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Entrevista: Banrisul espera retomada no crédito com novos rumos para cartões e corretora

O foco do Banrisul são pequenas e médias empresas e pessoas físicas (Foto: Banrisul/Ivan de Andrade)

Para o Banrisul (BRSR6), o “pior ficou para trás” e o banco gaúcho já vislumbra uma redução nas provisões de crédito, disse o diretor de Finanças e Relações com Investidores, Marcus Vinícius Feijó Staffen, em entrevista ao Mercado News. De acordo com ele, o guidance de rentabilidade de 10% a 14% neste ano é factível, podendo entregar um 2021 “muito mais alinhado com o que é um retorno histórico do banco”.

Já a projeção de crescimento de carteira de crédito entre 10% e 15% “é um guidance desafiador, eventualmente ele pode ser revisto. Mas eu imagino um segundo semestre bem mais forte do que o primeiro semestre foi, e então espero já voltar para um ritmo normal de crescimento de carteira que o banco tinha pré-pandemia, porque a realidade tanto de trabalho na rede de agências quanto de demanda dos clientes já está muito próxima de um nível considerado normal”, afirmou Staffen.

Em paralelo à melhoria de eficiência, visando reduzir a distância aos principais concorrentes privados, o Banrisul parece atento a oportunidades de parcerias e joint ventures para suas linhas de negócio, como a Banrisul Cartões e a corretora, que deve distribuir produtos de terceiros neste segundo semestre. “O mercado vem se mexendo e a gente pode ter certeza que está sempre próximo e avaliando as possibilidades que se apresentarem”, declarou o executivo.

A respeito do tema de privatizações, o diretor da instituição financeira estatal disse que “não depende da administração do banco, essa é uma decisão que compete ao controlador, no nosso caso é o estado do Rio Grande do Sul”.

A seguir, leia a entrevista completa:

Qual o foco do Banrisul, que nasceu em 1928 e abriu capital em 2007?

O Banrisul está quase completando 93 anos. 2007 é um marco, sem dúvida. A gente chama internamente de IPO (oferta inicial de ações), mas ele já tinha um capital aberto desde a década de 70, só que tinha uma parcela muito pequena em circulação no mercado. Então para nós o ano de 2007 é uma quebra e, a partir dele, o banco ganha não só tração para reforçar os seus negócios, como também essa proximidade com o mercado. E esse é um ponto que a gente valoriza porque lá atrás em 2007 chegamos a ter cerca de 90% do nosso capital com investidores estrangeiros e dali em diante o mercado foi fazendo uma série de movimentações, seguindo essa tendência de crescimento exponencial no número de participação de CPFs das pessoas físicas na Bolsa. O banco vem seguindo exatamente esse mesmo ritmo, temos uma expansão de base de acionistas, que começa o ano de 2019 em 30 mil acionistas e, hoje, temos pouco mais de 155 mil acionistas pessoas físicas. Ele responde pelo volume, ainda com um bom percentual, mas pela quantidade de mais de 98% do número total de acionistas do banco. Isso a gente vê com uma importância muito grande para o mercado de capitais e é um desafio também para estar cada vez mais próximo, cada vez deixar esse acionista melhor informado, e é um desafio da área de RI, sobretudo, fazer esse meio de campo.

Sobre o banco, o nosso foco sem dúvida são pequenas, médias empresas e pessoas físicas. Temos um nicho de atuação geográfica, dentro do estado do Rio Grande do Sul, mas o banco também tem uma participação forte em Santa Catarina e alguma participação pontual na região Sul, Paraná e em alguns poucos estados no Sudeste. O banco tem um portfólio completo de produtos: é um banco de varejo que compete com os principais bancos privados e públicos do mercado. Então a gente costuma se definir como um grande banco aqui no Sul. A gente gosta de destacar: hoje cerca da metade dos depósitos dos clientes do Rio Grande do Sul está no Banrisul, ou seja, temos um marketshare [fatia de mercado] de 50% da captação dentro do estado. Isso reforça cada vez mais a confiança e a credibilidade que o banco tem e que isso, em momentos de maior turbulência de mercado, cada vez mais acaba ficando acentuado.

