Todo ano, uma área maior que a Inglaterra pega fogo no Brasil. Nos últimos 36 anos, 150,9 mil km², em média, foram tragados pelo fogo. Se somada a área queimada desde 1985, o acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional. Foram 1.672.142 km² de vegetação queimada, o equivalente a 19,6% do Brasil.
Os dados inéditos fazem parte de um estudo inédito do Mapbiomas, projeto integrado de universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia. Com recursos de inteligência artificial, foram sobrepostas imagens detalhadas de queimadas em todos os tipos de uso e cobertura da terra. Ao todo, houve 108 terabytes de imagens processadas, revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo. O resultado permite agora identificar a área queimada em cada mês, durante todo o período avaliado, além do tipo de uso e de cobertura do solo queimado.
O levantamento revela que quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa, sendo que os biomas Cerrado e Amazônia concentram 85% de toda a área queimada pelo menos uma vez no País. No caso do Cerrado, a área queimada por ano, desde 1985, equivale a 45 vezes o Município de São Paulo. Outro dado preocupante aponta que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não são eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou mais de uma vez no período, e 48% mais de três.
Pantanal
A análise revela que o Pantanal foi o bioma que mais queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi incendiado pelo menos uma vez, uma área de 86.403 km². No Cerrado, a área atingida chegou a 36% (733.851 km²), enquanto na Amazônia o fogo foi identificado em 16,4% (690.028 km²).
“A informação de que 20% da área do Brasil já foi queimada não é pouca coisa. A Amazônia, por exemplo, que é metade deste País, teoricamente não deveria queimar. É uma floresta úmida, o fogo não faz parte de seu regime natural, mas temos visto isso, puxado por fatores como o avanço de áreas pastagem”, diz Ane Alencar, coordenadora do Mapbiomas Fogo. “Esse cenário mostra que o fogo tem de ser trabalhado com ações de combate como política pública. É um cenário muito preocupante, que tem se agravado nestes últimos anos.”
Vera Arruda, pesquisadora da equipe do MapBiomas Fogo responsável pelo mapeamento do Cerrado, afirma que a região é dona de uma vegetação nativa em que o fogo faz parte de seu regime, mas não na dimensão que tem ocorrido. “A extensão e frequência da área queimada no Cerrado nas últimas quase quatro décadas revela que algo está errado com o regime de fogo no bioma”, comenta.
Os Estados com maior ocorrência de fogo no período analisado foram Mato Grosso, Pará e Tocantins. Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos afetados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010 e 2017), altas taxas de desmatamento – principalmente aquelas ocorridas na Amazônia depois de 2019 – tiveram alto impacto no aumento da área queimada. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de queimadas e incêndios florestais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por André Borges
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