Mercados

Ibovespa limita perda a 2,33%, a 108,8 mil pontos, retornando a novembro

Expectativa quanto a provável default da Evergrande, gigante do setor imobiliário chinês, azedou o humor dos investidores ao redor do mundo nesta segunda-feira, 20, em semana marcada também pela cautela para decisão e sinalização de política monetária do Federal Reserve, nos Estados Unidos, e aqui, pela do Copom, na mesma quarta-feira. Assim, o Ibovespa manteve perdas acima de 3% em boa parte da tarde e fechou o dia limitando a baixa, aos 108.843,74 pontos (-2,33%), entre mínima de 107.520,14 – menor nível intradia desde 3 de março (107.465,78) – e máxima, da abertura, aos 111.434,67 pontos, com giro financeiro a R$ 38,7 bilhões na sessão.

O nível de encerramento desta segunda-feira foi o menor desde 23 de novembro (107.378,92 pontos). Dessa forma, a perda acumulada pelo Ibovespa desde o recorde histórico de fechamento, em 7 de junho (130.776,27 pontos), de quase 22 mil pontos, corresponde agora a 16,77%. Considerando apenas esta segunda-feira, o índice cedeu 2.595 pontos, no que foi a sua quinta perda diária consecutiva, vindo de quedas de 2,07% e de 1,10% nas duas sessões anteriores. A atual é a mais longa sequência negativa desde o intervalo de seis sessões entre 19 e 27 de janeiro – naquela ocasião, contudo, em apenas uma delas o ajuste foi superior a 1% (-1,10%, em 21/1).

No mês, as perdas do Ibovespa chegaram hoje a 8,37%, o que faz este setembro, até aqui, disputar o posto de segundo pior mês da B3 desde o começo da pandemia, superado pelo fundo do poço de março de 2020 (-29,90%) e, agora, praticamente em paridade com fevereiro daquele mesmo ano, quando havia cedido 8,43%.

Em 2021, o índice acumula queda de 8,55%. Em porcentual, a perda desta segunda-feira foi a pior desde o último dia 8, quando havia cedido 3,78%. De lá para cá, o arrefecimento da crise político-institucional deu lugar a outros desdobramentos, negativos, como a elevação do IOF até o fim do ano e os crescentes receios quanto às consequências de eventual insolvência da Evergrande para a economia chinesa e global.

Temores quanto a um risco sistêmico no setor de construção chinês, e os efeitos para a retomada da segunda maior economia do mundo, mantêm as commodities sob pressão, com o minério de ferro em novo tombo, de quase 9% hoje, a US$ 92,98 por tonelada em Qingdao. No dia 8, o minério iniciou série negativa, ainda não interrompida, que se agravaria especialmente a partir do dia 16, quando cedeu 8%, refletindo a piora de percepção sobre a China, visão que já vinha se debilitando há algum tempo com iniciativas regulatórias restritivas em setores como o do aço.

“Os preços das matérias-primas estão associados à nova política do governo chinês, com relação a metas ambientais, diminuição da produção de aço e desaceleração do setor de construção civil no país”, diz Túlio Nunes, especialista de finanças da Toro Investimentos. “Os passivos da incorporadora (Evergrande) giram em torno de US$ 300 bilhões, e as preocupações sobre a alta alavancagem do setor imobiliário chinês ligam o sinal de alerta nos mercados globais. As agências de classificação de risco já reduziram suas notas de classificação para um possível calote”, acrescenta Nunes.

Assim, na B3, o setor de mineração e siderurgia esteve, de novo, entre os mais penalizados da sessão, com Vale ON em queda de 3,30% – que superavam 5%, mais cedo – e CSN ON, de 3,09%, também moderada em direção ao fechamento do dia. As perdas entre os grandes bancos chegaram a 3,75% (Bradesco PN) no encerramento, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 1,06% e 1,12%, após perdas superiores a 3% observadas até o meio da tarde.

Filipe Fradinho, analista da Clear Corretora, observa que o preço do minério de ferro acumula queda de 55% em apenas dois meses, o que afeta diretamente o Ibovespa, pela exposição que o índice tem a commodities – em Cingapura, segundo ele, o minério foi negociado a US$ 92,80 por tonelada. A Evergrande “viu suas ações despencarem 10%, em meio a temores sobre a incapacidade da empresa de pagar sequer uma parte de sua dívida que vence na próxima quinta-feira”, acrescenta.

“O mercado já abriu hoje em queda acentuada acompanhando os do mundo todo, por conta dos temores sobre possível default da Evergrande, e os impactos que isso teria sobre o sistema financeiro chinês como um todo. Além disso, há postura mais conservadora dos mercados, primeiro, para o início – iminente – do processo de ‘tapering’ retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos, e de que forma os bancos centrais, no mundo, se comportarão nesta semana repleta de reuniões. É uma tempestade quase perfeita que vemos aqui, mais uma nesse ano, prejudicando bastante a expectativa de recuperação da Bolsa no médio prazo”, diz Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos.

Neste contexto desafiador, apenas cinco ações da carteira Ibovespa conseguiram resistir ao mal-estar geral para fechar o dia em alta: Copel (+4,68%), Sabesp (+1,81%), CVC (+0,88%), Iguatemi (+0,40%) e Energias BR (+0,11%). Na ponta negativa do Ibovespa, Braskem cedeu 11,54%, à frente de Via (-6,74%) e de Méliuz (-5,91%).

Por Luís Eduardo Leal

Siga o Mercado News no Twitter e no Facebook e assine nossa newsletter para receber notícias diariamente clicando aqui.

Estadão Conteúdo

Recent Posts

Fup pede que Petrobras investigue denúncia contra Roberto Castello Branco

A Federação Única dos Petroleiros (Fup) denunciou o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco à…

34 minutos ago

Estamos cada vez mais confiantes de que inflação continuará caindo na zona do euro, diz Nagel

Dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Joachim Nagel afirmou nesta segunda-feira, 25, que a autoridade…

1 hora ago

Clarissa Sadock: Indústria de aviação tem puxado mais discussões sobre biocombustíveis

A vice-presidente de energia renovável da Vibra Energia e futura CEO da Comerc Energia, Clarissa…

2 horas ago

Correção: Carrefour Brasil admite suspensão de fornecimento de carne, mas nega desabastecimento

Na nota publicada anteriormente a informação de que a Friboi, marca de carnes bovinas da…

2 horas ago

Correção: Carrefour Brasil admite suspensão de fornecimento de carne, mas nega desabastecimento

Na nota publicada anteriormente a informação de que a Friboi, marca de carnes bovinas da…

2 horas ago

Deputado do MDB apresenta requerimento de criação de comissão externa contra Carrefour

O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) apresentou nesta segunda-feira, 25, um requerimento de criação de…

3 horas ago