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Cautela com China, EUA e juro alto no Brasil empurra Ibovespa para baixo

Preocupações com o ritmo de crescimento da China, expectativa de redução antecipada de estímulos nos Estados Unidos e temores reforçados em relação à inflação brasileira, que continua requerendo juro elevado, são alguns dos vetores que justificam queda do Ibovespa nesta terça-feira. No exterior, o sinal é de baixa nos ativos acionários e de alta nos títulos americanos e no dólar. Este ambiente faz com que o Ibovespa volte a ceder, após subir 0,27%, aos 113.583,01 pontos, na segunda-feira.

A aceleração da T-Note de 10 anos nos Estados Unidos, para nova máxima diária, 1,556%, levou o Ibovespa a novas mínimas, com o índice brasileiro cedendo mais de 1%, se distanciando dos 113 mil pontos. Com expectativas de juros mais altos nos EUA e corte em estímulos, o investidor corre em busca de ativos mais seguros, casos dos títulos americanos, cita Thiago Raymon, chefe de estratégia da Wise Investimentos.

“O aumento das Treasuries é a tônica hoje. Há um debate se de fato a economia dos EUA já atingiu a recuperação e, por sua vez, há preocupação com a inflação. Obviamente que uma hora a conta chega”, diz, completando, contudo, que “a priori, o quadro não é tão descontrolado, mas pesa.” Às 11h09, o Ibovespa tem nova mínima e atinge 112.088,28 pontos, com queda de 1,32%, depois da máxima diária a 113.584,12 pontos. Investidores esperam o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, para ter sinais sobre a política monetária americana.

O mercado espera ter mais informações sobre a possibilidade do Fed iniciar a redução do tapering (estímulos econômico) em novembro, por meio do discurso de Powell. Mais cedo, a secretária do Tesouro do país, Janet Yellen, fez novo apelo para que o Congresso suspenda logo o teto da dívida do país. Por meio de carta aos congressistas, Yellen afirmou que o Tesouro ficará sem caixa suficiente para manter suas medidas fiscais extraordinárias em 18 de outubro, caso deputados e senadores não aprovem a suspensão do teto até lá.

“O externo está pesando, principalmente com aumento das Treasuries 10 anos supera 1,50%, e deve pesar na Bolsa, que ainda tem preocupações relacionadas à China, em razão dos últimos dados e ainda por dúvidas quanto ao caso Evergrande. No Brasil, a ata do Copom sugere uma alta superior a 1 ponto da Selic. As varejistas, que estão sofrendo, devem continuar”, avalia Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença. Hoje, várias apresentavam queda forte, caso de Magazine Luiza ON, com recuo de quase 4%, por exemplo.

Ao divulgar a ata do Copom, que elevou o juro básico de 5,25% para 6,25% ao ano na semana passada, indicando novo ajuste dessa magnitude em outubro, o Banco Central (BC) deixou um pouco mais aberto para altas maiores do que um ponto, avalia Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. No entanto, pondera que no documento divulgado hoje o BC reforça que o pensamento dele é fazer mais aumentos de um ponto porcentual na Selic. Neste sentido, a RB estima a Selic fechando este ano em 8,25% e subindo 0,75 ponto porcentual no início de 2022, com a taxa indo a 9,00%.

Além de preocupações com a situação da economia doméstica, o ritmo de crescimento da China, principal parceiro comercial do Brasil, volta ao radar hoje, se já não bastassem as incertezas relacionadas ao ‘caso Evergrande’. Analistas começam a reduzir suas projeções de crescimento do gigante asiático em meio a preocupações com choques de oferta.

O lucro das empresas industriais chinesas subiu 10,1% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2020, desacelerando em relação a julho (alta anual de 16,4%). O preço do minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou em queda de 6,08% (US$ 112,06 a tonelada). As ações de mineradoras e siderúrgicas caiam em bloco, com os papéis da Vale cedendo cerca de 3%. Ainda sobre a companhia, a mineradora brasileira informou que 30 dos 39 trabalhadores que estavam presos na mina subterrânea em Sudbury, no Canadá, voltaram à superfície na manhã desta terça-feira (28). Os demais funcionários estão sendo retirados.

Conforme Cruz, da RB, há grande preocupação relacionada à velocidade da atividade chinesa, após relatos e de dados mostrando desaquecimento da economia. “Por trás desse número lucro industrial entendo que já tem uma restrição maior imposta pelo governo em termos de energia elétrica, com indústrias tendo de desligar energia na marra, comprometendo a produção de componentes importantes para indústria de carros, celulares, televisores. Atividade mais fraca na China acaba tendo eco em outras regiões do mundo”, avalia.

No entanto, a alta do petróleo no exterior traz algum alívio, impulsionado as ações da Petrobras para alta superior a 2,5%. A commodity sobe no mercado futuro pela sexta sessão consecutiva, em meio à continuidade do aperto da oferta num momento em que a demanda cresce com o relaxamento de restrições motivadas pela pandemia de covid-19. As ações da Petrobras subiam em torno de 1,40%.

Por Maria Regina Silva

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Estadão Conteúdo

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