Mercados

Dólar à vista sobe 0,65% com exterior negativo e Campos Neto

Após manhã de muita instabilidade, com trocas constantes de sinal, o dólar à vista ganhou fôlego ao longo da tarde e registrou novas máximas, encerrando o pregão desta terça-feira, 14, em alta firme. O principal catalisador para a arrancada do moeda americana no fim dos negócios foi a deterioração do ambiente externo, com perdas fortes dos índices das Bolsa em Nova York – que respingaram no Ibovespa – e a piora das divisas emergentes. Depois de trabalhar em queda a maior parte do dia, o Índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes – também se fortaleceu e renovou máxima, operando perto da estabilidade.

Por aqui, operadores relataram certo desconforto com a interrupção da tramitação da PEC dos Precatórios na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara após concessão de vista coletiva do parecer pela admissibilidade confeccionado pelo deputado Darci de Matos (PSD-SC). Trata-se de um sinal de que haverá um caminho árduo até uma solução para o pagamento das dívidas judiciais e, por tabela, para definição do reajuste do Bolsa Família – condição essencial para a definição do Orçamento de 2022.

Com máxima a R$ R$ 5,2638, registrada na reta final de pregão, o dólar à vista encerrou a sessão a R$ 5,2573, em alta de 0,65%. Na B3, o giro com o contrato futuro de dólar para outubro – principal termômetro do apetite por negócios – foi mais uma vez reduzido, na casa de US$ 10,8 bilhões.

A mínima do dólar (R$ 5,1996) veio pela manhã, na esteira da divulgação da alta de 0,3% do índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em agosto, abaixo das expectativas (+0,4%). Esse resultado reforçou a leitura do Federal Reserve de que a alta da inflação é transitória e deu vazão à aposta de que o início da redução da compra mensal de bônus (‘tapering’) virá apenas no último bimestre deste ano.

Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, a queda acentuada das bolsas americanas ao longo da tarde trouxe uma onda de aversão ao risco, já que se esperava uma recuperação dos índices após as perdas recentes. “O CPI era o último dado que tinha potencial de ser forte para mexer com a expectativa do tapering. O resultado pesou bem no DXY pela manhã, mas agora parece que o mercado já começa a se ‘hedgear’ para o encontro do FOMC”, afirma Natali, em referência ao encontro do comitê de política monetária do Fed no próximo dia 22.

Por aqui, o mercado de câmbio recebeu, em um primeiro momento, de forma amena a sinalização do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não haverá aceleração do ritmo de alta da Selic – atualmente em 1 ponto porcentual – no encontro do Copom neste mês (dias 21 e 22). Em evento pela manhã, Campos Neto repetiu que vai “levar a Selic aonde precisar”, mas ponderou que o BC não “vai reagir sempre a dados de alta frequência”, no que foi interpretado como uma referência a alta de 0,87% do IPCA em agosto, estopim para que parte do mercado passasse a trabalhar com a perspectiva de alta de 1,25 ponto porcentual ou de até 1,50 ponto da Selic neste mês.

A sinalização de Campos foi criticada por economistas e gestores, por representar supostamente um risco de desancoragem das expectativas de inflação para 2022. Diversas casas já projetam inflação mais elevada e crescimento mais baixo no ano que vem, o que joga contra a moeda brasileira.

Natali, da Inversa, observa que, dada a forte queda dos juros futuros mais curtos, o dólar até que subiu pouco por aqui, já que há uma diminuição da atratividade de operações com arbitragem do diferencial de juros interno e externo. “O desempenho da taxa de câmbio está até tímido, talvez porque tem muita gente vendida em dólar. Hoje pode ser só o começo desse movimento de depreciação adicional do real”, diz Natali, ressaltando que, ajustado pelo risco, a moeda brasileira não é a mais atraente entre emergentes para o carry trade.

O estrategista da Inversa vê hoje três fatores que podem levar a uma alta do dólar nos próximos meses: o início do ‘tapering’ nos EUA, o problema fiscal doméstico e a perspectiva de que se consolide o cenário de polarização nas eleições presidenciais de 2022, com disputa entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em evento hoje, o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que, com a melhora das contas externas, o dólar só não está abaixo de R$ 5,00 hoje porque “estamos produzindo muitos ruídos”, em especial em relação ao reajuste do Bolsa Família. Para o economista, se o Brasil mantiver o compromisso com as regras fiscais, a taxa de câmbio deve ficar em R$ 5,00 ou abaixo desse nível nos próximos anos.

Já o estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management e ex-diretor do Banco Central, Tiago Berriel, afirmou que o dólar parece estar respondendo às incertezas fiscais e institucionais domésticas. “Espero que tenhamos tempo de usufruir no câmbio de termos de troca mais favoráveis”, afirmou Berriel.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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