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Campos Neto diz que Selic final é mais importante que ritmo para alcançar meta

Após parte do mercado achar que a alta dos juros deveria ser mais veloz para enquadrar a inflação no próximo ano, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, respondeu nesta quinta-feira que o patamar da taxa Selic no fim do ciclo de aperto monetário é mais importante do que ritmo de alta para convergência da inflação à meta no horizonte relevante, em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

O presidente do BC ainda repetiu o compromisso de que a Selic chegará aonde for necessário para buscar o cumprimento da meta, em linha com a sinalização da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro – de um nível “significativamente contracionista” no fim do ciclo. Segundo Campos Neto, o BC não tem como divulgar qual será o patamar final da taxa Selic, até porque os próximos dados sobre a evolução da atividade e da própria inflação serão importantes para essa definição dentro do Copom.

Ainda as projeções do BC (3,7%) e do mercado (4,12%) indiquem um IPCA acima do centro da meta de 3,5% no próximo ano, o diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, aproveitou para enfatizar que o BC acredita que o atual passo de aumento dos juros básicos da economia, de 1 ponto porcentual a cada reunião, é compatível com a convergência para a meta ainda em 2022.

“Vamos continuar perseguindo a meta como tem sido feito. Em relação ao ritmo da política monetária, explicitamos que a Selic terminal é mais importante que o ritmo em si. E há um trade-off entre essa importância e a vantagem de se ter mais tempo para analisar informações em um ambiente volátil”, argumentou o presidente do BC.

Quanto à estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do BC em 2022 de 2,1%, conforme o RTI, maior do que a do mercado (1,57% no Boletim Focus) mesmo considerando uma trajetória de juros mais contracionista, Kanczuk argumentou que a evolução da atividade é impactada por outras variáveis além da política monetária.

Para 2021, o BC atualizou a projeção de PIB marginalmente, de 4,6% para 4,7%, abaixo da estimativa mediana da Focus (5,04%). O diretor lembrou que a projeção do BC é pior que a do mercado em 2021 e melhor em 2022.

“Tem outros itens, o que é (crescimento) em 2021 e 2022, hipóteses sobre o que vai acontecer com os serviços das famílias, questões pontuais sobre agropecuária e indústria extrativa. São outras coisas que entram na equação do PIB”, respondeu o diretor de Política Econômica.

Questionado sobre o impacto da Selic “significativamente contracionista” no mandato secundário do BC de suavização dos ciclos econômicos e busca do pleno emprego, incorporado com a lei de autonomia a partir deste ano, Campos Neto alegou ser mais importante atacar a inflação no momento.

“Entendemos, principalmente em um país como o Brasil, que tem memória inflacionária muito grande, que um dos processos mais disruptivos para geração de emprego, crescimento sustentável e planejamento de longo prazo, é o processo inflacionário. Nós entendemos que combater isso é muito importante.”

Apreensão com auxílio emergencial

O presidente do Banco Central ainda reconheceu que os ruídos fiscais envolvendo uma nova rodada do auxílio emergencial e a forma de ampliação do Bolsa Família têm gerado apreensão no mercado recentemente. “Tem um tema dos ruídos fiscais. Acho que o que tem gerado um pouco mais de volatilidade são o tema do auxílio emergencial, do Bolsa Família, como o governo vai fazer para ter uma forma de pagar, se vai caber no teto. O BC não comenta assuntos fiscais, mas entendemos que isso tem gerado alguma apreensão nas últimas semanas.”

Campos Neto voltou a dizer que, uma vez “virada essa página”, após a definição do desenho do auxílio e a forma de financiamento, o BC entende que o caminho será melhor pela frente.

Por Thais Barcellos e Eduardo Rodrigues

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Estadão Conteúdo

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