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BV vê lucro saltar 76,4% e mantém IPO como ‘plano A’ para financiar expansão

De olho em uma oportunidade para retomar os planos de se listar na bolsa, o BV, antigo Banco Votorantim, viu seu lucro líquido saltar 76,4% no segundo trimestre ante um ano, batendo a cifra recorde de R$ 388 milhões no período. Além da base mais fraca de comparação em meio aos efeitos da pandemia no setor financeiro, o conjunto de resultados teve como motores a expansão do crédito, em especial, no segmento de veículos, do qual é líder, mas com os calotes sob controle, e ainda uma base de receitas mais diversificada – veia em que aposta nos últimos anos.

“Nosso crescimento veio levemente acima dos resultados já reportados por outros bancos. No segundo trimestre, conseguimos crescer tanto no nosso core, veículos, como na estratégia de diversificação de receitas crescendo em ritmo bem forte e que inclui financiamento de energia solar, banco de atacado, cartões”, resume o presidente do BV, Gabriel Ferreira, em entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), para comentar os números da organização.

Controlado pelo BB e pela família Ermírio de Moraes, o BV encerrou junho com uma carteira de crédito de R$ 73,2 bilhões, montante 6,4% maior em 12 meses. Na originação, há avanços bem maiores. No financiamento de veículo, por exemplo, segmento do qual o BV é líder no Brasil, o crescimento foi de 76,0% no segundo trimestre ante um ano, empurrando o saldo para R$ 41,8 bilhões. A carteira, por sua vez, teve alta de 5,1%.

Em termos de calotes, o banco vê seu custo de crédito sob controle. No segundo trimestre, apresentou queda de 38,1% ante um ano. O desempenho reflete menores gastos com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, e a melhora nos indicadores de inadimplência, que se manteve em 3,5%, após a recuperação na atividade econômica.

Do lado do capital, o BV segue com estrutura saudável, mas monitora os desdobramentos da reforma tributária, diz Ferreira, para mensurar os efeitos em seu balanço. “O Índice de Basileia cresceu 0,8 ponto porcentual, para 15,2%, com Capital Principal aquele próprio dos acionistas em 12,7%”, diz o diretor financeiro (CFO) do BV, Rodrigo Tremante, que também ressalta a variação dos resultados do banco acima dos pesos pesados do setor financeiro.

Do lado da estratégia de diversificação de receitas, o BV viu o financiamento de placas solares disparar 237% no segundo trimestre contra um ano antes, para R$ 1,5 bilhão. Recentemente, o banco aumentou sua fatia no Portal Solar, portal especializado nesta área, e tem ainda a opção de adquirir integralmente a parte de crédito.

Em paralelo, o BV obteve recentemente o aval do Banco Central (BC), para aportar R$ 100 milhões na fintech Trademaster, sua aposta para crescer no mercado de recebíveis de pequenas e médias empresas (PMEs). Além disso, ofertou R$ 500 milhões como funding para a operação. A expectativa, com o empurrão da fintech, é dobrar a carteira de PMEs até o fim deste ano. Hoje, é de R$ 900 milhões.

O presidente do BV não abre detalhes da estratégia do banco quanto a futuro investimentos. Segundo Ferreira, o setor financeiro vive um movimento de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) em torno da inovação. Nesta arena, o BV, diz, olha “oportunidades que façam sentido”. Sem revelar o tamanho do cheque, diz que o banco tem meio bilhão de reais em seu fundo de venture capital, ponte para as aquisições.

“Não posso dizer tese ou nome. Estamos olhando cadeias de valor. Queremos acoplar crédito em setores que fazem sentido”, explica, mencionando o mercado de cirurgias de baixa complexidade. “É um mercado gigante”, avalia. Além disso, o BV não é “petulante”, em suas palavras, e olha negócios via parcerias, a exemplo do que fez com a rede dr. Consulta, de centros médicos.

IPO

Em meio a rumores quanto a uma possível venda do BV, que envolveram até a PagSeguro, empresa de maquininhas do Uol, o presidente do banco nega qualquer movimento nesta direção. Uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), segundo ele, segue como o “plano A” assim que o mercado retome a um “bom patamar”. Enquanto isso, afirma, “segue a vida”.

“Continuamos monitorando os múltiplos dos bancos. Tanto no Brasil quanto na América Latina, eles não voltaram ao patamar pré-pandemia. Vamos ver após a temporada de balanços do segundo trimestre”, afirma Ferreira.

O BV, emenda ele, está pronto para se listar na bolsa tão logo a janela de oportunidade – no preço que os sócios desejam – apareça. Ferreira admite, porém, que há conversas frequentes com investidores, conforme antecipou o Broadcast, no mês passado.

“O que tem e é natural em um processo preparatório é conversa com muitos fundos. Conversamos com ao menos 50 nas rodadas com investidores pré-IPO. Vários deles mantêm contato”, justifica Ferreira.

Essa veia de comunicação se acentua, de acordo com o executivo, na temporada de resultados. “É como se o BV já fosse listado. Os investidores querem acompanhar o banco mais de perto, por isso, o colocam em seu radar. Daí, evoluir para um investimento privado…”, diz o presidente do BV.

Uma das novidades que o banco deve levar aos investidores nessa temporada é quanto sua ofensiva digital. Depois de explorar sua base de clientes de cartões de crédito, o BV vai se utilizar da sua principal expertise: financiamento de veículos. A ideia, conforme Ferreira, é ofertar sua conta digital para quem recorre ao conglomerado para obter recursos para comprar um carro e também desbravar o mar aberto.

Atento à guerra de contas deflagrada pelos bancos digitais no País, Ferreira não abre os números do BV. Cita apenas, que o banco tem 3,5 milhões de pessoas físicas que tomam crédito no banco e que migrá-las para o digital faz total sentido em termos de relacionamento – e receitas. “A gente não dá guidance. Estamos pensando grande. Algumas unidades de milhão é a estratégia”.

Com patrimônio líquido de R$ 11,7 bilhões, o BV apresentou retorno recorrente sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 13,9% ao fim de junho contra 8,7% um ano antes, acompanhando a melhora do balanço passados os efeitos mais duros da pandemia. Seus ativos totais alcançaram R$ 119 bilhões ao fim de junho, queda de 2,4% em relação ao patamar visto há 12 meses.

Por Aline Bronzati

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Estadão Conteúdo

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