Política

Carlos Wizard gera incômodo para rede de escolas de idiomas fundada por ele

Investigado pela CPI da Covid, o empresário Carlos Wizard virou um incômodo para os atuais donos da rede de escolas de idiomas da qual ele foi fundador, no final dos anos 1980, e proprietário até a venda em 2013. O negócio foi fechado por R$ 2 bilhões – a maior negociação do tipo na área da educação, no País, até então.

O problema teve início a partir da aproximação do empresário com o governo do presidente Jair Bolsonaro. No início da pandemia, Wizard passou a atuar como conselheiro no Ministério da Saúde. A convite do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o bilionário chegou a ser cotado para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em junho de 2020.

Wizard desistiu de tomar posse após reações negativas a uma declaração sobre um plano de recontar os mortos pela covid-19. Desde então, Wizard virou um dos defensores do chamado “tratamento precoce” e da cloroquina – ineficaz no combate à covid-19 – que orbitam o Palácio do Planalto.

Após se ausentar no depoimento marcado para o último dia 17, o empresário é ouvido na CPI da Covid nesta quarta, 30, mas, protegido por um habeas corpus, tem se mantido calado diante das perguntas.

Durante o “depoimento silencioso” do empresário à comissão, a Wizard by Pearson, divulgou uma nota em que diz ter posicionamento “muito diferente” do ex-dono. “A Wizard by Pearson aproveita a oportunidade para se expressar em favor da vida, da saúde e da ciência. Desde o início da pandemia, orientamos nossos franqueados e colaboradores sobre todas as medidas necessárias para respeitar a legislação e os protocolos sanitários vigentes, sempre buscando garantir a segurança de nossos professores, alunos, colaboradores e parceiros”, informa nota.

O texto ainda lamenta e se solidariza com “as centenas de milhares de vidas que se foram” e “com a dor de todas as famílias que perderam pessoas queridas” durante a pandemia.

Como carrega desde o final da década de 80 o sobrenome que batiza a franquia de escolas de inglês fundada por ele, a Wizard (ou “mago”, em português), a rede tem sido associada às polêmicas de seu ex-dono.

No episódio da recontagem dos óbitos por covid, usuários de redes sociais que não sabiam que Carlos Martins não era mais dono das escolas de idiomas fizeram comentários negativos nas páginas da Wizard.

A partir disso, a Pearson, controladora da rede de escolas de idiomas, pediu à Justiça de São Paulo e obteve decisão favorável para a publicação de uma declaração pública dando conta de que a marca não tem vínculo com o empresário.

A ação de protesto da empresa foi movida na 2ª Vara Cível de Campinas, e solicitava que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo divulgasse a informação em seu Diário Oficial, o que ocorreu em 31 de agosto de 2020.

No texto, o TJSP informa que a Wizard foi adquirida em 2013 pela Pearson, e que, desde então, a empresa “é a única detentora de todos os direitos relacionados à marca e à rede de franquia de escolas de idiomas”.

O texto acrescenta ainda que Carlos Martins não tem “qualquer tipo de vínculo societário ou qualquer tipo de relação atual com a rede” e que a Pearson “não compactua com qualquer pronunciamento emitido por Carlos, especialmente de caráter político”.

Um ano depois de começar a circular pelo Palácio do Planalto, o empresário já não detém o mesmo prestígio que o colocou, em 2014, na lista de pessoas mais ricas da revista Forbes. Na última sexta-feira, 18, ele foi incluído na lista de investigados pela CPI da Covid. Ele é apontado como integrante do “gabinete paralelo”, responsável pelo aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia.

Por Cássia Miranda

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Estadão Conteúdo

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