O noticiário doméstico foi positivo nesta terça-feira, sendo marcado pela aprovação da reforma administrativa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, mas a cautela externa teve peso maior no mercado de câmbio e o dólar acabou zerando a queda nos negócios da tarde, passando a subir, em dia de cautela no exterior, por conta de indicadores mais fracos que o previsto nos Estados Unidos – de venda de moradias e confiança do consumidor – e nova rodada de declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), reforçando a visão de inflação transitória e manutenção dos estímulos monetários.
No fechamento, após cair na mínima do dia a R$ 5,29, o dólar à vista acabou encerrando mais perto das máximas, cotado em R$ 5,3371, em alta de 0,23%. No mercado futuro, o dólar para junho, que vence na próxima segunda-feira, subia 0,32% às 17h40, em R$ 5,3390.
Uma medida da dificuldade em analisar as tendências para a inflação norte-americana foi passada nesta terça pelo vice-presidente do Federal Reserve, Richard Clarida, ao afirmar que os indicadores estão “especialmente confusos” no momento. Ele manteve a visão de inflação “transitória”, mas ressaltou que, se a pressão nos preços se provarem mais persistentes, o Fed terá “ferramentas para contê-la”.
Para o sócio da gestora SPX, Leonardo Linhares, os próximos três a seis meses devem ser marcados por informações insuficientes para se ter maior clareza sobre a inflação nos EUA. “A grande dúvida é se a inflação será permanente ou provisória”, disse ele no período da tarde, em evento do BTG Pactual. Em sua visão, apesar de o Fed ter enfatizado que é provisória, parte desta alta deve ser mais permanente.
O diretor de investimentos (CIO) Truxt, Bruno Garcia, alerta que os países emergentes com dificuldades fiscais, como o Brasil e África do Sul, podem encontrar um cenário mais difícil pela frente quando o Fed começar a discutir a retirada dos estímulos e a liquidez da economia se reduzir. Para Garcia, a sinalização pode ser no evento de Jackson Hole, em agosto, que é organizado pelo próprio Fed.
“Países como o Brasil, com a situação fiscal um pouco mais complicada, podem se atrapalhar um pouquinho”, disse ele, destacando que a China também está reduzindo estímulos. Assim, o Brasil deve entrar no segundo semestre com a economia melhor, mas com o mundo desenvolvido discutindo retirada de estímulos.
O DXY, índice que mede o comportamento do dólar ante divisas fortes, caiu nesta terça, testando as mínimas desde janeiro em meio às declarações sobre inflação dos dirigentes do Fed, destaca o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo. Mas ante moedas emergentes, o dólar mostrou mais força, subindo no México, Chile, Colômbia e Turquia.
No noticiário doméstico, além do avanço da reforma administrativa na Câmara, o dia foi marcado por declarações reformistas do presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), e também do dirigente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ambos no evento do BTG. Lira defendeu o avanço de uma reforma tributária “possível” neste momento e falou em avançar na semana que vem a reforma da renda. “Me deu um ânimo ver o presidente Lira falando da agenda de reformas, que são importantes para o País”, comentou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A consultoria inglesa TS Lombard também ressalta que tem havido no país uma melhora recente na perspectiva das reformas e da atividade econômica, ajudando o real e a ter melhor desempenho que seus pares. “A janela para passar estas reformas está agora aberta”, ressaltam os analistas, prevendo o avanço de medidas importantes nos próximos meses.
Por Altamiro Silva Junior
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