável nesta quarta-feira, a US$ 116,58 a tonelada, em meio a baixa liquidez.

Além disso, ações do setor de consumo sentem o baque do enfraquecimento do varejo em agosto. Tanto o resultado do varejo restrito quanto do ampliado ficaram pior do que o esperado pelo mercado.

O economista-chefe da Necton, André Perfeito, já adianta que deve reduzir suas estimativas para o PIB desde ano e do seguinte após os dados varejistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

“A mistura de inflação persistente com atividade fraca irá jogar ainda mais pressão sobre a classe política para tentar “fazer algo” e isto pode gerar ruídos ao longo dos próximos dias. A dinâmica se torna mais desafiadora”, escreve em nota.

Por Maria Regina Silva

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Estadão Conteúdo

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