A agenda de indicadores com menos potência para influenciar os negócios deixa o índice Bovespa operando perto da estabilidade, ora tentando dar continuidade a parte da realização de lucros iniciada ontem, ora testando moderada alta, depois de oito pregões seguidos de valorização, além de uma série de recordes. A preocupação com a inflação interna e mundial reforça esse ambiente incerto na B3.
Temores com a inflação interna ganharam reforço hoje após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O indicador subiu 0,83%, depois de 0,31% em abril, com o acumulado em 12 meses indo a 8,06%. O dado mensal superou todas as estimativas na pesquisa Projeções Broadcast, de 0,65% a 0,76%, com mediana de 0,71%.
“A inflação, principalmente a global, tem sido bastante acompanhada pelos mercados. Porém, na Bolsa, o investidor demonstra um pouco mais de leniência, tem olhado um pouco mais para os dados de atividade, para as revisões para cima nas projeções para o crescimento do PIB”, afirma Eduardo Cubas, sócio da Manchester Investimentos.
Este cenário de expectativas crescentes para a recuperação da economia, segundo Cubas, dá um pouco mais de tempo para as questões fiscais. “Faz com que o País ganhe mais tempo para avançar na aprovação das reformas. Contudo, essa aceleração da inflação é preocupante”, pondera.
Também em maio, a inflação ao produtor (PPI) da China disparou para 9%, superando expectativas e atingindo o maior nível em quase 13 anos, enquanto o CPI teve avanço mais moderado, abaixo do esperado.
Agora, os investidores esperam os dados de inflação dos Estados Unidos, que serão informados amanhã. E, nessa espera, os índices futuros de Nova York têm alta moderada em sua maioria, com apenas o Dow Jones cedendo modestamente, movimento também seguido pelas bolsas europeias.
“O CPI americano de maio é muito aguardado. A divulgação passada gerou muito estresse, pois veio um número muito acima do esperado, e coloca aquele receio sobre a atuação do banco central EUA de diminuição de estímulos, sobre o programa de recompra de ativos, e sobre quando o Fed retomará o processo de alta dos juros”, avalia em nota Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.
Para a LCA Consultores, apesar da expectativa de aceleração da inflação americana no mês passado, no curto prazo, o impacto da divulgação de índices salgados inflacionários sobre os mercados financeiros globais tenderá a seguir limitado pela postura do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A consultoria lembra que o Fed vem atribuindo a alta inflacionária majoritariamente a fatores transitórios.
As commodities, que têm contribuído para esse processo inflacionário, continuam avançando, o que pode aliviar eventual queda do Ibovespa e das ações ligadas ao setor na B3. No porto chinês de Qingdao, o minério de ferro subiu 1,151%, fechando a US$ 212,67 tonelada. A valorização pode dar fôlego aos papéis ligados ao segmento de commodities metálicas, que ainda deve avaliar a notícia sobre a Vale.
Já o petróleo avança na faixa de 0,50% esta manhã no exterior, ampliando ganhos da véspera após o American Petroleum Institute (API) estimar que o volume do petróleo bruto estocado nos EUA sofreu acentuada queda semanal. Petrobrás subia 0,63% (PN) e 0,17% (ON) às 10h49. Já Vale ON tinha alta de 0,74%. O Ibovespa cedia 0,08%, aos 129.682,89 pontos.
Outra possível contribuição positiva pode advir do noticiário corporativo, especialmente as aéreas. A Gol anunciou ontem a aquisição da MAP Transportes Aéreos, aérea doméstica com rotas regionais e do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, por R$ 28 milhões em dinheiro e ações. Os papéis da Gol subiam 4,26%
Já em relação à Azul, a Moody’s complementou informações sobre a emissão de bonds externos da Azul, que devem ser lançados no mercado na quinta-feira. Conforme a agência, a Azul pretende emitir US$ 300 milhões de bonds de cinco anos e US$ 500 milhões em bonds de sete anos. Azul tinha alta de 0,41%.
Em contrapartida as ações da B3 cediam 2,76%, liderando a lista das oito maiores quedas. Após três anos e meio, a fintech Mark 2 Market recebeu autorização da CVM para atuar como central depositária de CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), abrindo caminho para uma abertura do mercado de custódia e liquidação de títulos, hoje um monopólio concentrado na B3, por meio da CETIP (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos), informou O Globo.
Em tempo: no último dia 7, o saldo de estrangeiro na B3 foi positivo em R$ 1,893 bilhão, informam fontes. Com isso, o montante no mês é de entrada de R$ 7,935 bilhões e o do ano avança a R$ 45,358 bilhões.
Por Maria Regina Silva
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