O dólar iniciou julho em alta e voltou a se fixar acima de R$ 5, escorado em dois pilares: o ambiente doméstico conturbado, em meio à deterioração do capital político do presidente Jair Bolsonaro por conta das investigações da CPI da Covid e do superpedido de impeachment, e a alta global da moeda americana, com investidores à espera do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos em junho.
Afora uma leve queda logo no início do dia, quando desceu até a mínima de R$ 4,9477, o dólar à vista operou em alta no restante do pregão, renovando sucessivas máximas ainda pela manhã, embora tenha atingido o maior nível na reta final dos negócios (R$ 5,0513).
A moeda americana encerrou a sessão desta quinta-feira em alta de 1,45%, a R$ 5,0453 – maior nível de fechamento desde 18 de junho (R$ 5,0687).
Já alvejado pelas investigações da CPI da Covid em torno de denúncias de propina e superfaturamento em negociações para compra de vacinas, o governo sofreu novo revés com o superpedido de impeachment protocolado na quarta por figuras políticas de todo o espectro ideológico.
Segundo operadores, o mercado se estressou com a declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de que o pedido de impeachment “não pode ser banalizado”. Teme-se, no mercado, que os partidos do “Centrão” cobrem um “preço mais elevado” para apoiar o governo e que não haja clima para aprovação de reformas. Isso para não falar do risco de medidas populistas por parte do presidente Jair Bolsonaro, em uma antecipação do calendário eleitoral.
Para o head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, a questão política tende a continuar provocando solavancos no mercado de câmbio daqui para a frente. “Daqui a dois a três meses, vai começar a corrida eleitoral, e o mercado teme o discurso populista dos dois principais candidatos”, afirma Netto, que vê grande parte do impacto do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) já embutido no valor do dólar. “Não vejo o dólar indo para baixo. A tendência é oscilar nesse patamar, ao redor de R$ 5, e até de subir mais no médio prazo”, acrescenta o economista, ressaltando que o real já se alinhou ao desempenho das demais moedas emergentes com a alta expressiva dos últimos três meses.
Operadores ressaltam que o mercado segue ressabiado com a proposta de reforma tributária e os riscos de perda de alta da inflação e perda de fôlego do crescimento em razão da crise hídrica. Nem os dados positivos do Caged animaram: saldo líquido de 280,66 mil vagas formais em maio, bem acima da expectativa, de 157,5 mil.
Pela tarde, saiu o resultado da balança comercial em junho: superávit de US$ 10,372 bilhões, o maior saldo mensal de toda a série histórica, iniciada em 1989. No acumulado do ano, a balança acumula superávit de US$ 37,496 bilhões, 68% maior que em igual período do ano passado.
Em post no Twitter, Alfredo Menezes, sócio e gestor da Armor Capital, disse que os exportadores “continuam deixando dólares no exterior, provavelmente porque estão capitalizados”. Para Menezes, com “o risco político e sem o exportador fechar o câmbio”, teria que haver muito investimento estrangeiro direto ou em portfólio “para o real se fortalecer mais”.
O economista Alessandro Fagnello, da Amplla Assessoria de Câmbio, chama atenção para o componente externo por trás da perda de força do real, com o mercado cauteloso à espera da divulgação do payroll na sexta. Dados mais fortes que o esperado no mercado de trabalho americano podem mexer com as expectativas para o início da redução de compra de ativos (‘tapering’) pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano).
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho de dólar em relação a seis moedas fortes – começou o dia em terreno negativo, mas ganhou força também pela manhã e passou a operar em alta, sempre acima dos 92 pontos. O dólar também avançava em relação à maioria das moedas emergentes e de exportadores de commodities, subindo mais de 1% em relação ao peso colombiano e a rand sul-africano.
Por Antonio Perez
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