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Com reservatórios em crise, setor elétrico faz pente-fino em térmicas

Com o volume escasso de água nos principais reservatórios do País, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu fazer uma varredura em cada usina térmica instalada e em operação, para saber exatamente com o que poderá contar, a fim de afastar riscos de apagão e racionamento de energia.

Na segunda-feira, 24, a diretoria do ONS, que é o órgão responsável por fazer a gestão diária do abastecimento elétrico nacional, disparou um documento a 40 empresas do setor elétrico que possuem usinas térmicas movidas a gás, óleo diesel, biomassa e carvão. Na lista estão empresas como Petrobras, Engie e Neoenergia, além das estatais do Grupo Eletrobras.

No documento, ao qual a reportagem teve acesso, o ONS pede que, até a próxima segunda-feira, dia 31, cada empresa informe detalhadamente, quais são as usinas térmicas que cada empresa possui, com detalhamento semanal ou diário de seus cronogramas de manutenção e operação previstos até dezembro de 2021.

“Considerando o final do período chuvoso nas principais bacias integrantes do SIN (Sistema Interligado Nacional) e os baixos níveis de armazenamento alcançados nos principais reservatórios de regularização, torna-se imprescindível a maximização da disponibilidade de geração térmica para garantir o atendimento eletroenergético”, afirma a diretoria do ONS, no documento.

No último período chuvoso, iniciado no fim de novembro e encerrado em abril, as águas podem ter caído em bom volume sobre muitos centros urbanos, mas não é isso o que se viu nas principais cabeceiras de rios do País. Se há ocorrência de água abundante nessas áreas, todo o sistema hidrelétrico passa a ser irrigado. Quando as chuvas nessas localidades não ocorrem, porém, as usinas rio abaixo ficam prejudicadas.

No documento enviado às empresas, o ONS alerta que, considerando o potencial de geração de energia hidrelétrica acumulado entre setembro de 2020 e maio deste ano, esta “configurou-se como a pior condição hidrológica” de todo o histórico de vazões em 91 anos de medição (1931/2021).

Segurança energética

A necessidade de o País recorrer às suas usinas térmicas para garantir o abastecimento elétrico deve-se à possibilidade de garantir um volume específico de geração, diferentemente do que acontece com as demais fontes do País.

Usinas hidrelétricas, eólicas e solares dependem, fundamentalmente, de condições naturais para gerar energia. Se não há água, vento e sol, não tem geração.

Acrescenta-se a isso o fato de que a energia deve ser consumida no momento em que é gerada, ou seja, não pode ser armazenada para ser usada em outro momento. Com as térmicas, porém, é possível gerenciar o volume e o tempo de produção. O preço dessa energia, no entanto, é bem mais caro que as demais, além de serem mais poluentes.

O Brasil conta hoje com 3.180 usinas térmicas em operação, que respondem por 25% de toda a potência instalada de geração de energia do País. Diariamente, o ONS define o que deve ser acionado e aquilo que não será utilizado. Atualmente, a ordem é colocar as térmicas a plena carga e é isso o que tem ocorrido.

Na quinta-feira, 27, por exemplo, 21% de toda a energia consumida no Brasil foi gerada por usinas térmicas, cujo funcionamento básico se baseia no aquecimento de água e produção de vapor, um processo que impulsiona a turbina e gera energia.

Nesta sexta-feira, 28, conforme anteciparam o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o governo publicou um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Todas as unidades da federação atingidas estão na bacia do Rio Paraná, polo de produção agropecuária e de grandes hidrelétricas. Na região a situação é classificada como “severa” e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período. É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos do País.

Por André Borges

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Estadão Conteúdo

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