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Em busca de rentabilidade de 2 dígitos, Mercedes quer consertar negócio no País

Dona da Mercedes-Benz, a Daimler Truck almeja ser, até 2025, um grupo automotivo onde a margem de rentabilidade é medida na casa dos dois dígitos. Usando palavras da própria direção da empresa, “consertar” o negócio no Brasil – onde, a exemplo da Europa, o histórico de inconsistência financeira precisa ser “significativamente melhorado” – estará no centro desse objetivo.

Nesta quinta-feira (20), durante apresentação a investidores e analistas de seus planos financeiros e de transição tecnológica nos próximos anos, a Daimler apontou os prejuízos no Brasil entre os desafios na busca por melhores resultados financeiros.

O diagnóstico é o de que a operação da Mercedes-Benz no País vem sofrendo por conta de seu próprio desempenho, mas também em razão de variáveis externas, como a forte depreciação do real – um grande problema já que há alta dependência de peças importadas nas fábricas brasileiras – e a instabilidade política.

O remédio, conforme mostrou nesta quinta a direção da montadora, tem sido implementar um programa de reestruturação cuja meta é reduzir a exposição cambial, a partir da maior localização de peças e aumento das exportações, cortar de forma rigorosa os custos fixos e diminuir em 10% o quadro de funcionários de áreas administrativas.

“Obviamente, não podemos mudar volatilidades externas, mas podemos construir um modelo de negócio mais robusto e resiliente”, comentou Karin Rådström, presidente mundial da marca Mercedes-Benz, posto que ocupa junto com a chefia das operações na Europa e na América Latina.

Ao compartilhar durante a apresentação as conclusões que chegou em 100 dias na liderança global da região, Karin classificou o Brasil, onde a Mercedes está presente desde a década de 1950, como um mercado “chave”, manifestando também confiança no País no longo prazo.

Contudo, ainda que tenha ganhado participação num mercado em declínio, ela ressaltou que a montadora de caminhões não tem sido capaz de melhorar, no mesmo ritmo, a sua rentabilidade no País.

Além de medidas que visam a diminuir a sensibilidade do negócio a variações no câmbio, a Mercedes, frisou a CEO, está renovando o portfólio com produtos compatíveis às necessidades dos transportadores brasileiros. Revisar o desempenho da rede de concessionárias e dar maior foco a novas fontes de receita com prestação de serviço também são frentes nas quais a montadora vem trabalhando. No Brasil, suas fábricas estão em São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG).

Observações duras também foram colocadas de forma explicita aos investidores em relação à operação do grupo na Europa. A perda da Mercedes-Benz tanto de mercado quanto de rentabilidade foi classificada por sua administração como “inaceitável” para uma marca que antes era referência no Velho Continente.

Na avaliação de Karin, ao mesmo tempo em que perdeu participação de mercado, os resultados financeiros da montadora na Europa foram para a “direção errada”. Sua conclusão é que a Mercedes perdeu conexão com os consumidores europeus, oferecendo a eles caminhões de perfeição tecnológica, mas muitas vezes sem observar as suas reais demandas. A montadora, salientou a CEO da Mercedes, não tem conseguido gerar, assim, receita em ritmo suficiente para diluir os crescentes custos de produção.

Até 2025, e tendo como referência o ano de 2019 – o padrão, portanto, de antes da pandemia -, a Daimler Truck vai reduzir investimentos e custos fixos em 15%. O corte de despesas inclui o enxugamento de 300 milhões de euros, até 2022, na folha salarial da Mercedes-Benz.

Já em relação à alocação de capital, a intenção é conduzir uma estratégia mais inteligente, com investimentos concentrados nos mercados e segmentos mais rentáveis, caso dos caminhões da linha pesada. Os recursos também serão direcionados em maior fluxo às tecnologias de propulsão elétrica.

Se tudo sair como espera o grupo – e caso, até lá, haja um ambiente de mercado favorável -, a Daimler chegará a 2025 com retorno, em relação ao total vendido no mundo, superior a 10%. Em anos típicos, o grupo fatura mais de 40 bilhões de euros com a venda de aproximadamente 500 mil caminhões e ônibus.

O Brasil é o maior mercado do mundo dos caminhões da marca Mercedes-Benz. No ano passado, quase 27 mil unidades foram vendidas pela montadora no País.

Por Eduardo Laguna

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Estadão Conteúdo

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