O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), bastante usado para os reajustes de aluguel, fechou o mês de maio com alta de 4,10%, uma forte aceleração em relação ao 1,51% registrado em abril. No ano, o indicador, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) alcançou 14,39%. Em 12 meses, o avanço já chega a 37,04% em 12 meses. Essa taxa é a maior registrada desde o início do Plano Real, superando o acumulado de 32,97% de abril de 2003.
A disparada do índice já motivou até um projeto, do deputado Vinícius Carvalho (Republicanos-SP), que propõe a troca do IGP-M pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) como o teto para os reajustes anuais de contratos residenciais e comerciais. O tema é polêmico e encontra resistência em parte do mercado, que defende a livre negociação entre as partes.
O texto em análise na Câmara dos Deputados prevê que o índice de reajuste nos contratos de locação residencial e comercial não poderá ser superior ao índice oficial de inflação. O IPCA acumulado no ano até abril está em 2,37%, e em 12 meses, 6,76%. Desde o início do ano, lojistas de shoppings centers começaram a negociar a revisão de seus contratos de aluguel na tentativa de trocar o índice de reajuste.
A alta do IGP-M reitera também temores inflacionários e deve provocar elevação na projeção de 5,5% para a taxa Selic no fim de 2021, considerando também as expectativas de crescimento econômico mais forte este ano, afirmou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. Hoje, a Selic está em 3,5% ao ano.
Segundo Perfeito, a inflação tem características típicas de um choque de oferta e o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), um dos componentes do IGP-M, deixa isso claro, com alta de 5,23% no mês e acumulado em 12 meses de “estonteantes” 50,21%.
“Os bancos centrais de todo o mundo enfrentam problemas similares nesta pandemia com a inflação e a maioria deles continua argumentando que esses são choques transitórios e, logo, não faria sentido subir fortemente a taxa de juros agora. Entendemos que essa argumentação faz sentido, mas num país amplamente indexado como o nosso, num índice como IGP-M isso traz preocupações adicionais.”
Perfeito argumenta que a única forma de tentar minimizar os efeitos deletérios da inflação no curto prazo seria controlar o dólar por meio de uma alta mais forte da taxa Selic. Mas ele pondera que o Banco Central não tem meta para o câmbio.
Destaque
Todos os índices que compõem o IGP-M registraram aceleração em maio. A mais significativa ocorreu no IPA, que reflete os preços no atacado, de 1,84% para 5,23%. Já o Índice de Preço ao Consumidor (IPC) avançou de 0,44% para 0,61%, chegando a 7,36% no acumulado em 12 meses até maio. Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) passou de 0,95% para 1,80%, com 14,62% em 12 meses.
O salto do IGP-M de abril para maio “foi tudo culpa” do IPA, com destaque para o minério de ferro (de -1,23% para 20,64%) e outras commodities, mas com repasses visíveis na cadeia, diz o coordenador dos Índices de Preços na FGV, André Braz. Para o economista, a escalada do minério de ferro mostra gordura que deve ser revertida no próximo mês, considerando também medidas contra a especulação na China. Mas ele reforça que há outros movimentos da cadeia que são preocupantes e uma desaceleração mais abrupta, na direção de 1%, talvez só em julho.
Além do minério, Braz também destacou o aumento em matérias-primas brutas (1,28% para 10,15%), da cana de açúcar (3,43% para 18,65%), com alta de 41,22% em 12 meses, e da soja (1,23% para 3,74%), chegando a 76,97% no período de um ano finalizado em maio. “O que impressiona mais, apesar das variações mensais serem expressivas, são as taxas acumuladas de 12 meses que as commodities vêm sustentando e que levam a um repasse na cadeia. Com a demanda começando a aquecer, com expectativas de crescimento da economia indo para 4%, há encaminhamento de pressões.”
Com a avalanche de custos acumulados em 12 meses, Braz afirma que é crescente a chance de impacto na inflação ao consumidor também em 2022. “Dependendo da intensidade que o varejo reagir ao IPA, o movimento da Selic pode ser mais agressivo do que 5,5%. O grande desafio é não perder a guerra para a inflação. Não estou falando de hiperinflação, mas de manter a ancoragem”, diz, ponderando que é preciso também dosar o aumento da Selic para não criar “embaraços” para o crescimento econômico. Ele também sugere medidas para aumentar a competição de setores, como, por exemplo, alterações em impostos de importação.
Por Thaís Barcellos
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