E é um banco que tem um portfólio de produtos completo e competimos em toda e qualquer linha com os principais players dos grandes bancos do mercado brasileiro.

Quais os planos do banco para com o agronegócio?

O estado do Rio Grande do Sul tem uma vocação histórica e tem uma participação do agronegócio em si muito relevante na sua economia. Estimativas mostram que o agronegócio chega a responder até 40% do PIB do Rio Grande do Sul, então não tem como o Banrisul estar de fora. A gente vem nesses últimos anos reforçando muito a linha de atuação, não só a linha comercial, como também fazendo a lição de casa, o trabalho operacional, para que esse tipo de crédito e assistência aos clientes torne-se uma experiência cada vez mais tranquila e acho que o Agro Fácil Conecta [aplicativo do banco que tem objetivo de simplificar o fluxo de operações de crédito no agronegócio] é o melhor exemplo.

Nós soltamos, neste ano, pela primeira vez, um guidance para o mercado de crescimento de crédito rural, onde a nossa estimativa e a projeção para 2021 é um crescimento entre 22% e 27% e seguimos confiantes que vamos atender, inclusive o desempenho vem mostrando isso. Um outro ponto que dá para destacar que também foi comentado no lançamento do Plano Safra é o lançamento de espaços temáticos, que a gente chama de “agências agro”, que começam em 3 pontos, mas a nossa ideia é, conforme vai ganhando tração, ampliar ao longo do estado do Rio Grande do Sul. É um ambiente para facilitar ainda mais negócios com esse segmento tão importante.

Como tem sido o processo de digitalização, desde o lançamento do Banrisul Digital e o fechamento recente de agências?

Antes de março de 2020, era difícil imaginar que de uma semana para outra, por exemplo, pensando do ponto de vista operacional, nós íamos conseguir colocar em menos de uma semana toda a nossa equipe para trabalhar remotamente, e sem fazer com que o banco parasse. Então isso demonstra uma capacidade de adaptação muito rápida. Mas é claro que isso afetou os nossos clientes e o desafio é que eles possam ter uma plataforma – e aí vem o Banrisul Digital – cada vez mais amigável para poder facilitar experiências e as possibilidades de negócios no aplicativo.

A gente tem um crescimento de transações de cerca de 20% se comparar o primeiro trimestre de 2020 que é pré-pandemia com o primeiro trimestre de 2021 – o número de transações no Banrisul Digital. E hoje, cerca de 80% das transações já são feitas fora do ambiente de agências, por canais digitais. Dentro do ambiente da agência só 5% das transações são feitas. As demais são feitas nos caixas eletrônicos, nos ATMs ou correspondentes. E o desafio para um banco de 4 milhões de clientes é cada vez mais ampliar sua base de usuários do aplicativo. Hoje a gente já vem crescendo cerca de 15% ano contra ano, mas a base de clientes do Banrisul Digital ainda tem um bom espaço para crescer. Vamos lembrar também da característica do cliente Banrisul, pensando num estado como o Rio Grande do Sul, que tem 11 milhões de habitantes em 500 municípios, então o estado tem uma característica de pequenos municípios. Muitas vezes o cliente tem aquela cultura de utilizar o canal físico e isso ainda demanda um tempo para ser feita essa transição.

Com relação ao movimento de fechamento de agências, a gente começa esse movimento no segundo semestre de 2019, e se intensifica a partir do segundo semestre de 2020, quando a pandemia já se torna em uma realidade e a gente já consegue lidar melhor com tudo isso. Mas outro ponto que é vital, não só o fechamento das agências – que é um movimento contínuo – é o movimento de cada vez mais buscar novos modelos, posso chamar de salas de negócios ou o que equivale. Por exemplo, o que citei do rural, e salas de negócios voltadas ao nosso segmento de mais alta renda. E esse acaba sendo o desafio para os próximos períodos: como melhor otimizar o custo atendendo o cliente bem e podendo gerar negócios sem aquela estrutura da agência tradicional onde há demanda por segurança, carro forte, transporte de numerário físico, que acaba correspondendo por uma parcela muito significativa dos custos de uma agência. Então se a gente conseguir migrar para esse modelo mais de negócios e menos de transações, isso tem uma economia representativa e sem deixar de atender aquele cliente que prefere ir no canal físico.

