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Ivan Monteiro: Credit Suisse vai contratar e vê ambiente mais racional

O Credit Suisse não pretende tirar os pés do Brasil. Ao contrário, está reforçando seu time para recuperar o terreno perdido frente ao aumento de competição no assessoramento a empresas, que tem batido recordes de emissões de ações, renda fixa e fusões e aquisições no País, afirma o vice-chairman de banco de investimento e responsável pela área de mercado de capitais, Ivan Monteiro, ao Estadão/Broadcast. Algumas contratações já foram feitas, e a estratégia, diz ele, é reforçar ainda mais o time, que está prestes a ter um novo comandante em meio ao anúncio da saída do atual presidente no Brasil, José Olympio Pereira. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Como foi o seu primeiro ano de Credit Suisse?

O Credit perdeu (nos últimos anos) participação de mercado na parte de banco de investimento, só que não perdeu suas capacitações. Isso é incompatível. Na minha visão, o time estava reduzido de uma maneira geral. Então, começamos um processo de crescimento, de adição de profissionais. A mais recente foi a contratação de um diretor de dívida, Rodrigo Fittipaldi, e um pouquinho antes o Leandro Giacometti, para ser diretor do banco de investimento.

Já é possível notar resultado?

A gente está mais presente em relação ao ano passado. E há mudanças estruturais no mercado. Se em 2007, 2008 havia dois bancos de investimento, o Credit era um deles. Hoje em dia, há os tradicionais bancos de crédito, muito competitivos, e o fenômeno recente das plataformas digitais. O mercado mudou e a competição ficou muito maior. O Credit nunca vai se caracterizar por ter um largo balanço para competir com os grandes bancos de varejo no Brasil, mas é um banco extremamente inteligente, com ideias originais, abordagens únicas. Tenho uma visão de que o que a Lava Jato fez para o setor de compliance, que deixou de ser uma coisa chata para ser algo que gera valor, a pandemia fez com a área de recursos humanos. Sou um gestor de talentos, o tempo todo, com todos os desafios que a pandemia impôs.

Quais são esses desafios?

Comecei na pandemia no Credit Suisse, e tem pessoas que ainda não conheci pessoalmente, só por Zoom. Tem uma perda grande. Aquele tapinha nas costas no horário do café, o puxão de orelha, o elogio fazem falta. Isso não é substituído. A gente faz hoje road show (reuniões com investidores) de uma maneira muito mais eficiente do que no passado, mas isso em termos de gestão de equipe é complexo.

Como está a sucessão no Credit Suisse e de que maneira esse processo impacta o banco?

O anúncio da saída do Zé Olympio foi extremamente profissional, correto. Mesmo assim, a gente tem conseguido manter uma equipe muito coesa, trazendo questões que falam muito alto junto às novas gerações. Se o mundo do ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança) já estava aí, depois da pandemia, então, tornou-se uma coisa absolutamente fundamental – e o Credit Suisse pratica isso.

Qual sua opinião sobre empresas que buscam o IPO (oferta inicial de ações, do inglês) somente para pagar dívidas?

Cada caso é um caso. Tem situações nas quais o mercado abraça o crescimento, o Ebitda (geração de caixa), a consolidação ou uma tese inédita, um reposicionamento. Se não conseguir fazer o IPO, não quer dizer que a empresa deixou de ser boa e pode partir para soluções como fusões e aquisições, ou uma rodada privada. Vimos no mercado de renda fixa várias operações de gerenciamento de passivos, com empresas recomprando dívida antiga e emitindo nova. Depende da estrutura de capital de cada empresa, do que pretende fazer. Não tenho nenhum preconceito de que uma empresa que está enfrentando problema de endividamento busque uma solução no mercado de capitais. Nosso papel como banco de assessoramento, e que tem responsabilidade muito grande em relação aos investidores, é de, com a maior transparência possível, mostrar quais são os desafios de cada uma.

Como o sr. vê a alta concorrência entre bancos de investimento e o reflexo nas taxas de operação?

A competição como um todo aumentou bastante, é diferente daquele mercado de 2007 e 2008, quando o Credit Suisse tinha a dominância. Na janela anterior, várias operações vieram ao mesmo tempo. Isso gera benefício ao investidor, que escolhe as melhores ofertas, ou coloca pressão adicional em relação à precificação. O “fee” (taxa) aumentou bastante, mas a quantidade de operação, também, e temos vários bancos muito atuantes, concorrendo por isso, acho saudável.

O Credit Suisse está satisfeito com a presença no Brasil?

O banco tem uma estratégia para recuperar mercado, com adições à equipe. A gente não para com as duas contratações. Uma das questões mais importantes hoje é reter talentos. Temos preocupação muito grande em que nossos profissionais permaneçam (no banco). Hoje, não é mais só rouba monte (entre bancos de investimento), tem competição com as fintechs, startups.

O que esperar do mercado de capitais em 2022 com a eleição, que promete ser muito polarizada e já vem sendo antecipada?

A gente ainda não vê essa antecipação prejudicando a dinâmica do mercado, que continua muito positiva. À medida que vamos nos aproximando do ano eleitoral, que tende a ter disputa acirrada, vai ter alguma consequência.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Aline Bronzati e Altamiro Silva Junior

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Estadão Conteúdo

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