Mercados

Juros recuam com aumento do apetite pelo risco no exterior

O apetite por ativos de risco no exterior cresceu à tarde e ajudando os juros a acentuarem a queda, com mínimas na ponta longa no fim da sessão, que já vinha sendo antes embalada pelo alívio no mercado de Treasuries – a taxa da T-note de 10 anos voltou a ficar abaixo de 1,5%. Assim, a curva acabou fechando a semana com perda de inclinação.

O movimento, porém, seria até maior se o cenário interno ajudasse. Não fosse o pessimismo em relação ao quadro fiscal, em meio às investidas populistas para aumento de gastos e que acabam pesando no balanço de riscos para a política monetária, a devolução de prêmios seria mais profunda.

Ao término da sessão regular, o trecho longo tinha alívio entre 12 e 13 pontos-base, mas ainda há um caminho de melhora a se percorrer para que as taxas abandonem a marca de dois dígitos.

A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 terminou em 10,16%, de 10,285% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2027, a 10,55%, de 10,694%. Nos mais curtos, a taxa do DI para janeiro de 2023 caiu de 9,21% para 9,125%. O spread entre estes dois últimos fechou a semana em 142,5 pontos, de 149 pontos na sexta-feira passada.

A franca melhora no ambiente internacional, amparada no otimismo com um antiviral experimental produzido pela Merck e que se mostrou ativo contra o coronavírus e pela redução do risco de shutdown nos EUA, acabou se sobrepondo ao desconforto com o quadro local.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, vê a trajetória das taxas nesta sexta-feira mais ligada ao exterior, sem notícias relevantes internamente que pudessem justificar o fechamento da curva. “O cenário fiscal é muito conturbado, não existe perspectiva de queda firme para o pré longo”, disse, destacando que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai priorizar a questão dos precatórios e combustíveis em detrimento da agenda de reformas.

Em evento promovido pelo Morgan Stanley, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citou nesta sexta justamente que a curva está mais alta no Brasil porque há incertezas fiscais. “Há debate sobre como programas do governo pós-covid serão financiados”, afirmou, reforçando que os ruídos fiscais têm trazido apreensão.

Em meio ao debate de nova rodada de auxílio emergencial e ampliação do Bolsa Família, o presidente do BC afirmou que há dúvidas se o programa social será temporário ou permanente.

Não à toa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, cometeu um ato falho ao falar da prorrogação do auxílio emergencial durante evento no Palácio do Planalto. No seu discurso, disse que o ministro da Cidadania, João Roma, iria estender o auxílio emergencial, cujas despesas ficam fora do teto de gastos. Mais tarde, diante da repercussão rápida no mercado, esclareceu que trocou o Auxilio Brasil. O ato falho aconteceu em meio à pressão política para a extensão do auxílio emergencial, como revelou na quinta-feira o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O desconforto fiscal acaba, indiretamente, também pesando na ponta mais curta, na medida em que exige uma compensação da política monetária para recolocar a inflação na meta. “O fiscal acaba batendo no curto e no longo”, afirma Sanchez.

Por Denise Abarca

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Estadão Conteúdo

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