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O produtor de grãos Endrigo Dalcin, de Nova Xavantina (MT), planeja comprar sua quinta plantadeira para acelerar o cultivo da próxima safra de soja, no início de outubro. Mas não tem sido fácil colocar a ideia em prática. Desde março, ele negocia com três fabricantes, que deram prazo de até oito meses para a entrega da máquina – ou seja, ela só chegaria depois de iniciado o plantio. “Eu queria uma máquina com bastante tecnologia embarcada. Com ela, certamente eu plantaria dentro da janela ideal”, diz Dalcin. Com a dificuldade, o produtor já pensa em desistir da compra.
O caso de Dalcin não é isolado. O agronegócio vive um momento de forte expansão, com os preços de commodities agrícolas em alta no mercado internacional por causa, principalmente, do crescimento da demanda chinesa. Os produtores querem aproveitar esse momento para ampliar ou modernizar seu maquinário, o que melhoraria a produtividade. Mas os fabricantes, às voltas com dificuldades no fornecimento de peças e até de aço, têm esticado cada vez mais os prazos de entrega. Em resumo: há uma longa fila de espera por máquinas agrícolas.
O vice-presidente sênior da AGCO Corporation e chefe global da fabricante de máquinas agrícolas Massey Ferguson, Luis Felli, conta que está com sua linha de produção praticamente tomada até outubro. “Eu posso aumentar a minha capacidade, mas preciso de peças. Todos os fabricantes de máquinas agrícolas estão desafiados, com fila para entregar”, diz.
Já o diretor da New Holland Agriculture para o mercado brasileiro, Eduardo Kerbauy, diz que ainda tem tratores de algumas linhas, pulverizadores e plantadeiras para pronta-entrega. Mas, de modo geral, há atraso. “Há produtos que tinham disponibilidade imediata e, hoje, demoram dois meses; e os que levavam dois meses para serem entregues, agora levam quatro. Quanto mais personalizada a máquina, mais o concessionário vai pedir para esperar”, diz.
No mercado em geral, o prazo médio para a entrega de máquinas agrícolas está em 12 semanas (ou cerca de três meses), de acordo com a Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq (CSMIA). É o maior período da série histórica desse indicador. “No ano passado, nesta mesma época, esse prazo era de sete semanas”, afirma Pedro Estevão Bastos, presidente da CSMIA. Ainda assim, as indústrias falam em vendas até 20% superiores neste ano em relação a 2020.
Preços em alta
As fabricantes de equipamentos, ao mesmo tempo em que veem a demanda aumentar, encaram uma menor oferta nacional de aço desde o ano passado, quando siderúrgicas desligaram temporariamente alguns fornos prevendo uma demanda menos aquecida nos meses seguintes da pandemia, o que não se confirmou no setor agropecuário. “Hoje, falta não apenas chapa de aço e tubo redondo, como também mola, eixo, amortecedor, engrenagem, roda, porca, tudo o que vai ferro”, diz Bastos, da Abimaq. “Isso desorganiza toda a cadeia de máquinas.”
O que se reflete também nos preços. Segundo Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Interligência em Agronegócio, os preços das máquinas tiveram alta entre 40% e 50%, dependendo do produto. Um dos fatores que têm levado os valores para cima é exatamente a alta do preço do aço, que desde o ano passado praticamente dobrou.
Segundo Cogo, a falta de peças é generalizada e há casos de clientes que tentaram importar pneus dos EUA, sem sucesso. “Mesmo quem tem os recursos para pagar a máquina à vista, não consegue. Não tem máquina. Isso vai afetar o desempenho do setor, e vai acabar redundando em prejuízo.”
Fabricantes falam em aumento de até 40% na venda de equipamentos
A despeito das dificuldades com a falta de equipamentos para pronta-entrega e aumentos de preços, o crescimento do mercado de máquinas e equipamentos tem sido exponencial neste ano. O vice-presidente sênior da AGCO Corporation e chefe global da Massey Ferguson, Luis Felli, estima que no primeiro trimestre deste ano as vendas de tratores do setor tenham sido 20% maiores do que em igual período de 2020; as de colheitadeiras, 70%. O diretor de marketing da John Deere para América Latina, Cristiano Correia, fala em aumento de 35% a 40% das vendas do mercado como um todo.
A Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq (CSMIA), que reúne mais de 400 fabricantes de maquinário para agricultura, pecuária e armazenagem, contabilizou em 2020 um aumento real (já descontada a inflação do período) de 17,6% no faturamento, que atingiu R$ 22,2 bilhões. Desde então, mesmo com um volume considerado reduzido de crédito oficial no mercado, as vendas não pararam de crescer: no primeiro trimestre deste ano, as receitas subiram 63% sobre igual período de 2020.
“Estamos com uma demanda muito alta. Está chegando com atraso, mas está chegando”, diz Pedro Estevão Bastos, presidente da câmara. Segundo ele, não há perspectiva, neste momento, de queda de demanda. “Produtores costumam comprar mais máquinas entre abril e julho, para receber em setembro, quando começa o plantio (da soja). Nossa expectativa é de um aumento de 20% nas vendas neste ano.”
Ao tratar de atrasos na entrega de equipamentos enfrentados pelos produtores, o coordenador do mestrado profissional em agronegócio da FGV EESP, Felippe Serigati, fala em disrupção da cadeia produtiva, em um momento positivo para o setor agrícola – os preços em reais da soja e do milho, por exemplo, mais do que dobraram nos últimos doze meses -, além da própria taxa de câmbio muito favorável ao exportador .”A demanda está maior do que é em condições normais em todo o mundo. Apolíticafiscal expansionista em diversos países( por causada pandemia) gerou um fôlego financeiro e ainda mais demanda”, diz.
Mais recorde. Na safra 2020/21, que termina em junho, o Brasil deve colher uma produção recorde de 135,5 milhões de toneladas de soja, 8,6% a mais do que no ciclo anterior. De milho, a estimativa é de 108,9 milhões de toneladas, com um crescimento de 6,2% na comparação com a safra 2019/20, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de abril.
A safra de soja terminou de ser colhida em abril, e a segunda safra do milho será retirada do campo a partir de junho. Para a próxima temporada, 2021/22, a consultoria Agroconsult estima uma expansão de 4% da área plantada com soja, para cerca de 40 milhões de hectares, e de 5% para a segunda safra de milho (a mais volumosa), chegando a 15 milhões de hectares.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Clarice Couto e Fernanda Guimarães
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