Com agenda doméstica esvaziada e sem novos sinais sobre o rumo da política monetária nos Estados Unidos, o mercado doméstico de câmbio teve um pregão de oscilações mais modestas e de giro reduzido. Após certa volatilidade pela manhã, quando alternou entre leves altas e baixas, o dólar passou a maior parte da tarde em queda, em sintonia com o comportamento frente às divisas pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Na última hora dos negócios, o dólar ganhou força, em meio à piora na Bolsa brasileira, que registrou mínimas, e chegou até a trabalhar em terreno positivo, mas fechou praticamente estável. Operadores afirmam que pode ter havido um movimento de venda de ações por parte de estrangeiros, em dia de mau humor em Nova York.
Com máxima de R$ 5,1276 e mínima de R$ 5,0744, o dólar à vista encerrou o pregão negociado a R$ 5,1154 (+0,01%). Na semana, a moeda americana perdeu 2,36%. Isso fez com que a valorização acumulada do dólar frente ao real em julho caísse para 2,86%.
A apreciação do real ao longo desta semana é atribuída a uma combinação fatores domésticos e externos. Por aqui, houve certo alívio com a repaginação da reforma tributária, após o parecer do deputado Celso Sabino (PSDB-PA), e a diminuição das tensões políticas, a despeito do avanço das investigações na CPI da Covid e certo temor de aumentos de gastos.
Em relatório, a Armor Capital afirma que o novo relatório da reforma tributária “trouxe algum otimismo aos mercados”, embora ainda “demande ajustes”. A realização de ofertas de ações relevantes na Bolsa podem ter “algum impacto positivo sobre o fluxo cambial, em que pese a “baixa participação dos estrangeiros em IPOs neste ano”.
A perspectiva é que o recesso parlamentar e, por tabela, a pausa nos trabalhos da CPI da Covid esfriem um pouco a temperatura política. Por ora, arrefeceram os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro, que segue internado em São Paulo para tratamento de uma obstrução intestinal, e chefes de outros Poderes em torno das eleições de 2022.
Lá fora, apesar de ter admitido certo desconforto com os índices de inflação recentes, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou o discurso de cautela na redução dos estímulos monetários. Isso limitou um pouco o fôlego global do dólar e permitiu certa recuperação das divisas emergentes.
Hoje pela manhã, o dólar chegou a oscilar um pouco mais com a divulgação de indicadores americanos. O resultado do índice preliminar de confiança do consumidor nos EUA em julho surpreendeu com queda para 80,8 (ante 85,5 em junho), abaixo da previsão dos analistas, de 86,3. Já as vendas do varejo americano subiram 0,6% em junho em relação a maio, superando a expectativa, de 0,4%.
Para o operador Cleber Alessie, da corretora Commcor, a despeito de certo incômodo com a inflação, a mensagem principal de Powell foi ‘dovish’, sinalizando uma postura ainda acomodatícia da política monetária. Sem episódios mais fortes de aversão ao risco no exterior, a tendência é que o real se fortaleça, até por causa do processo de elevação da taxa Selic. “O problema é que o risco político prejudica o ‘carry’ e acaba impedindo que essa alta da Selic se reflita no nosso câmbio”, diz Alessie.
Por Antonio Perez
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