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Empresas ‘tech’ locais sofrem após abertura de capital

“Grandes bolhas acontecem em torno de grandes histórias.” É assim que a gestora Squadra, que ficou conhecida após expor problemas na contabilidade do ressegurador IRB Brasil Re, descreve a situação do setor de tecnologia no País, em um de seus mais recentes relatórios. A gestora aponta que segmentos da moda podem ter gerado excesso de confiança nos investidores. Para a Squadra, aberturas de capital de empresas relativamente novas e pequenas tiveram avaliação de “gente grande”. Agora, a conta começou a chegar.

Há quem já esteja sentindo o baque. A Mosaico, dona do site de busca Buscapé, por exemplo, chegou à Bolsa em fevereiro, avaliada em R$ 2,5 bilhões – e, no pregão de estreia, quase dobrou de valor, para R$ 4,9 bilhões. Sete meses depois, no entanto, a companhia de tecnologia amarga queda de cerca de 40% em relação ao preço do IPO. O presidente da empresa, Maurício Cascão, diz que o mercado brasileiro ainda passará por uma curva de aprendizado sobre o setor. Ele diz que, ao contrário do que mostra o preço de seus papéis, a empresa está em rota de crescimento.

O caso não é isolado. Levantamento da Economatica, a pedido do Estadão, mostra que apenas três empresas do setor de tecnologia que abriram capital desde o ano passado registram valorização até o momento. Os destaques são a Locaweb, que registra alta de mais de 800% desde fevereiro de 2020, e a companhia de cashback Méliuz, com valorização de quase 400% desde o IPO.

No entanto, a maior parte da companhias já perdeu pelo menos um quarto e, muita vezes, a metade de seu valor desde a estreia na B3. É o caso da plataforma de contratação de serviços GetNinjas, que recua 27% desde sua abertura de capital. Já o brechó online Enjoei perdeu mais do que 50% de seu valor, mesma situação de companhias como Mobly e Westwing. Procuradas, essas últimas três empresas não concederam entrevista.

Para bancos de investimento e gestores consultados pela reportagem, parte da queda reflete a troca de posições das carteiras por investidores diante da maior aversão ao risco do mercado, tendo em vista o contexto político e econômico no Brasil. Aliado a isso, o cenário de aumento de juros e de inflação amplia ainda mais a pressão sobre empresas que precisam de capital para garantir um elevado grau de crescimento, característica inerente às startups.

Fermento na massa

O fundador da gestora KPTL, especializada em investimentos no setor de tecnologia, Renato Ramalho, pondera que o baque no preço das ações não ocorreu apenas no setor “tech”, mas afetou também outros segmentos.

Em relação às empresas de tecnologia, Ramalho acredita que haverá um aprendizado, para que os negócios cheguem mais maduros ao IPO. O gestor lembra que os investidores de tecnologia entendem que muitas vezes o lucro pode demorar, mas esperam sinais que apontem nessa direção.

Já o sócio da Spiralem e especialista no setor de tecnologia Bruno Diniz afirma que as aquisições são um dos pilares das empresas de tecnologia para o ganho de escala rápido. Segundo ele, apesar de investidores estarem trocando posições nesse momento de mais volatilidade, em busca de companhias mais tradicionais, a Bolsa vai seguir mudando seu perfil. Logo, as empresas de tecnologia deverão ganhar espaço dentro da B3 no médio e longo prazos.

Nesse sentido, o movimento da Locaweb tem saltado aos olhos – ela já fez onze aquisições em um ano e meio. Já a Méliuz, que nasceu como uma empresa de “cashback”, mas vem se expandindo para outras áreas, já fez cinco aquisições só neste ano.

Negócios em baixa ganham novos sócios

Enquanto boa parte do mercado castiga as ações das empresas de tecnologia que chegaram recentemente ao mercado, há quem olhe para esses ativos como uma oportunidade. Na visão da analista de varejo da XP, Danniela Eiger, que acompanha as ações de Mosaico, Enjoei e Westwing, em um cenário de alta de juros é natural que negócios que precisam crescer antes de começar a dar lucro sofram mais. “Esse fato comprime o valor dessas empresas.”

No entanto, há quem aproveite o momento de pressão para apostar nesses negócios e adquirir papéis com valores mais em conta. O BTG Pactual comprou ações da Mosaico e, hoje, já detém 13,3% da companhia, direta e indiretamente. Já o fundo Dynamo ampliou a posição na Enjoei, da qual hoje detém 5,07%.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Fernanda Guimarães

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Estadão Conteúdo

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