Os juros futuros fecharam a quinta-feira, 8, em alta. Nem o IPCA de junho nem a melhora do câmbio à tarde foram capazes de inverter trajetória, definida ainda em meio ao risk off nos mercados internacionais e à turbulência no cenário político. A intervenção do Banco Central (BC) no câmbio acabou pressionando ainda mais a curva, sob a leitura de que o avanço do dólar preocupa a autoridade monetária, alimentando as apostas de elevação da Selic em 1 ponto porcentual. O dia ainda teve a pressão tomadora do leilão do Tesouro, com quantidade e risco um pouco maiores para o mercado do que na operação anterior.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 5,815%, de 5,773% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 7,228% para 7,29%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 8,30% (8,245% ontem) e o DI para janeiro de 2027 em 8,70%, de 8,673% ontem.
O IPCA de 0,53% em junho, abaixo da mediana das estimativas (0,59%) e perto do piso no intervalo entre 0,52% e 0,79%, teve impacto limitado, apenas no começo da sessão e na ponta curta, com os demais trechos contaminados pelo mau humor externo e alta do dólar. Depois que a moeda bateu na máxima de R$ 5,31, o BC chamou um leilão de contratos de swap cambial no valor de US$ 500 milhões, o que aliviou a pressão sobre o real, com o dólar chegando a inverter o sinal positivo. Nos juros, porém, o efeito foi contrário, com as taxas renovando máximas.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença DTVM, explica que nessas intervenções, o mercado acaba fazendo uma relação mecânica com a política monetária. “Ou seja, se demonstrou preocupação com a taxa de câmbio, isso aumentaria a chance de 100 bps no próximo Copom”, disse.
Na curva, a precificação de Selic para o Copom de agosto subiu de 91 pontos-base ontem para 95 pontos hoje. Ou seja, a probabilidade de aperto de 1 ponto cresceu de entre 65% e 70% para 80%, enquanto a de 0,75 ponto caiu de entre 35% e 30% para 20%.
O IPCA de junho não serviu de alívio para as preocupações com o cenário inflacionário na medida em que mais pressões sobre energia e combustíveis para o índice em julho já estão encomendadas pelos reajuste na bandeira 2 vermelha que vigora este mês e anúncios de aumento de gasolina e gás de cozinha pela Petrobras.
Do exterior, a rápida expansão da variante Delta do coronavírus pelo mundo, gerando hoje alertas de autoridades de saúde nos Estados Unidos, continua afetando a percepção sobre o crescimento global. O clima externo de aversão a ativos de risco é potencializado no Brasil pela tensão política, vinda da CPI da Covid, denúncias de corrupção na compra de vacinas e da queda da popularidade do governo e do presidente Jair Bolsonaro, que, na visão do mercado, afetam em cheio a expectativa sobre o andamento das reformas.
Hoje mais uma pesquisa mostrou que a avaliação negativa de governo atingiu o piso desde o início do atual mandato. Segundo pesquisa da XP/Ipespe, desde outubro do ano passado, a proporção de brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo tem crescido mês a mês e chegou a 52% no início de julho. Há nove meses, no menor nível recente, o índice era de 31%.
Por Denise Abarca
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