Os juros futuros fecharam o dia em baixa, tendo um pequeno alívio nos prêmios de risco, proporcionado pela melhora de humor no ambiente internacional, mantendo o comportamento dos Treasuries como principal parâmetro. Os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano operaram a maior parte do dia em baixa, mas mostraram volatilidade no meio da tarde, o que levou as taxas locais a reduzirem sensivelmente o recuo, também na esteira da virada do dólar para cima. Internamente, o clima é de compasso de espera pelo desenrolar da questão dos precatórios, Auxílio Brasil e reforma do Imposto de Renda no Senado e, na agenda econômica, pelo Relatório de Inflação (RI) na quinta-feira, ainda que dados fiscais na terça e nesta quarta-feira tenham fornecido algum viés de alívio.
Como as taxas haviam subido por quatro sessões consecutivas, houve acúmulo de alguma gordura na curva, e a trégua da aversão ao risco no exterior deu a senha para um ajuste.
“A curva hoje está bem em linha com o mercado global. Os Treasuries pioraram à tarde, depois que Powell falou da inflação e os mercados acabaram reagindo”, disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier.
Durante o Fórum do Banco Central Europeu (BCE), realizado nesta quarta, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, notou que a inflação nos EUA deve ficar “bem acima da meta nos próximos meses”, mas perderá fôlego adiante, prevendo perspectiva positiva no médio prazo, mas com elevada incerteza. Disse ainda que a economia está perto de atingir progresso substancial necessário para o tapering, mas que elevação da taxa básica de juros ainda está longe de ocorrer.
“O risco é a inflação alta nos Estados Unidos persistir por mais tempo. A discussão passa a ser o ritmo de redução da liquidez via títulos que será adotado e o timing da primeira alta dos juros”, comentou, em relatório, o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.
Em reação às falas de Powell, a T-note de 10 anos, que chegou a rodar a 1,47% nas mínimas pela manhã, recuperou o nível de 1,5% à tarde. E, assim, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro 2022 passou de 7,196% a 7,180%, a do janeiro 2023 recuou de 9,175% a 9,120%, a do janeiro 2025 caiu de 10,275% a 10,21% e a do janeiro 2027 foi de 10,673% a 10,57%.
Na cena interna, impasses fiscais seguiram à mesa. Um dos principais, a questão dos precatórios, foi tema de audiência pública no Congresso hoje à tarde. Nela, o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, defendeu a PEC que trata do pagamento dessa dívida e disse que ela é compatível com o teto. “O crescimento dos precatórios não está compatibilizado com o do orçamento, que segue o teto de gastos. Os precatórios saíram muito da normalidade. Não era previsível, saiu do padrão”, afirmou.
Na mesma linha, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), relator da PEC dos Precatórios, disse hoje que “não é razoável” sair de um gasto de aproximadamente R$ 30 bilhões para uma fatura próxima a R$ 90 bilhões, como previsto para 2022.
Mas se o futuro traz imprevisibilidade, dados fiscais de curto prazo animam o sentimento de risco. Os resultados do Governo Central e do Setor Público Consolidado surpreenderam, o primeiro com um déficit menor do que esperado e o segundo, com superávit calcado na arrecadação forte de Estados e municípios.
“Os números fiscais de curto prazo seguem positivos”, pontua a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. “Mas a incerteza da manutenção do teto, precatório, risco de renovação de auxílio, acabam pesando mais”, pondera.
Por Denise Abarca
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