O banco já trabalha com um volume menor de provisões? O pior já ficou para trás em termos de inadimplência?

Ficou sem dúvida. Olhando os dados do primeiro trimestre já consegue ficar claro a redução das provisões de crédito. O mercado inteiro acabou se comportando dessa forma. Soltamos um guidance de custo de crédito, de índice de despesas de provisão sobre a carteira, que eu imagino atender com tranquilidade, eventualmente até podendo ter mais alguma surpresa positiva. O banco foi muito conservador no processo de concessão de novos créditos durante a pandemia, tanto é que a nossa carteira cresce menos que a média dos principais bancos de varejo. E isso é sobretudo um movimento orquestrado, um movimento que a gente já esperava dado o nosso conservadorismo, e naturalmente tem se mostrado por um índice de inadimplência baixo, se a gente comparar com termos históricos. Fechamos o primeiro trimestre com 2,4% [índice de inadimplência de 90 dias], se não é o índice mais baixo é muito próximo dos índices mais baixos e também dado o mix da nossa carteira, com uma participação bem elevada do crédito consignado, naturalmente tende a convergir para um padrão de provisão mais perto do histórico do Banrisul. Claro que o segundo e terceiro trimestres de 2020 são pontos fora da curva.

Como tem evoluído a carteira de crédito do banco nos últimos meses, após a projeção de crescimento de 10% a 15% no início do ano?

Essas projeções foram constituídas no fim do ano passado, foi um momento em que a pandemia sobretudo estava em níveis mais estabilizados tanto em número de mortes como de novos casos, mas muito mais controlada.

No fim de fevereiro, início de março, onde os números de casos e números de mortes aumentaram bastante, isso acabou afetando sobretudo o crédito que é originado na rede de agências. Isso a gente viu no primeiro trimestre.

Eu diria que esse, com olhos de hoje, é um guidance desafiador, eventualmente ele pode ser revisto. Mas eu imagino um segundo semestre bem mais forte do que o primeiro semestre foi, e então espero já voltar para um ritmo normal de crescimento de carteira que o banco tinha pré-pandemia, porque a realidade tanto de trabalho na rede de agências quanto de demanda dos clientes já está muito próxima de um nível considerado normal.

Qual o principal objetivo do banco para 2021? O nível de rentabilidade segue pressionado?

A rentabilidade sofre sem dúvida uma pressão que é natural. Você tem uma pressão de curto prazo em margens, pelo aumento da taxa de juros que no Banrisul e nos demais bancos tem um efeito de aumento de custo de captação. Então você tem uma pressão em margem financeira de curto prazo que naturalmente com o giro da carteira, com a carteira já sendo originada nos novos patamares de taxas de juros, ao longo do tempo, se recupera. O guidance para a rentabilidade é factível, eu diria que a gente atende, e esperamos com o crescimento mais forte de carteiras no segundo semestre poder entregar um 2021 muito mais alinhado com o que é um retorno histórico, um retorno médio, do banco.

Sempre lembrando que a gente tem um desafio muito claro aqui na administração e não é de agora, é até de antes da pandemia. Tanto a busca de melhoria de eficiência como o fortalecimento das atividades e das estratégias comerciais reduziram o gap [distância] que o banco tem de rentabilidade com os principais players privados, isso a gente conseguiu ao longo de 2020.

Esse gap era maior, mesmo com toda a pandemia, mas que afetou o setor como um todo, e o que mudou foi o patamar de retorno dos bancos que estava numa faixa de 20%, dos privados, e que caíram um pouco assim como o Banrisul caiu. E esse é nosso objetivo de gestão: fechar esse gap, se aproximar cada vez mais dos nossos principais concorrentes privados e a gente tem confiança que isso no médio e longo prazo vai ser possível.

E como o banco está enxergando essa competição com os bancos digitais?

