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Banco Central monta curso de educação financeira para alunos da rede pública

PLA-POU-CRÉ. Parece um trava-língua, mas é a base do programa de educação financeira que o Banco Central quer levar a 100 mil escolas municipais, estaduais e federais do Ensino Fundamental: planejamento (PLA), poupança (POU) e crédito (CRÉ) são os pilares do Aprender Valor, que tem como objetivo chegar a 5 milhões de alunos até o fim de 2022.

A primeira perna aborda o orçamento, o entendimento do dinheiro que entra e que sai. A segunda trata do conceito de economizar e é levado ao estudante, por exemplo, a diferença de poupança passiva (a que é feita com as sobras de recursos) e a ativa (que é separada no momento inicial de um pagamento). A terceira aborda os diferentes tipos de financiamento e empréstimos.

“Talvez a criança não aproveite o CRÉ porque não tem acesso ao sistema financeiro, ou tenha alguma dificuldade com o POU porque os recursos são escassos, mas quero incutir nela o conceito”, afirma o diretor de Relacionamento Institucional do BC, Maurício Moura. “Quero que saiba que, se guardar R$ 1 ou R$ 2 de R$ 10, mesmo que seja obtido na rua, e gaste os outros R$ 8, quando chegar ao final de um ou dois meses pode ter uma quantia de dinheiro que ela não tinha”, diz.

O projeto-piloto teve início em abril em cinco Estados (Pará, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná) e no Distrito Federal. De 429 escolas, o Aprender Valor passou a ser usado em 10,4 mil. O número de municípios saltou de 257 para 1.630, com representantes de todas as regiões. O universo de 36 mil estudantes na fase inicial se multiplicou para 308 mil. Mais para frente será aberta a segunda fase, que terá início em 2022, quando o objetivo é chegar a 5 milhões de alunos. Moura está confiante de que muito mais adesões ocorram, já que a primeira fase ainda contou com momentos de incerteza da volta às aulas pós-pandemia.

O público-alvo, sem dúvida, são os estudantes, mas a intenção do projeto é envolver ao máximo os professores, um total de 1,2 milhões de profissionais. “Muitas vezes, os professores não têm educação financeira nem para gerir seu próprio recurso e têm pouco tempo para desenvolver programas de educação financeira”, afirmou o diretor do BC. Por isso, paralelamente ao conteúdo para as crianças, eles contam com um curso de finanças pessoais.

‘Curso puxado’

Glaucia Bravin, diretora da Escola Estadual Braz Sinigaglia, de Batayporã, uma cidade de 11,3 mil habitantes no interior do Estado de Mato Grosso do Sul, teve sua escola selecionada e implantou o Aprender Valor aos 35 alunos do 5.º ano fundamental. “O programa traz coisas novas até para nós, professores, diretores e coordenadores. A gente acha que sabe do assunto porque não deve para ninguém, mas não é isso coisa nenhuma. O curso é bem puxado e atual”, disse. “Até eu, que sou professora de matemática, tive de parar em alguns momentos para refletir sobre o tema.”

O programa para os alunos é voltado para os anos ímpares do Ensino Fundamental e vai prontinho para o professor: desde a preparação da aula, o material a ser utilizado e a forma de se fazer a avaliação. No geral, os 35 projetos a serem usados de cinco a 10 aulas são feitos de forma transversal, ou seja, dentro de uma disciplina já prevista na grade curricular das escolas, como matemática, português, história ou geografia.

Para colocar o projeto de pé, o BC participou de um edital para obter financiamento do Fundo de Direitos Difusos (FDD). O programa foi aprovado e a autoridade monetária recebeu R$ 11 milhões, que serão usados até 2022. O BC tinha o conhecimento de educação financeira, mas precisava de uma parceria para levar a proposta mais próxima das escolas. Por isso, com os recursos contratou o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), que desenvolveu o conteúdo e fez a interação com as secretarias de Educação.

Foi criada, então, uma plataforma online onde os professores, coordenadores e diretores registram a escola, as turmas e os alunos. “Com essa plataforma, eu chego ao Brasil todo ao mesmo tempo. Não preciso estar no Amazonas ou no Rio Grande do Sul para fazer isso”, disse Moura.

Por Célia Froufe

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Estadão Conteúdo

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