Os juros oscilaram o dia todo perto da estabilidade, alternando viés de alta e de baixa durante a sessão para encerrarem próximos dos ajustes anteriores. O movimento reflete o compasso de espera sobre como vão evoluir as reformas pendentes e a questão dos precatórios e, na ponta curta, o mercado já tinha se ajustado à mensagem do Banco Central de que não pretende acelerar o ritmo de alta da Selic e agora é esperar pela decisão da próxima semana. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) mais líquido, o de janeiro de 2023, fechou em 8,975%, de 8,952% ontem no ajuste, e as dos DI para janeiro de 2025 e janeiro de 2027 encerraram estáveis em 10,13% e 10,55%.
No aguardo das definições do cenário fiscal e já embutindo muito prêmio de risco pela expectativa de deterioração, os juros tiveram desempenho até melhor do que os demais ativos – a Bolsa passou o dia em queda firme e o dólar subiu para o nível de R$ 5,26. A estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, afirma que o quadro fiscal está muito no radar, com o mercado ponderando o fluxo de notícias, que ora têm viés positivo ora negativo. “Essa do corte de subsídios pode estar ajudando, ainda que, ao mesmo tempo, a Câmara esteja aprovando manutenção da desoneração da folha para os setores”, disse, lembrando ainda que a questão dos precatórios segue em aberto.
Segundo apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o governo definiu um plano de corte de subsídios tributários e incentivos fiscais, mas com interpretação branda da emenda constitucional que exige a proposta de redução, incluindo, por exemplo, não prorrogação de benefícios já existentes.
Quanto aos precatórios, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara iniciou nesta tarde a análise do parecer da PEC enviada pelo governo e que prevê pagamento parcelado da dívida com valores a partir de R$ 66 milhões. O parecer do relator, deputado Darci de Matos (PSD-SC), é pela admissibilidade do texto. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse esperar que uma saída definitiva seja obtida na próxima semana.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, diz ver viés negativo para os ativos com a PEC dos precatórios, na medida em que o parcelamento é equivalente a um calote fiscal. “E, no Senado, há riscos de ajustes no projeto tributário e perda de receita se não passar a taxação dos dividendos”, acrescenta.
Os contratos curtos tendem a ficar mais engessados daqui até o Copom, após a forte chacoalhada promovida pela fala de Campos Neto segundo a qual o BC não vai alterar seu plano de voo a partir de dados de inflação de alta frequência, numa clara referência ao IPCA de agosto acima das estimativas. O mercado ajustou suas apostas para uma nova alta de 1 ponto da Selic na semana que vem, embora as mudanças não tenham alterado a percepção de que o orçamento total levará a taxa básica para perto de 9%. Tanto nos DIs quanto nas opções digitais a expectativa de 1 ponto é amplamente majoritária. Assim como entre os economistas. Na pesquisa do Projeções Broadcast, de 51 instituições, 44 preveem aumento de 1 ponto, para 6,25%.
Na gestão da dívida, o Tesouro elevou hoje a oferta de LTN para 7 milhões, ante 1,5 milhão ofertado no leilão anterior com os mesmos vencimentos. O lote de NTN-F subiu para 300 mil, de 100 mil na semana passada e o de LFT, no entanto, foi menor, com 1,5 milhão.
Por Denise Abarca
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