Isso acontece naturalmente no setor bancário brasileiro ao longo dos anos. Mas a gente tem uma variável que é importante no setor que são os movimentos regulatórios, tanto o PIX foi um ponto importante que o mercado vem se adaptando e vem buscando cada vez mais novas alternativas a partir desse produto, como do próprio Open Banking que vai ser uma realidade ao longo do segundo semestre de 2021 e 2022.

O mercado naturalmente vai se adaptar. Pressão em rentabilidade é normal dado o aumento de concorrência, mas o desafio, não só para o Banrisul quanto para os demais bancos é conseguir se adaptar a essa nova realidade, se adaptar a um ambiente que cada vez mais o cliente vai estar no centro e com um poder de tomada de decisão nas suas mãos, de poder oferecer o melhor produto, as melhores condições e o melhor atendimento para, de alguma forma, defender sua rentabilidade.

Se você me perguntar como vai estar o setor bancário daqui a 5 anos é difícil de traçar em números, mas muito provavelmente bem diferente do que ele está hoje, essa mudança é forte.

Há algum plano de joint venture/parcerias no radar para o banco?

O Banrisul teve, no passado recente, exemplos muito bem-sucedidos tanto no ramo de seguros, como no próprio ramo de originação de crédito com parceiros. O Banrisul fez joint ventures que conseguiram ampliar a originação de crédito consignado e também ampliar a base de produtos de seguridades. Estamos atentos ao mercado e aí tem diversos ramos onde isso é possível. O mercado vem se mexendo e a gente pode ter certeza que está sempre próximo e avaliando as possibilidades que se apresentarem.

Como o banco está posicionado na possibilidade de uma privatização, com tantos movimentos de desestatização ocorrendo recentemente? Faz sentido ter no radar essa possibilidade diante de eventual necessidade do governo gaúcho para sanear as contas públicas?

Esse é um fato, sem dúvida, só que ele não depende da administração do banco, essa é uma decisão que compete ao controlador, no nosso caso é o estado do Rio Grande do Sul. Cabe a administração do Banrisul fazer o banco cada vez mais forte e rentável.

Há uma reestruturação em curso do segmento de investimento do banco?

Esse é um ponto que é importante. Na minha fala inicial até reforcei a participação e relevância do banco no mercado sobretudo aqui no estado, mas a gente sabe que com a expansão e a disseminação, não só de plataformas, mas também do conhecimento para as pessoas, ter um portfólio de produtos cada vez mais completo acaba sendo fundamental porque o cliente vai demandar cada vez mais diferentes alternativas. Agora para o segundo semestre a ideia é ter a distribuição de produtos de terceiros, fundos de investimentos, pela nossa corretora. Para poder atender os diversos públicos e eventualmente buscar algumas outras alternativas dentro da nossa corretora, que tem um tamanho pequeno, e que está estudando alternativas e possibilidades de parcerias.

No programa Banritech, do Banrihub, ocorreu uma discussão com startups sobre inovação e criatividade. Como o banco pretende inovar cada vez mais daqui para frente?

O Banrihub é um conjunto de iniciativas ligadas à tecnologia e à inovação onde o banco se coloca como parceiro e investidor, justamente com esse objetivo. Então o Banrisul não só está investindo em algumas alternativas de fundos para disseminar startups, aí tem exemplos como o Fundo Anjo do BNDES, como também criou o seu próprio espaço que é o Banritech, em conjunto com a Tecnopuc, que vai ter um espaço físico que deve ser inaugurado em 1 ou 2 meses, para justamente fazer esse processo de aceleração. O Banrisul lançou um edital que vem trabalhando com 30 startups que já foram selecionadas, também em conjunto com a Tecnopuc, para acelerar e desenvolver essas empresas e tem tido excelentes experiências. Eu mesmo tive contato com algumas delas e a gente fica muito positivamente impressionado com o que vem sendo apresentado para nós. Além disso, o banco é apoiador e é participante do NAVI, uma iniciativa de inteligência artificial aqui dentro do estado do RS e também do Instituto Caldera, que é um instituto que promove startups, tecnologia e inovação das principais empresas do estado do RS. Então as iniciativas são muitas e a gente está muito conectado e muito antenado nesse tema.

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