Mercados

Taxas de juros de médio e longo prazos disparam com piora do risco fiscal

Após ensaiar uma trégua na terça-feira, os juros voltaram a subir com força nesta quarta-feira com a curva empinando ainda mais pela pressão maior nos vencimentos de longo prazo. Até tentaram um pequeno alívio depois da ata do Federal Reserve, mas a tensão com o cenário fiscal e institucional no Brasil se impôs. Os sinais de desancoragem fiscal vindos da discussão sobre a PEC dos precatórios, Auxílio Brasil e teto de gastos, em meio a revisões para cima de inflação e para baixo do PIB, acendem os alertas quanto à nota de crédito do País pelas agências de risco, enquanto no Congresso a votação da reforma do Imposto de Renda emperrou mais uma vez.

A ponta curta até conseguiu encerrar com viés de baixa, com a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechando em 6,72%, de 6,676% na terça. A do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,369% para 8,49%, enquanto a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 9,87%, de 9,605%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,32% (10,034% na terça) e o DI para janeiro de 2031, a caminho dos 11%, teve taxa de 10,82%, de 10,522%.

Os momentos mais críticos do dia foram o fim da manhã e o fim da tarde, quando as taxas dos principais contratos abriram mais de 20 pontos-base, refletindo zeragem de posições vendidas (stop loss) em vários vértices. Nas mesas, teve grande repercussão a decisão da consultoria Eurasia de rebaixar a trajetória de longo prazo do Brasil de neutra para negativa, dadas as renovadas preocupações com a política fiscal e inflação persistente. A consultoria cita em especial os comentários do presidente Jair Bolsonaro para deslegitimar as eleições de 2022 que exacerbaram as tensões institucionais e a deterioração da agenda de reformas no Congresso.

Na terça, o governo, mais uma vez, não conseguiu colocar a proposta do IR em votação na Câmara. Num primeiro momento, a leitura foi de nova derrota, mas muitos viram o evento até com certo alívio, dada a leitura de que com as constantes mudanças, o texto foi desfigurado e não cumpre mais o seu papel.

Marco Antonio Caruso, economista-chefe do Banco Original, disse que o mercado até tentou melhorar com a ata do Fed, que ele considerou entre neutra e levemente “dovish”. “Olhando os dois mandatos, o de inflação parece ok, mas o de emprego ainda não. Houve um aumento do tom quanto aos riscos da variante delta para o crescimento econômico”, disse. “O DI teve até um pouco de alívio, mas não durou muito porque a inclinação da curva está muito calcada nas questões domésticas. O aumento de prêmio pelo fiscal veio para ficar por um bom tempo”, prevê.

Um dos principais focos de tensão com as contas públicas é a polêmica em torno da PEC dos precatórios, uma conta de R$ 90 bilhões que o governo quer pagar de forma parcelada para não estourar o teto dos gastos, numa solução que o mercado considera como calote. O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, que participou nesta quarta de audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, disse que é preciso lidar “bem” com o problema, ou “vai ser muito pior”.

Por Denise Abarca

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Estadão Conteúdo

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