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O que esperar da temporada de balanços do 2° trimestre?

O setor de commodities segue sendo o centro das atenções em meio à alta de preços, aliada à forte demanda internacional (Foto: Shutterstock)

As empresas do setor de commodities, em especial dos setores de mineração, siderurgia e proteínas, devem apresentar os melhores balanços para o segundo trimestre de 2021, impulsionadas pela alta dos preços desses produtos e pelo câmbio que segue depreciado. Vale (VALE3), JBS (JBSS3) e Gerdau (GGBR3, GGBR4) merecem destaque, segundo analistas.

Com o início da temporada de resultados do segundo trimestre na terça-feira (20), investidores buscam extrair informações valiosas sobre o processo de recuperação da economia brasileira, analisando os números divulgados pelas empresas. Neste sentido, analistas também apostam em resultados sólidos no setor bancário. Roberto Attuch, CEO da plataforma de research Ohmresearch, avalia que as empresas ligadas à atividade doméstica também devem reportar números fortes devido ao início da reabertura econômica.

O trimestre foi agitado, tendo a desaceleração da pandemia de Covid-19 como fator positivo de um lado, com a ocupação dos leitos dos hospitais e a média móvel diária de mortes caindo, enquanto, do outro lado, os solavancos da política brasileira trouxeram insegurança e instabilidade, especialmente com as denúncias de corrupção contra o governo federal no âmbito da CPI da Covid e a polêmica proposta de reforma tributária encaminhada ao Congresso Nacional.

Commodities

Na visão de Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, as empresas ligadas ao setor de commodities devem “continuar puxando os melhores balanços”, sendo beneficiadas pela alta demanda no exterior e pelo dólar valorizado ante o real.

Na mesma linha, os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP Investimentos, apontam a alta de preço do minério de ferro, especialmente em função da forte demanda na China, como o principal destaque do trimestre. Ferreira e Li recomendam ainda que os investidores acompanhem as teleconferências de empresas do setor para avaliar se existe espaço para mais aumentos de preços no segundo semestre.

A mineradora Vale e a siderúrgica Gerdau merecem atenção especial se tratando de empresas ligadas a commodities metálicas. A JBS se destaca dentre as produtoras de proteínas.

Flávio Conde, especialista em investimentos da Levante, destaca que o mercado de papel e celulose deve apresentar balanços sólidos, principalmente em função do patamar elevado de preço da celulose ao longo do trimestre. O especialista ressalta que a recente queda dos preços da celulose teve início já no mês de julho, e portanto não impacta os resultados do trimestre encerrado em junho, mas pode trazer um balanço mais fraco no terceiro trimestre. Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) merecem atenção.

Conde também cita a Petrobras (PETR3, PETR4) como destaque no setor de petróleo e gás, e diz que a estatal deve bater novo recorde de lucro no segundo trimestre, com alta prevista de 5% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O especialista observa ainda que os bons resultados não se revertem em alta de preços das ações da companhia devido ao receio por parte dos investidores com o risco de intervenção governamental.

Às vésperas das eleições de 2022, investidores temem que o presidente Jair Bolsonaro possa interferir na política de preços da companhia na tentativa de evitar uma nova greve dos caminhoneiros. Pesa também o fato de o mercado não enxergar com bons olhos o principal adversário do atual presidente na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, especialmente após a crise vivida pela estatal durante o governo da sucessora de Lula, Dilma Rousseff.

Bancos

A equipe de research do Banco Inter avalia que os balanços dos bancos devem seguir um “tom uníssono” de bons resultados, especialmente em função da retomada do consumo e do mercado de crédito aquecido. Chama a atenção a expansão das linhas de crédito imobiliário e para compra de veículos destinadas às pessoas físicas, consideradas “linhas de maior qualidade” por possuírem garantias na forma de bens, trazendo mais segurança às operações.

O nível mais elevado de consumo também deve refletir em um melhor desempenho dos serviços prestados pelos bancos, ainda na análise da equipe da Inter Research, que acredita em resultados melhores que os observados no primeiro trimestre.

A retomada da atividade econômica também faz com que os bancos dependam menos de provisões complementares para manter suas operações, e os efeitos das medidas de redução de custos adotadas durante a pandemia visando aumentar a eficiência do setor devem ser sentidos, impactando positivamente os resultados do período.

O destaque do setor deve ser o Bradesco (BBDC3, BBDC4), que recentemente ultrapassou o lucro do rival Itaú Unibanco (ITUB3, ITUB4), e que vem buscando se adaptar às mudanças pelas quais o mercado financeiro vem passando em meio à competição com fintechs.

Varejo

A expectativa em torno dos resultados do varejo é grande, especialmente devido ao fato de boa parte do setor ter sido gravemente afetada pelas medidas de restrição de funcionamento em virtude da pandemia.

Regis Chinchila observa que “será interessante mensurar o movimento de recuperação da economia e também a recorrência na busca pelos canais digitais, melhoria na logística e expansão ou migração das lojas físicas e vendas online”. Tendo isso em mente, o analista aponta que empresas bem posicionadas tanto no varejo físico quanto no e-commerce devem apresentar bons resultados, dando destaque para Magazine Luiza (MGLU3), Via (VVAR3) e Lojas Renner (LREN3). Além disso, se tratando do setor de varejo alimentício, o analista chama a atenção para o Pão de Açúcar (PCAR3).

Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, acredita que o varejo físico deve apresentar sinais de melhora, mas destaca ainda que o e-commerce não exibe sinais de desaceleração com o início da reabertura econômica, citando as recentes aquisições realizadas por grandes empresas do varejo digital como sinal que o setor deve seguir em crescimento.

Esteter avalia ainda que o segmento de shopping centers deve apresentar uma performance moderada, em parte devido a uma redução do tempo médio que os consumidores passam nos shoppings. “O tempo médio que costumava ser de 2 horas caiu para 50 minutos, as receitas obtidas com cobrança de estacionamento caíram, as pessoas que estavam sendo vacinadas no começo do trimestre ainda não eram as que mais frequentam os shoppings, então a confiança do setor deve crescer no decorrer do terceiro trimestre”, complementa.

Construção civil

Flávio Conde, da Levante, avalia que o desempenho da construção civil deve ser fortemente afetado pela alta de preços dos insumos. Segundo o especialista, grande parte dos imóveis que vêm sendo construídos neste ano foram vendidos no ano passado, e precificados conforme os custos para a construção naquele período. Com a alta dos preços de materiais como aço, cimento e cerâmica, a margem de lucro das construtoras e incorporadoras deve sofrer uma redução considerável.

Conde também chama a atenção para o impacto da alta dos juros sobre o futuro do setor, alertando para a possibilidade de queda das vendas em 2022 em função do ciclo de alta da taxa Selic, que tende a tornar os financiamentos imobiliários mais caros.

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