Nove em cada dez escolas de ensino básico (90,1%) não retomaram as atividades presenciais no ano letivo de 2020 após o início da quarentena contra o novo coronavírus. Isso é o que mostra um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC). O Brasil foi um dos países onde houve fechamento mais longo das salas de aula, o que deve motivar grandes prejuízos socioemocionais e de aprendizagem, segundo especialistas.
O balanço – que contempla creche, pré-escola, ensino fundamental e médio – é o primeiro que o MEC divulga sobre o tema. O governo Jair Bolsonaro foi alvo de críticas durante a pandemia pela falta de apoio a Estados e municípios no planejamento de aulas remotas e da reabertura das escolas. Com isso, alertam educadores, os alunos mais pobres saem mais prejudicados.
É possível identificar a desigualdade de condições. Na rede particular, que teve menos dificuldade de se adaptar ao modelo remoto e também de adotar protocolos sanitários para a reabertura, 70,9% das escolas permaneceram fechadas em 2020. Já na rede pública, o índice foi bem mais elevado: 98,4% nas escolas federais, seguido pelas municipais (97,5%) e estaduais (85,9%). Cerca de 168,7 mil escolas (98% do total) responderam ao questionário, aplicado entre fevereiro e maio de 2021.
Também houve desníveis na capacidade de cumprir o calendário letivo. Entre as públicas, pouco mais da metade (53%) mantiveram o cronograma original. Já entre as particulares, a taxa foi de 70%. Só um terço (32%) das municipais implementou aulas ao vivo (síncronas), como alternativa às classes presenciais. Em 2.142 cidades (38% do total), nenhuma das escolas municipais adotou a medida, o que expõe a dificuldade em implementar estratégias pedagógicas remotas. As prefeituras costumam ser responsáveis pela educação infantil e pelos primeiros anos do fundamental, etapas em que é mais difícil a adoção de aulas a distância.
Entre as escolas estaduais, 43,4% ofereceram equipamentos eletrônicos – como computador, tablet ou smartphone – aos professores. Já nas redes municipais, essa taxa despenca para 19,7%. A dificuldade de acesso a aparelhos ou à internet foi apontada por docentes como um dos obstáculos para garantir o atendimento aos alunos durante os meses mais críticos da pandemia.
Estratégia recomendada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), o retorno às aulas com a realização concomitante de atividades presenciais e não presenciais, o chamado ensino híbrido, foi adotado por apenas 21,9% das escolas privadas. Na rede pública, 4% das escolas recorreram a esse modelo.
A ideia, segundo o Inep, é que o estudo ajude os gestores na tomada de decisões. Educadores apontam a necessidade de programas de recuperação de aprendizagem e acolhimento, sobretudo para os alunos mais vulneráveis. Além disso, 28,1% das escolas públicas planejaram a complementação curricular com a ampliação da jornada escolar no ano letivo de 2021. Na rede privada, 19,5% das escolas optaram por essa alternativa.
Contexto internacional
Além disso, o levantamento destaca que a média no Brasil foi de 279 dias de atividades presenciais suspensas durante o ano letivo de 2020, considerando escolas públicas e privadas. Enquanto isso, dados do monitoramento global, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostram períodos menores de interrupção em outros países.
Chile e Argentina, por exemplo, registraram 199 dias sem atividades presenciais entre 11 de março de 2020 e 2 de fevereiro de 2021. No México, foram 180 dias de paralisação, enquanto o Canadá teve 163 dias de aulas presenciais suspensas. França e Portugal contabilizaram menos de um trimestre sem aulas presenciais, com a suspensão de 43 e 67 dias, respectivamente.
Por Ítalo Lo Re
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