Mercados

Curva de juros tem forte desinclinação, com fiscal, exterior e aposta em Selic

Os juros terminam a sexta-feira com forte descompressão nos trechos médios e longos, derivada de uma semana benigna nas taxas no exterior e de percepção de uma situação fiscal doméstica menos ruim. Esse cenário se somou ainda a uma percepção de ameaça inflacionária local no curto prazo, diante de dado forte do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de maio e da crise hídrica, levando a uma desinclinação substancial da curva. O diferencial entre as taxas de janeiro 2022 e janeiro 2027 cedeu a 340 pontos-base, o menor nível no fechamento desde 18 de março deste ano (328 pontos).

A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 5,001% na quinta-feira a 5,03% nesta sexta-feira. O janeiro 2023 caiu de 6,588% a 6,585%. O janeiro 2025 recuou de 7,895% a 7,79%. E o janeiro 2027 cedeu de 8,524% a 8,43%.

O impulso na ponta mais curta do DI veio do noticiário diário pesado em torno de ameaças inflacionárias, alimentando apostas de um ajuste mais intenso na Selic. Primeiro, pelo risco de a crise hídrica se agravar ainda mais, dada a constatação do governo sobre o alerta de emergência para cinco Estados (São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás), onde se concentram as principais hidrelétricas do País. Depois, pelo salto acima do consenso do mercado para o IGP-M de maio (avanço na margem de 4,10%, acima da mediana esperada de 4,0%).

Vale ressaltar que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na quinta à CNN Brasil, que a autoridade monetária está vigilante quanto à inflação. “Vamos fazer o que for preciso para garantir que o BC atinja sua meta de inflação”, disse.

Os contratos médios e longos, contudo, passaram ao largo desse movimento, estendendo o movimento de baixa visto nas últimas sessões. Há quem aponte que parte da causa é uma curva com excesso de prêmio, acumulado quando da tensão do mercado com a questão orçamentária em março/abril. Mas há também outros fatores, como uma percepção fiscal menos ruim dado o avanço da atividade e um possível adiamento do debate sobre retirada de estímulo nos Estados Unidos.

A próxima semana, aliás, é chave para algumas dessas variáveis. Na terça-feira, o IBGE divulga o PIB do primeiro trimestre e na quarta-feira, a produção industrial de abril, já podendo aqui ter efeitos da segunda onda da covid-19.

Ambos podem dar sinais sobre quais bases a atividade econômica brasileira se assenta e para onde vai de agora adiante no restante do ano. No exterior, o grande destaque é o relatório de emprego (payroll) de maio, após um dado acima da expectativa em março e outro frustrante em abril.

Por Mateus Fagundes

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Estadão Conteúdo

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