O Ibovespa chegará na terça-feira à última sessão de agosto acumulando perda de 1,69% no mês, após o ajuste negativo de 0,78%, aos 119.739,96 pontos, nesta segunda-feira, 30, em que voltou a se dissociar do desempenho majoritariamente positivo em Nova York, com S&P 500 e Nasdaq em novas máximas históricas. Se, na sexta-feira, a B3 se alinhou ao discurso ‘dovish’ do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, nesta segunda-feira prevaleceu a cautela sobre o cenário doméstico, em semana que reserva leitura sobre o PIB do segundo trimestre e a definição do valor da tarifa de energia elétrica, da bandeira vermelha 2, para setembro.
Além disso, a reversão do apetite por risco deriva também de disputa interna na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), opondo Caixa e BB, do governo, às demais instituições, e a expectativa para o que de fato virá no 7 de setembro, após o presidente Bolsonaro ter dito no fim de semana que trabalha com três cenários para o futuro: “prisão, morte ou vitória”. Refletindo as incertezas e a proximidade do fim do mês, o giro financeiro se mostrou fraco como na sexta-feira, nesta segunda-feira a R$ 25,2 bilhões. Entre a mínima e a máxima do dia, oscilou pouco mais de 1,3 mil pontos, de 119.354,12 a 120.684,47, saindo de abertura aos 120.677,33 pontos.
Em desdobramento positivo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta segunda concordar em encaminhar solução para o pagamento de precatórios no ano que vem pelo Judiciário. Assim, sinalizou mudança de estratégia para viabilizar essa despesa em 2022 e turbinar o Bolsa Família, abrindo mão da PEC enviada ao Congresso. Após reunião com Guedes, nesta véspera do envio do projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) do próximo ano, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse esperar encaminhar, ainda nesta semana, solução para o pagamento dos precatórios em 2022.
Se uma solução para os precatórios começa a dar sinais de pacificação, uma nova frente de discórdia, opondo governo e organizações empresariais, abriu-se em meio à crise entre os Poderes, o que levou à Febraban a se posicionar no período da tarde sobre o conteúdo de “manifesto” que havia levado os bancos públicos Caixa e BB a romper com a instituição.
Segundo a Febraban, o objetivo era defender a “harmonia dos três Poderes”. A instituição esclareceu não participar de elaboração de texto com ataques ao governo ou à política econômica, e que a intenção era pedir “serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes”. “Nenhum outro texto foi proposto e aprovação foi só para documento submetido pela Fiesp”, diz a Febraban.
Entre os dados domésticos, destaque nesta segunda-feira para as contas do Governo Central, que registraram déficit primário em julho. No mês passado, a diferença entre as receitas e as despesas ficou negativa em R$ 19,829 bilhões, menor que as expectativas do mercado financeiro, cuja mediana apontava saldo negativo de R$ 25,750 bilhões. Ainda assim, o resultado – que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – foi o terceiro pior desempenho para o mês da série, iniciada em 1997.
Aqui, “depois de encerrar o último pregão na máxima, nada mais natural do que uma correção para o mercado. E o volume muito abaixo da média corrobora essa expectativa – em movimento de queda liderado por bancos e construção”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. “Do lado das notícias, nada muito relevante para justificar essa correção, mas chamou atenção a desaceleração do IGP-M em agosto, de 0,78% para 0,66%, assim como a evolução entre os três Poderes com relação aos precatórios”, diz Ribeiro.
“O mercado continua acompanhando as questões políticas, tensão que voltou a crescer no final de semana, com expectativa concentrada nas manifestações do 7 de setembro. O relatório Focus trouxe pela manhã aumento de projeções para câmbio e inflação, e menor para o PIB, o que contribui também para a cautela dos investidores”, diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para queda de 4,04% em Cyrela, à frente de Cogna (-3,83%) e de Yduqs (-3,76%). Na face oposta, Lojas Americanas (+2,86%), Americanas ON (+2,69%) e Minerva (+1,08%). O dia foi negativo para as ações de commodities (Petrobras ON -1,24%, Vale ON -0,64%) e bancos (Bradesco PN -1,07%, BB ON -0,95% e Itaú PN -0,72%).
Por Luís Eduardo Leal
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